Tesouro direto: juros aprofundam queda, com prefixados a 11,67%; regra fiscal e IPCA são prioridade

Tesouro IPCA+ 2045 oferecia retorno de 6,25%, abaixo dos 6,28% desta segunda-feira

Neide Martingo

(Pixabay)
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Os indícios de que a inflação oficial do país está perdendo força deixam o mercado animado nesta terça-feira (11). O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)  desacelerou para 0,71% em março, após subir 0,84% em fevereiro, e soma agora seis meses seguidos de alta, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nos últimos 12 meses, o indicador acumula alta de 4,65%. No ano, a inflação acumula evolução de 2,09%. Os dados divulgados hoje ficaram abaixo do consenso Refinitiv, que previa inflação de 0,77% no mês e de 4,70% na comparação anual.

Outro destaque: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, embarcam para a China. A viagem tem como objetivo tratar de relações comerciais e do cenário político global. Com relação ao arcabouço fiscal, Haddad disse ser “provável” que a proposta seguirá para o Congresso até sexta-feira (14) junto da PLDO, que precisa ser apresentada até sábado (15).

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Na cena internacional, a expectativa é com relação à inflação dos Estados Unidos, que deve ser anunciada nesta quarta-feira (12). O mercado espera um novo aumento de juros – mas isso depende dos números que serão conhecid0s amanhã.

No Tesouro Direto, às 15h18, os juros dos títulos públicos aprofundavam a queda vista desde manhã.  O Tesouro IPCA+ 2045 oferecia retorno de 6,25%, abaixo dos 6,28% desta segunda-feira.

O Tesouro Prefixado 2026, que apresenta o piso das taxas entre os papéis prefixados, tinha retorno de 11,67% ao ano, bem abaixo dos 11,92% de ontem, diferença de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual). Já o Tesouro Prefixado 2033 oferecia remuneração de 12,47% ao ano, menor do que os 12,63% da sessão anterior.

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Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta terça-feira (11): 

Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Arcabouço fiscal

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, nesta segunda-feira (10), que as decisões políticas sobre o novo arcabouço fiscal já estão tomadas e que o momento é de trabalho “técnico” para aperfeiçoamento da redação. Ele afirmou ainda que, em relação ao que divulgou sobre a proposta na semana retrasada, não houve alterações internas pelo governo. “Não tem nenhuma alteração em relação ao que foi dito naquele dia”, disse Haddad.

As linhas gerais da regra proposta pelo governo para substituir o atual teto de gastos foram apresentadas no dia 30 por Haddad, mas o texto final, com ajustes, ainda não é público. O arcabouço prevê zerar o déficit primário no ano que vem, gerar superávit de 0,5% do PIB em 2025 e saldo nas contas públicas de 1% em 2026, com tolerância de 0,25 ponto porcentual para cima e para baixo.

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O líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou nesta segunda-feira que existe a possibilidade de o projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal ser entregue até o fim da semana na Câmara dos Deputados, mesmo com as ausências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que estarão na China.

“Eles estão concluindo as vírgulas finais, os ajustes pequenos e [o projeto] está sendo colocado no papel. Eu acho que vem nesta semana”, disse o líder do governo em entrevista coletiva.

Guimarães comentou sobre as próximas etapas de tramitação da proposta e disse que espera ser possível votá-la na Câmara em um mês. “Define-se o relator, é um projeto de lei complementar com urgência constitucional. Então, é tocar a vida e votar o quanto antes. Eu acho que dá para votar em um mês na Câmara”, avaliou.

Guimarães destacou ainda que o governo está “pavimentando” a consolidação de uma base de apoio na Câmara e negou que a eventual criação de novos blocos parlamentares possa interferir no processo de aprovação do novo marco fiscal.

“A prioridade é consolidar a votação das novas metas fiscais. E a formação de blocos não necessariamente interfere nessa questão, porque as metas fiscais interessam ao País e tem gente da oposição que vai votar a favor”.

O líder do governo, no entanto, não quis adiantar com quantos votos será possível contar.  “Vocês só vão saber o tamanho da base pelo painel. Espera o painel”, disse.

Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enviou comunicado ao FMI, que se reunirá esta semana em Washington (Fernando Haddad, no entanto, estará na China acompanhando o presidente Lula). Ele disse ainda que o governo está comprometido com a sustentabilidade fiscal e da dívida dentro de uma estrutura baseada em regras confiáveis. No documento, Haddad relatou que o objetivo primordial “é trazer os pobres para o orçamento e os ricos para o sistema tributário”. Sobre a reforma tributária, o ministro comentou que ela “inclui uma revisão abrangente das despesas fiscais para abordar características perversas e regressivas de nosso regime tributário e combater a captura do Estado”.

No documento ao FMI, Haddad ressaltou que a política monetária restritiva começou a reduzir a inflação. “O Brasil foi a primeira grande economia a começar a apertar a política monetária no início de 2021, quando ficou claro que as pressões da inflação eram amplas e persistentes. Depois de atingir um pico acima de 12% no início de 2022, a taxa de inflação caiu pela metade e é comparativamente menor do que na maioria das economias avançadas. Entretanto, o crédito contraiu e a atividade económica continua a abrandar, com o mercado de trabalho mostrando sinais de moderação, exigindo estruturas mais fortes e soluções de reguladores e supervisores do setor financeiro”, comentou na nota Fernando Haddad.

100 dias

Ao comentar os primeiros 100 dias do governo Lula, Guimarães ressaltou a aprovação da PEC da Transição, ainda no ano passado. “Sem ela nós não estaríamos comemorando 100 dias. Nós aprovamos uma PEC sem nem estarmos no governo, por isso que eu valorizo essa relação aqui na Câmara”, disse.

Ele negou que o governo não tenha conseguido votar nada. “Não tinha nada para votar do interesse do governo por enquanto. O que tinha, nós votamos”, disse ele, referindo-se a medidas provisórias editadas no governo passado.

Por fim, Guimarães atribui eventuais atrasos na análise de medidas provisórias à “crise” entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. “Não tem pauta trancada. O que teve de dificuldade aqui não foi criada pelo governo, foi a crise entre os dois presidentes.”

IPCA

O IPCA desacelerou para 0,71% em março, abaixo do esperado. A inflação, em 12 meses, ficou em 4,65%. O grupo Transportes foi o destaque no índice de março, sendo responsável pelo maior impacto (0,43 ponto porcentual) e maior variação (2,11%).

Em seguida vieram Saúde e cuidados pessoais (0,82%) e Habitação (0,57%), que desaceleraram em relação a fevereiro, contribuindo com 0,11 p.p. e 0,09 p.p., respectivamente.

Por outro lado, Artigos de residência (-0,27%), que teve alta de 0,11% em fevereiro, foi o único grupo pesquisado a registrar queda este mês. Os demais ficaram entre o 0,05% de Alimentação e bebidas e o 0,50% de Comunicação.

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Segundo André Almeida, analista da pesquisa, a gasolina teve variação de 8,33% no mês e foi o subitem com maior impacto individual no índice de março (0,39 p.p.), trazendo grande peso na alta verificada em Transportes. O etanol (3,20%) também subiu.

“Os resultados da gasolina e do etanol foram influenciados principalmente pelo retorno da cobrança de impostos federais no início do mês, estabelecido pela MP 1157/2023. Havia, portanto, a previsão do retorno da cobrança de PIS/Cofins sobre esses combustíveis a partir de 1º de março”, explicou.

Enquanto isso, o gás veicular (-2,61%) e o óleo diesel (-3,71%) continuaram em queda em março.

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As passagens aéreas, que haviam recuado 9,38% em fevereiro, caíram 5,32% desta vez. Reajustes em tarifas de táxi em Belo Horizonte, em ônibus intermunicipal na região metropolitana do Rio de Janeiro, além de ônibus urbano em quatro áreas de abrangência do índice, também influenciaram em Transportes.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, afirmou que, “além da surpresa no índice geral, vale destacar melhoras substanciais nas medidas de inflação subjacente, especialmente serviços e núcleos. “Apesar da surpresa positiva, ainda não é possível acreditar que um mês é capaz de mudar a postura do Copom. Para que cortes de juros apareçam mais cedo do que o esperado, acreditamos que o BC tenha que ver um processo de alívio mais consistente da inflação. Um mês apenas não deve ser capaz de garantir a consolidação da desinflação”. O economista segue projetando a Selic a 13% ao final do ano.

Campos Neto no Senado

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi convidado a comparecer à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado no próximo dia 25, às 9 horas. Ele deverá ser questionado sobre as taxas de juros do País, em 13,75% ao ano, que são as maiores em termos reais – descontada a inflação – do mundo. Campos Neto tem sido alvo de críticas de várias alas do governo por causa da Selic, inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou ao tema hoje.

Havia a previsão de que Campos Neto fosse até a CAE na semana passada, mas a data foi desmarcada por causa do Feriado de Páscoa. Em evento realizado na última quarta, 5, ele já tinha sinalizado que deveria ser chamado para essa data, que foi oficializada pela comissão nesta segunda-feira, 10.

Fed

O presidente do Federal Reserve de Nova York, John Williams, entende que um novo aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros nos Estados Unidos é crível: “esse é um ponto de partida razoável. Quero dizer, essa é a mediana que vimos de meus colegas; novamente, temos que nos guiar pelos dados. Devo dizer que uma coisa à qual estamos prestando atenção são as condições de crédito, mas também vemos sinais dessa inflação subjacente caindo?”, questionou hoje. Williams ainda afirmou que “o sistema bancário realmente se estabilizou depois do recente estresse”.

O presidente do Federal Reserve de Chicago, Austan Goolsbee, disse que o banco central deve ser cauteloso ao aumentar as taxas de juros diante do recente estresse bancário: “em momentos como este de estresse financeiro, a abordagem monetária adequada requer prudência e paciência, para avaliar o impacto potencial do estresse financeiro na economia real”. Além disso, o crescimento do emprego tem sido “notável”, segundo ele. Com base apenas nesses dados, acrescentou Goolsbee, um aperto mais agressivo da política monetária pode ser visto como garantido. As informações são da Reuters.

Inflação China

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) da China avançou 0,7% em março em relação ao ano anterior, informou nesta terça-feira (11) o Departamento Nacional de Estatísticas do país. Na comparação com fevereiro, os preços caíram 0,3%. O consenso Refinitiv esperava inflação estável (0,0%) na comparação mensal e alta de 1,0% na anual.

Para Dong Lijuan, estatístico do departamento, a inflação moderada pode ser atribuída em grande parte à ampla oferta no mercado consumidor, já que a produção e o consumo continuaram a se recuperar em março.

Os preços dos alimentos caíram 1,4% mês a mês, diminuindo a inflação mensal ao consumidor em cerca de 0,27 ponto porcentual, de acordo com os dados oficiais. Especificamente, a oferta suficiente de vegetais e de carne de porco, um item básico na China, desempenhou um papel importante na redução do nível geral de preços.

Já a inflação ao produtor na China caiu 2,5% em março, ante mesmo mês de 2022, dentro do esperado. O PPI ficou estável na comparação mensal; mesmo com demanda aquecida no mês, base de comparação alta motivou a deflação.

Janet Yellen

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse que continua atenta aos riscos negativos enfrentados pela economia global, dadas as consequências econômicas da guerra da Rússia contra a Ucrânia e as recentes pressões sobre os sistemas bancários nos Estados Unidos e em outros lugares. Em comentários preparados para coletiva de imprensa, Yellen disse que a economia global está em um lugar melhor do que o projetado anteriormente, com os preços de energia e alimentos se estabilizando e as pressões da cadeia de suprimentos continuando a diminuir. Um teto para o preço do petróleo russo está ajudando a estabilizar os mercados globais de energia, ao mesmo tempo em que reduz a principal fonte de receita da Rússia, acrescentou. (Reuters)

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney