Emissão de debêntures diminui no trimestre; confira as preferidas pelos fundos de investimento

Embora tenha recuado mais de 30%, volume foi o terceiro melhor da série histórica para um primeiro trimestre

Neide Martingo

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As altas taxas de juros estimulam os investimentos em ativos de renda fixa, mas podem acabar desmotivando a emissão desses papéis pelas empresas, em busca de recursos para financiar projetos.

A oferta de novas debêntures no mercado totalizou R$ 36,6 bilhões no primeiro trimestre. O valor é 34,5% menor do que o verificado no mesmo período de 2022.

Mesmo caindo, o terceiro maior da série histórica da Anbima (iniciada em 2012) para um primeiro trimestre. As empresas do setor de energia elétrica lideraram as emissões de debêntures no período, com R$ 15 bilhões.

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“O primeiro trimestre deste ano foi marcado por muita volatilidade e alta dos juros, o que se refletiu em um menor movimento do mercado de capitais em geral, na renda fixa e, principalmente, na renda variável”, afirma José Eduardo Laloni, vice-presidente da Anbima.

Outros instrumentos também tiveram desempenho menos promissor entre janeiro e março. As ofertas de CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) se mantiveram estáveis em relação ao primeiro trimestre de 2022. Já entre os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) e as notas comerciais, houve quedas de 21,1% (para R$ 5,4 bilhões) e de 65,5% (para R$ 3,3 bilhões), respectivamente.

CRIs e CRAs são isentos de Imposto de Renda, assim como as debêntures incentivadas, que servem para captar recursos para projetos específicos, voltados ao desenvolvimento da infraestrutura do País. Foram regulamentadas pela lei 12.431, de 2011, e também são chamadas de debêntures de infraestrutura. Entre os setores prioritários para emissão estão logística, transporte, saneamento básico e energia.

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Após oito meses sem operações de renda fixa de empresas brasileiras no mercado externo, uma oferta de bond foi realizada no primeiro trimestre de 2023, movimentando US$ 1 bilhão.

Vale a pena ter debêntures na carteira?

Debêntures são títulos de crédito emitidos por empresas e negociados no mercado de capitais. Em alguns aspectos, seu funcionamento lembra o dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto. Só que, em vez de financiar o governo, quem compra debêntures empresta dinheiro para uma empresa construir uma nova fábrica, expandir as operações no exterior ou fazer qualquer outro grande investimento.

Para o investidor, optar por debêntures significa diversificar a carteira, mesmo se a intenção for se manter dentro do espectro da renda fixa. Empresas de diferentes portes, setores e com objetivos distintos emitem esses papéis, o que abre um leque amplo de oportunidades para o investidor.

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Já entre as desvantagens das debêntures está o fato de que algumas podem ter um prazo muito longo de vencimento – e até lá, não é possível resgatar o dinheiro aplicado. Se precisar dos recursos, o investidor terá de recorrer ao mercado secundário em busca de alguém interessado em comprar seus papéis.

Muitas debêntures são negociadas na B3, o que pode facilitar a tarefa. Mas não é raro que a liquidez dos papéis (a facilidade de vendê-los no pregão) seja restrita.

Outro porém é que algumas debêntures podem prever na escritura da emissão a possibilidade de repactuar as condições oferecidas. Se os juros praticados no mercado, por exemplo, estiverem muito diferentes dos que remuneram as debêntures, isso pode ser ajustado por meio de uma repactuação.

Quando isso acontece, a empresa emissora é obrigada a recomprar os títulos dos debenturistas que não aceitarem as novas condições. Mas se o investidor tiver feito planos considerando as características descritas na escritura de emissão, suas expectativas podem acabar sendo frustradas.

As debêntures “queridinhas” dos fundos de investimento

Uma forma de investir em debêntures sem comprá-las diretamente no mercado é por meio de fundos. Um relatório da plataforma Quantum Finance, elaborado para o InfoMoney, mostra quais são as favoritas dos gestores.

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Papéis da Claro (BCPSA1), que ofereciam uma taxa de emissão equivalente ao CDI (referência para investimentos de renda fixa) mais 1,4% ao ano, concentram o maior volume nas carteiras: R$ 4,3 bilhões. Os ativos estão presentes em 35 fundos.

Logo atrás vêm as debêntures da B3 (BSA316), com rentabilidade na emissão de CDI mais 1,3% ao ano, somando um montante de R$ 3,1 bilhões nas carteiras de 226 fundos.

As debêntures da NCF Participações (NCFP14), uma das holdings controladoras do Bradesco, que ofereciam CDI mais 1,5% na emissão, estão em terceiro lugar no levantamento da Quantum, com R$ 2,9 bilhões. Um total de 325 fundos possui os papéis.

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O estudo considerou todos os fundos que têm debêntures, totalizando um universo de 1.402 carteiras regidas pela instrução 555 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Foi tomada como base a competência de dezembro de 2022. Isso porque estas são as carteiras mais recentes totalmente abertas para análise no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Confira o ranking das 20 debêntures preferidas dos fundos de investimento, elaborado pela Quantum:

Ticker  Emissor Vencimento Taxa na emissão Volume detido pelos fundos Nº de fundos que possuem a debênture
BCPSA1 Claro 28/03/2024 DI + 1,4% R$ 4,3 bilhões 35
BSA316 B3 05/08/2027 DI + 1,3% R$ 3,1 bilhões 226
NCFP14 NCF Participações 23/12/2023 DI + 1,5% R$ 2,9 bilhões
CIEL16 Cielo 20/09/2025 DI + 1,2% R$ 2,9 bilhões 195
ITSA15 Itausa 08/08/2025 DI + 1,12% R$ 2,5 bilhões 100
ELET22 Eletrobras 25/04/2024 DI + 1% R$ 2,1 bilhões 167
TLPP27 Telefônica Brasil 12/07/2027 DI + 1,35% R$ 2 bilhões 160
EQTL55 Equatorial Energia 24/02/2025 DI + 1,4% R$ 2 bilhões 85
PALFA2 Companhia Paulista de Força e Luz 12/12/2026 DI + 1,2% R$ 2 bilhões 99
ASAI14 Sendas Distribuidora 26/11/2027 DI + 1,75% R$ 2 bilhões 346
HAPV13 Hapvida 10/05/2029 DI + 1,6% R$ 1,9 bilhão 283
MGLUA0 Magazine Luiza 15/10/2026 DI + 1,25% R$ 1,9 bilhão 210
CCROA6 CCR 15/01/2029 DI + 1,7% R$ 1,8 bilhão 292
UGPA16 Ultrapar 05/03/2023 105,25% do DI R$ 1,7 bilhão 77
EQTL15 Equatorial Energia 15/12/2026 DI + 1,55% R$ 1,6 bilhão 289
BRKPA0 BRK Ambiental 15/04/2027 DI + 2,4% R$ 1,6 bilhão 240
RLOG11 Cosan 25/08/2025 DI + 2,65% R$ 1,6 bilhão 338
TIMS12 TIM 15/06/2028 IPCA + 4,17% R$ 1,6 bilhão 1
LCAMA9 Companhia de Locação das Américas 15/01/2026 DI + 2,4% R$ 1,6 bilhão 412
RDORB9 Rede D’Or São Luiz 20/08/2031 DI + 1,9% R$ 1,5 bilhão 317

Fonte: Quantum

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney