Depois do forte resultado do Mercado Livre (MELI34) no Brasil, o que esperar para Via (VIIA3) e Magalu (MGLU3) no 1º tri?

Para analistas, Mercado Livre já devia despontar como destaque positivo e ainda esperam números pouco empolgantes para as brasileiras no período
(Shutterstock)
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Ainda que o Mercado Livre (MELI34), cuja ação é negociada na Nasdaq, tenha operações em outros países e não abra completamente os números no Brasil, os seus resultados também permitem algumas leituras sobre as companhias com fortes operações de e-commerce no país, caso de Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3).

A leitura se dá no primeiro trimestre em particular uma vez que há muitas expectativas sobre como se dará o ganho de participação de mercado entre as empresas do setor após a recuperação judicial da Americanas (AMER3), que afetou a operação da companhia.

O Mercado Livre divulgou seus números do primeiro trimestre de 2023 (1T23) na noite da véspera, com lucro líquido de US$ 201,4 milhões, 208,5% acima do apresentado um ano antes. No período, sua receita total alcançou US$ 3 bilhões na América Latina, crescimento de 58,4%, em moeda constante, e de 35,1% em dólar na comparação com o mesmo período do ano passado.

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Os três principais mercados mantiveram o crescimento da receita em dólar na comparação anual, com o México avançando 62%, Argentina 39% e o Brasil 26% – País que representa 52% da receita líquida da companhia.

Para o Itaú BBA, a companhia reportou um excelente trimestre, superando as suas estimativas (ainda que a ação registre queda de cerca de 3% nos EUA após o resultado). O bom desempenho veio principalmente das receitas da divisão de e-commerce, com destaque para um maior take rate (valor que incide sobre cada transação) e a margem bruta, que cresceu 2,9 pontos porcentuais (p.p,) em um ano.

Menores despesas de provisionamento e ventos favoráveis da alavancagem operacional também contribuíram para um notável ganho de margem Ebit (Ebit, ou lucro antes de juros e impostos, sobre receita, de 5 pontos percentuais) na comparação anual.

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“A boa dinâmica de fluxo de caixa no trimestre sustenta nossa visão de que a empresa está em uma posição muito boa para investir em crescimento (em contraste com os concorrentes), o que nos leva a ficar construtivos em relação às oportunidades de ganho de participação de mercado daqui para frente”, avalia.

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A Genial aponta que a operação Brasil de e-commerce foi o principal destaque entre as geografias de atuação do Mercado Livre, ficando acima das suas projeções (+6,1% versus a estimativa da casa). A empresa reportou um aumento de volume bruto de mercadorias (GMV) na operação Brasil de 1,1% no trimestre e de 29,0% no ano, impulsionado principalmente pelo acréscimo de itens vendidos (+17% na base anual), se aproveitando do atual momento da Lojas Americanas e aumentando o sua fatia de mercado.

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“Acreditamos que o Mercado Livre deve continuar performando acima dos seus concorrentes ao longo de 2023. Com uma capacidade de execução acima da média de mercado, acreditamos que a companhia seguirá como líder no segmento de varejo e-commerce nos principais países de atuação (Argentina, Brasil e México). No Brasil, a força operacional e financeira da empresa deve continuar a impulsionar o ganho de share frente as oportunidades criadas pelo evento Americanas”, avalia a casa.

Para o Bradesco BBI, o 1T23 mostrou novamente a resiliência do modelo de negócios da companhia, que foi capaz de entregar números positivos em um cenário macroeconômico difícil, especialmente no Brasil, apesar da demanda fraca. Os analistas seguem com uma visão otimista para o ativo.

O que esperar para Via e Magalu?

Como dito acima, o cenário macro segue desafiador e é neste contexto que a Via divulga seus números nesta quinta-feira (4), após o fechamento do mercado, enquanto o Magalu revela seus resultados no próximo dia 15.

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“Em todo o varejo multicanal do Brasil, os primeiros impactos da mudança de participação da Americanas estarão em foco, com os ganhos do primeiro trimestre dos seus pares fornecendo a primeira leitura concreta sobre o tema”, aponta o Morgan Stanley, também colocando foco no ambiente concorrencial.

Contudo, aponta o Bradesco BBI, no final do dia, as condições macro ainda pesam mais no desempenho operacional do que o sugerido ambiente competitivo mais fácil, enquanto balanços patrimoniais altamente alavancados em um ambiente de altas taxas de juros ainda prejudicam os resultados.

De acordo com o BTG Pactual, para e-commerce, as preocupações (e a volatilidade) permanecem semelhantes aos trimestres anteriores, mas com bases de comparação mais fracas após um 2022 desafiador, juntamente com iniciativas bem-vindas de otimização de custos devem gerar melhorias de margem.

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Os analistas do BTG esperam que o GMV online do Magazine Luiza (GMV consolidado em alta de 11% ao ano) cresça 12% ao ano, semelhante aos trimestres anteriores (+R$ 1,2 bilhão de adição de GMV online) e que a Via apresente queda de 4% ao ano (GMV total em alta de 3% ao ano).

Além disso, apontam, para preservar o caixa em meio a um cenário incerto, Via, Magalu, entre outras companhias, já cortaram investimentos para melhorar a rentabilidade (com trade-off de crescimento), tendência que esperamos que seja mantida no curto/médio prazo.

A XP espera que as empresas de e-commerce reporte resultados fracos do 1T23, com o cenário macro desafiador sendo um ofensor para a demanda de bens duráveis, parcialmente compensando o potencial benefício oriundo da fragilidade e recuperação judicial da Americanas, enquanto despesas financeiras continuam levando a um prejuízo líquido. A geração de caixa deve ser negativa, em linha com a sazonalidade do primeiro trimestre.

Para o Magalu, projeta um crescimento tímido da receita, mesmo com a fragilidade da Americanas, já que o cenário macro difícil continua pesando na demanda de bens duráveis, enquanto a implementação do Difal deve pesar na lucratividade.

O GMV total deve crescer 9% ano ano, suportado pelo GMV online crescendo 10% (1P, ou estoque próprio, em +5% e 3P, ou marketplace, em +20%), enquanto as lojas físicas devem registrar crescimento das vendas nas mesmas lojas (SSS) de 2,6%, devido ao cenário de menor demanda por bens duráveis.

Quanto à lucratividade, a margem bruta deve ser o destaque negativo, com queda de 0,9 ponto percentual (p.p.) no comparativo anual, já que os aumentos de preço para compensar a implementação do Difal foram distribuídos ao longo do trimestre, embora a margem Ebitda deva melhorar 0,6 p.p por conta de eficiências operacionais. “Por fim, esperamos um prejuízo líquido de R$202 milhões, enquanto a geração de caixa deva ser negativa, em linha com a sazonalidade do trimestre”, avalia.

O BBI, por sua vez, estima crescimento suave da receita líquida (+5,7% ao ano) do Magalu e apenas uma pequena melhora da margem Ebitda, de 5,1%, enquanto as despesas financeiras continuam pesando sobre a receita.

O consenso Refinitiv projeta um prejuízo de R$ 357,9 milhões para o Magalu no primeiro trimestre, um Ebitda de R$ 509,5 milhões e uma receita de R$ 9,2 bilhões.

Para a Via, a XP espera que a dona das Casas Bahia e do Ponto reporte resultados fracos no primeiro trimestre, com uma dinâmica mista de GMV e níveis de rentabilidade mais baixos, apesar ​​do cenário competitivo mais fragilizado. O GMV total deve ficar estável (+2% na base anual), suportado principalmente pelo canal físico (SSS em alta anual de 5%), enquanto o GMV online continua em queda, já que o cenário macro fragilizado pressiona as vendas 1P (-15%), o que mais do que compensa a recuperação do canal 3P (+25%) após a mudança de foco para produtos de cauda longa.

Quanto à lucratividade, a margem bruta deve subir 0,3 p.p no comparativo anual, projetam os analistas, por conta de um ambiente competitivo mais racional, enquanto a margem Ebitda deve cair 100 pontos-base devido a impactos não recorrentes registrados no 1T22, embora melhorando 100 pontos-base frente o 4T22. A XP espera um prejuízo líquido de R$ 272 milhões, com despesas financeiras mais pesadas, enquanto a geração de caixa deve permanecer negativa, em linha com a sazonalidade do trimestre.

O BBI estima crescimento estável da receita líquida e prejuízos consideráveis (R$ 290 milhões), principalmente sobrecarregados por despesas. O consenso Refinitiv tem uma projeção de receita de R$ 7,6 bilhões para a varejista.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.