Movimentação de cripto fora de exchanges quadruplica; por que as wallets caíram no gosto do brasileiro?

Tendência se intensificou em fevereiro após crise de confiança com corretoras especializadas

Lucas Gabriel Marins

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O brasileiro pessoa física está pegando o gosto por fazer a custódia pessoal de suas criptomoedas, sem ajuda de intermediários. Pelo menos é isso o que mostram os dados mais recentes de declaração de criptoativos compilados pela Receita Federal, referentes a fevereiro.

Segundo a Receita, investidores pessoa física movimentaram R$ 165,2 milhões de criptoativos sem uso de corretoras naquele mês, montante quatro vezes maior do que o registrado em janeiro. Ao longo de 2022, ano que o mercado sofreu um período de queda de preços rigoroso, a média negociada em exchanges foi de R$ 60 milhões.

Criptomoedas operam em redes descentralizadas e não dependem de bancos ou bancos centrais para funcionarem. Elas são movimentadas com senhas chamadas de chaves privadas. Para fazer a custódia pessoal, portanto, investidores precisam se preocupar apenas em guardar essas chaves em um local seguro, que pode ser uma carteira virtual ou um dispositivo físico, conhecido como cold wallet (carteira fria).

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Luisa Pires, head de criptoativos da Levante, disse que essa tendência de migração para a auto custódia, na qual a pessoa é seu próprio banco, já vinha acontecendo, mas foi acelerada pelos últimos acontecimentos, que abalaram a confiança no setor cripto.

“Com a corrida bancária recente, a quebra da exchange FTX e os ‘FUDs’ (sigla em inglês que significa medo, incerteza e dúvida) de mercado que estamos vendo em relação à solvência de algumas empresas, é natural essa movimentação mais rápida (para carteiras). Esses eventos serviram como catalisadores”.

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De acordo com Luisa, o caos recente gerou uma crise de confiança na indústria cripto em si, mas não nas criptomoedas, que continuam com os mesmos fundamentos de sempre. “A gente viu Binance e OKX (exchanges) mostrando suas provas de reserva, e fazendo algumas auditorias, mas, apesar disso, vemos uma grande desconfiança pela falta de transparência”, falou.

Em fevereiro, o head da filial da Binance na região Ásia-Pacífico, Leon Foong, disse que uma auditoria completa dos ativos e passivos da corretora cripto, a maior do mundo em volume negociado, pode demorar para ser divulgada por causa da complexidade do negócio.

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R$ 15 bilhões

Apesar do aumento de movimentações fora de exchanges, os brasileiros negociaram um valor menor em criptomoedas em fevereiro na comparação com janeiro, segundo a Receita. O total foi de R$ 15 bilhões, 6,3% menor do que no primeiro mês do ano.

Do montante registrado em fevereiro, R$ 12,8 bilhões (ou 85% do total) foram negociados por empresas em exchanges de criptomoedas nacionais. O total em corretoras no exterior foi de apenas R$ 680 milhões, tanto de pessoas jurídicas como físicas.

As exchanges internacionais, diferente das locais, não são obrigadas a reportar à Receita as movimentações mensais dos clientes. Com os dados em mãos, o órgão consegue fazer cruzamentos. Empresas e pessoas físicas que usam empresas estrangeiras precisam informar ao órgão caso façam vendas superiores a R$ 35 mil em cripto e obtenham lucro.

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Criptomoedas preferidas

Em relação aos valores, a criptomoeda mais utilizada por brasileiros foi a Tether (USDT), que tem paridade com o dólar (stablecoin), totalizando R$ 12,1 bilhões. Em seguida vem o Bitcoin (BTC), com R$ 1 bilhão, e a USD Coin (USDC), outra stablecoin , com R$ 560 milhões.

As stablecoins são o tipo de criptoativo preferido dos brasileiros. Em 2022, esse segmento respondeu por mais de R$ 100 milhões das declarações de criptoativos, cinco vezes mais que as de Bitcoin, em crescimento de 135% em relação ao ano anterior.

Em fevereiro de 2023, movimentação de Ethereum (ETH), segunda maior criptomoeda do mercado, ficou na casa dos R$ 228 milhões. Nesta quarta-feira (12), dia em que o projeto cripto passará por uma importante atualização, o ETH era negociado a US$ 1.889 por volta das 10h, segundo o CoinMarketCap.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney