Empírica suspende resgates do seu maior fundo de renda fixa após aumento de pedidos de saques

Empresa que deixou de honrar pagamentos a FIDC causou estresse, mas está desenhando plano de recuperação, segundo Leonardo Calixto, CEO da casa

Bruna Furlani

(Getty Images)
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Cotistas do fundo Empírica Lótus IPCA FIC FIM, da Empírica Investimentos, foram informados na última terça-feira (20) sobre o fechamento do fundo para resgates e aplicações.

Em comunicado ao mercado, a BTG Pactual DTVM, administradora do produto, disse que a medida teve que ser tomada após a “incompatibilidade dos pedidos de resgate” solicitados com a liquidez do fundo.

Em carta enviada aos clientes, o head de gestão de fundos de renda fixa, Guilherme Lagnado, disse que seria preciso realizar uma venda forçada para honrar com o pagamento de um grande volume de saques, o que pode trazer prejuízo aos cotistas que permaneceram no fundo.

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Segundo Lagnado, a medida foi impulsionada após meses complicados para os fundos de crédito e com retorno atrelado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), devido à deflação registrada entre julho e setembro do ano passado, seguida pela crise de confiança com ativos da Americanas (AMER3) e da Light (LIGT3).

“O que era para ser o grande ano da renda fixa, devido às altas taxas de juros, virou o ano do conservadorismo e de uma onda de resgates nesse segmento”, ponderou o gestor.

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Fora isso, o executivo afirma que ruídos sobre o FIDC Empírica Insole Energia Solar (FIDC Insole), ativo que integra a carteira do Empírica Lótus IPCA, intensificaram o volume de resgates.

Ele explica que a Insole Energia Solar, originadora dos direitos creditórios do fundo, encontra-se em um quadro de “forte restrição de liquidez” e consequente processo de reestruturação dos seus passivos.

A empresa depende muito de venture capital, ou seja, de capital de risco, detalhou Leonardo Calixto, CEO da Empírica, em entrevista ao InfoMoney. O executivo conta que a companhia aguardava nova rodada de captação, mas o estresse bancário nos Estados Unidos – com a quebra do Silicon Valley Bank – acabou fechando a torneira para esse tipo de investimento.

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Diante da situação financeira frágil da Insole, a Oliveira Trust DTVM, administradora do FIDC Insole, decidiu aumentar a provisão para devedores duvidosos (PDD), o que gerou um impacto de -1,87% na cota do Empírica Lótus IPCA.

Calixto diz que a Insole está desenhando um plano de recuperação e avança em algumas conversas com potencial para modificar a sua situação: possível fusão ou aquisição (M&A, na sigla em inglês) ou uso de venture debt – forma de arrecadar dinheiro por meio de empréstimos de fundos de investimento.

“O evento Insole não é para gerar pânico. É uma situação de estresse que está sendo gerenciada e está sob controle”, afirma o CEO.

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Diante do ocorrido, os cotistas agora deverão ser convocados para uma assembleia, que deve ocorrer na segunda semana de julho. A gestora deverá apresentar um plano de ação para solucionar a questão.

O cenário mais difícil para os fundos de crédito também levou a uma diminuição no patrimônio líquido do produto, que saiu de R$ 1,45 bilhão em junho de 2022 para os atuais R$ 1,1 bilhão. O número de cotistas também caiu, passando de 9,5 mil em setembro de 2022 para cerca de 7,4 mil atualmente.

De acordo com a lâmina do fundo, quase 20% dos investimentos do produto estão em recebíveis comerciais. Neste ano, o fundo acumula uma rentabilidade 2,95% acrescido de IPCA, ou seja, 4,38%. Já no ano passado, os ganhos ficaram em 13,85%, ou 6,96% acrescido de IPCA.

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Outros problemas com FIDCs

No começo do mês, a gestora fechou outro fundo da casa para novas aplicações depois de problemas com outro FIDC, o Empírica Lótus HY. Em carta divulgada a clientes neste mês, Lagnado disse que a cota do fundo ficou negativa em -5,46%, após aumento da provisão para devedores duvidosos (PDD) do FIDC Empírica A55 SAAS, feita pela CM Markets, que é a administradora.

De acordo com Calixto, o fechamento para novas aplicações ocorreu para que não houvesse transferência de riqueza, situação que é bem diferente do primeiro caso, em que os resgates foram suspensos. “Nós sabemos que a chance de reverter é grande. Logo, beneficiaríamos quem entrasse no fundo agora, que capturaria esse retorno”, diz.

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Em documento enviado a clientes, o head de gestão de fundos de renda fixa defendeu que o cenário de restrição de liquidez e taxas de juros elevadas tem forçado as empresas de pequeno e médio porte a rebalancear seu fluxo de caixa para manter suas operações saudáveis e funcionando, o que tem contribuído para um aumento no atraso dos pagamentos desses devedores no FIDC.

“A Empírica, como gestora do FIDC Empírica a55 SAAS, e a empresa a55, originadora dos créditos, estão em negociação junto aos devedores inadimplentes, buscando reverter essa provisão, um movimento que consideramos bastante provável”, disse o gestor.

Apesar dos problemas envolvendo dois FIDCs, o CEO da gestora afirma que o movimento deve ser de melhora daqui para frente. O executivo lembra que há sinalizações mais positivas sobre o mercado de capitais, com a alta da Bolsa, e a melhora das projeções para o crescimento econômico deste ano.

Ele não nega que o cenário teve uma piora desde o fim do ano passado, mas aposta em um movimento gradual de melhora com o recuo dos juros. “É um processo natural. Começa a sensibilizar grandes empresas, acionar gatilhos de investimento e aquilo vai girando a engrenagem”, diz.