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SÃO PAULO (Reuters) – Uma companhia nacional criada há cerca de seis anos anunciou nesta quinta-feira (25) que desenvolveu um processo para reciclagem de plásticos como os usados em embalagens de alimentos e que são atualmente de difícil reaproveitamento, no que espera ser capaz de fomentar um novo mercado para um material que comumente tem descarte inadequado no país.
O chamado polipropileno biorientado (BOPP) é um tipo de filme plástico usado em embalagens de produtos como salgadinhos e que, além das tintas de impressão de rótulo, recebe outras camadas como alumínio e verniz e adesivos que acabam praticamente inutilizando o material para fins de reaproveitamento.
“O grande problema para o meio-ambiente são plásticos flexíveis, que são muito difíceis de serem reciclados. A grande maioria vai para aterro”, disse Marcelo Mason, diretor de sustentabilidade da Deink, a empresa criada em 2017 que desenvolveu um processo de reciclagem do material que batizou de 4D.
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A sigla é uma referência às etapas do processo: delaminação, desmetalização, destintamento e disrupção. Segundo a companhia, que investiu 85 milhões de reais em uma instalação no interior de São Paulo para reciclar plásticos flexíveis de múltiplas camadas, grandes multinacionais de produtos de consumo como a Nestlé estão interessadas na tecnologia.
A empresa começou a partir de um processo de retirada da tinta dos plásticos que o empresário Rogério Mani, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), licenciou de pesquisadores da universidade espanhola de Alicante. O plano era ter uma fábrica operando já em 2020, quando o projeto teve de ser adiado em um ano pela pandemia. Mani, fundador da Deink, esteve à frente das operações até 2022 e é atualmente presidente do conselho de administração.
A companhia acabou conseguindo ser acelerada pela Ambev, que indicou um de seus fornecedores, Valgroup, a maior recicladora de plásticos do Brasil, para uma parceria estratégica que incluiu investimento em participação na Deink, disse Mason, sem dar detalhes sobre a fatia.
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A companhia agora quer ter uma primeira linha de reciclagem 4D de plásticos de múltiplas camadas funcionando na fábrica instalada em Itupeva (SP) a partir de junho, com planos para uma segunda linha em breve, dependendo do nível de demanda. No longo prazo, 2030, a companhia estima ter mais oito linhas com a tecnologia não apenas em São Paulo mas em outras regiões do país, disse Mason.
O executivo afirmou que, após ser reciclado, o plástico BOPP gera uma resina que pode ser transformada em filme plástico e que também tem uma série de aplicações incluindo em produção de componentes para linha branca. Essa versatilidade minimiza a limitação do uso em fins alimentícios, por enquanto restrita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Mas obter grau alimentício é a grande meta”, afirmou.
“Na Europa, já tem obrigação de uso (de plásticos recicláveis nas embalagens de produtos), com isso as marcas têm que inserir o material reciclado”, afirmou Mason. Segundo ele, isso ajuda na demanda diante do custo atualmente maior do filme reciclado versus o virgem. O executivo, porém, evitou citar valores.
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A Deink já tem patente brasileira sobre o processo e pretende buscar a partir de junho patentes nos Estados Unidos, Europa e Ásia, disse Mason. O executivo acrescentou que o método 4D é uma abordagem híbrida entre processos químicos e mecânicos de reciclagem, com a etapa química sem solventes ocorrendo em ciclo fechado.
A tecnologia pode colocar a companhia como uma rival da indústria de papel, que tem surfado na onda “verde” da substituição de embalagens e plásticos de uso único por suas versões de papel. “A questão do plástico é conseguir fazer com que ele volte para a cadeia e trazer circularidade para estes resíduos”, disse Mason.
“A reciclagem de plástico nos próximos cinco anos tende a crescer exponencialmente”, afirmou.
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Segundo a Deink, o Brasil é o quarto maior produtor de resíduo plástico do mundo, com mais de 2,4 milhões de toneladas de plástico sendo descartadas de forma irregular. No caso do BOPP, o mercado nacional demanda por ano cerca de 170 mil toneladas. Com a abertura da linha 4D em junho, a capacidade de reciclagem da Deink subirá para 25 mil toneladas por ano.
(Por Alberto Alerigi Jr.)