Ethereum Code é confiável? Plataforma que ficou popular na internet traz sinais de alerta

Anonimato, falta de informações em seu site, promessas de ganhos e uso de falso endosso de celebridades são alguns deles

Lucas Gabriel Marins

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A procura pela suposta plataforma cripto “Ethereum Code” na internet deu um salto no Brasil nos últimos 30 dias, segundo o Google Trends, ferramenta que mostra os termos mais inseridos no buscador.

Em seu site, o projeto diz que é um protocolo de código aberto cuja missão é tornar o ETH “mais acessível e direto, mesmo que você não tenha conhecimento prévio”.

Mas, será que é confiável? Não é o que sugerem as informações públicas a respeito da plataforma, que traz vários sinais suspeitos.

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O negócio cripto, vale lembrar, não tem nenhuma relação com o Ethereum (ETH), a segunda maior criptomoeda do mundo por valor de mercado. Além disso, o anonimato dos criadores, a falta de informações em seu site, além de promessas de ganhos e uso de falso endosso de celebridades ou programas de TV para atrair pessoas são fortes indícios de perigo para o investidor.

Outro ponto de atenção é a comunicação usada no site, que o tempo todo pressiona o visitante a fazer um depósito o mais rápido possível, de modo a não perder a suposta oportunidade de investimento – tudo isso sem esclarecer os riscos envolvidos na operação. “São promessas bem suspeitas”, afirma Vinícius Chagas, CTO da startup de blockchain Trexx.

Bot de negociação

Em seu site, o Ethereum Code diz ser um bot (programa de computador) de negociação, uma espécie de robô que estuda o mercado e encontra as melhores opções de trade, sempre visando oferecer juros para o usuário.

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O investidor precisa apenas enviar uma certa quantia de dinheiro — o depósito mínimo é de US$ 250 — para o site, que faz todo o trabalho sozinho e depois paga supostos lucros.

Há propagandas do Ethereum Code na internet, publicadas em posts patrocinados, com promessas de lucro de US$ 1.500 no primeiro dia ou US$ 10 mil ao longo de uma semana.

“Ligue seu alerta se encontrar expressões que indicam ‘renda certa’, ‘rentabilidade fixa’ ou ‘garantida’, ou a exposição de percentuais fixos de ganho quaisquer com operações ou ativos indicados, pois podem ser sinais de fraude”, recomendou a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em um material educativo sobre golpes com robôs.

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A Atlas Quantum, empresa de criptomoedas alvo da CPI das pirâmides financeiras, também costumava usar um robô milagroso para atrair investidores. A história recente mostrou, no entanto, que o negócio era uma grande farsa, responsável por deixar um prejuízo bilionário a milhares de pessoas.

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Endosso de celebridades

O Ethereum Code usa uma estratégia conhecida no mercado cripto, que é o uso de falsos endossos de programas de TV ou de famosos para fisgar vítimas. No começo deste ano, segundo relatos publicados por usuários no YouTube, o projeto se valeu da série televisiva Shark Tank para atrair pessoas no Brasil.

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Em uma página falsa, que estampava o logo de um importante site de notícias econômicas do Brasil, o protocolo publicou um texto com o título “A maior negociação da história do Shark Tank: fique rico em apenas 7 dias! (você não leu errado)”.

Nos últimos anos, criminosos virtuais usaram diversas celebridades brasileiras nacionais e internacionais em falsas propagandas de produtos financeiros associados a criptomoedas. Alguns deles foram a cantora Carla Perez, o comediante Whindersson Nunes, e os bilionários Elon Musk e Bill Gates, um conhecido crítico das criptomoedas e dos NFTs.

Em queixas realizadas no site Reclame Aqui, usuários afirmam que supostos assessores que prometiam montar uma carteira de investimento simplesmente desaparecem após o depósito na plataforma via Pix. “Inicialmente se mostram muito prestativos e respondem rapidamente, ajudam a configurar e baixar o app, o que te deixa um pouco mais seguro”, diz uma reclamação.

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“Entretanto, pós efetivado o Pix, um funcionário se dizendo assessor de investimento faz uma breve investigação do seu “potencial” e expectativa, diz que vai avaliar as opções do momento e montar uma carteira, [mas] nunca mais retorna”, completa a mensagem de uma pessoa que diz ter sido atraída por uma propaganda utilizando a imagem do empresário Luciano Hang.

“Sites, anúncios ou publicações em rede social com aparência profissional não indicam uma oportunidade genuína de investimento. Os criminosos podem e costumam explorar nomes de marcas confiáveis ou de indivíduos famosos para fazer com que os seus golpes pareçam oportunidades legítimas”, afirma a exchange Binance em um relatório compartilhado com o InfoMoney sobre como se proteger de golpes.

Anonimato

Com exceção do Bitcoin (BTC), que está no mercado desde o final de 2008 e nunca foi hackeado — apesar das tentativas —, o anonimato não é um bom sinal no mercado de criptoativos. Em seu site, o Ethereum Code não deixa claro quem são seus criadores e onde eles moram.

No site Who Is, que permite a busca por dados de proprietários de domínios, e-mail, telefone, data de criação etc, não há qualquer informação sobre os criadores. No local em que deveriam estar nomes e outros contatos, há apenas a mensagem “removido por privacidade”.

A reportagem não conseguiu localizar nenhum representante do Ethereum Code.

O que fazer para não ser uma vítima

Especialistas do setor cripto e autoridades como Ministério Público Federal (MPF), Polícia Civil e órgãos reguladores, recomendam que investidores examinem bem ativos e projetos antes de investir, especialmente se forem pouco conhecidos, como é o caso do Ethereum Code. Caso contrário, podem cair em armadilhas financeiras.

“Se você está considerando um investimento relacionado a ativos ‘cripto’, reserve um tempo para entender como o investimento funciona e procure por sinais de alerta de que pode ser uma farsa”, disse a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) em um alerta divulgado ano passado.

Chagas, da Trexx, tem opinião similar. Ele recomenda buscar entender os projetos por trás das criptomoedas alvos de investimento, e alerta investidores contra ferramentas online que prometem intermediar os aportes.

Sua indicação é fazer o investimento direto em corretoras de criptomoedas reconhecidas que têm atuação no Brasil, ou alocar por meio de produtos regulados, como fundos de investimento com exposição a criptoativos ou em ETFs de criptomoedas disponíveis na B3.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney