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O IPCA-15 de junho, que fechou o mês em 0,04%, mantendo assim a tendência de desaceleração observada nas últimas leituras, apresentou uma fotografia parecida com a dos últimos meses, avaliam economistas. O dado cheio mostrou forte impacto dos preços de alimentos e combustíveis, os núcleos apresentaram deflação ainda lenta e os preços dos serviços ainda mantêm resiliência.
Para os economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac, do PicPay, a leitura qualitativa do indicador em junho foi positiva, embora os núcleos que estão sob maior observância do Comitê de Política Monetária (Copom) tenham mostrado alguma piora “na ponta”.
A principal surpresa negativa em termos de maior inflação em junho veio do grupo Habitação, segundo Caruso e Cadilhac, especialmente por conta das altas na taxa de água e esgoto e da energia elétrica residencial aplicada em algumas capitais.
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“Já os destaques positivos ficaram por conta das deflações de 0,55% nos Transportes e de 0,51% na Alimentação e bebidas. As variações negativas se deram, em grande medida, pela queda nos preços dos combustíveis e dos produtos agropecuários”, comentam os economistas.
Entre os sinais que justificam uma leitura mais positiva em junho, eles citam que a variação historicamente baixa da média dos núcleos (0,32%), que desconsideram do cálculo itens com maior volatilidade. Também foram destacados a redução do índice de dispersão (de 64,31% para 50,68%) e os preços livres próximos de zero em junho (0,07%).
Com relação a abertura de Serviços, no entanto, a variação passou de -0,06% para 0,56%, refletindo a alta de 10,70% das passagens aéreas, após a queda de 17,26% em maio. “No entanto, quando olhamos os núcleos que guardam maior relação com a atividade econômica e com o mercado de trabalho, houve nova descompressão anual”, afirmam
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Os economistas do PicPay, que incorporou recentemente a carteira de pessoas físicas do Banco Original, mantêm a projeção de IPCA de 4,9% para 2023. “A boa dinâmica dos alimentos dos bens industriais e do câmbio, além das atuações do governo sobre certos preços, explicam boa parte dessa mudança. O próximo grande evento, olhando para o longo prazo, será a definição da meta pelo CMN nesta quinta-feira (29)”, lembram
Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, chama a atenção para dois pontos no IPCA-15 divulgado hoje. “O primeiro, e mais facilmente medido, é a redução nos preços da gasolina, diesel e gás de cozinha anunciada pela Petrobras no mês passado. O segundo é o programa de carro popular, cuja medida provisória foi publicada no dia 6 de junho”, destaca.
Salles espera que a inflação acumulada em 12 meses, hoje em 3,40%, atingirá seu patamar mínimo em junho e voltará a subir a partir de julho. “Entre os motivos que corroboram nossa projeção está a saída do cálculo em 12 meses das deflações registradas no IPCA no ano passado em função dos efeitos da desoneração de impostos”, prevê.
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O fato de os núcleos de inflação do Banco Central, que expurgam elementos voláteis e não recorrentes, seguirem em patamar elevado também reforçam a visão do C6 Bank de que a inflação voltará a acelerar à frente.
“Em 12 meses, os núcleos do BC acumulam uma alta de 6,2%, indicando que a inflação mais estrutural continua caindo em ritmo lento. Esse movimento é confirmado pela inflação de serviços, que acumula uma alta de 6,1% em 12 meses. O setor, que representa mais de 30% do IPCA, vem sendo pressionado pelo mercado de trabalho aquecido”, explica.
Mas o C6 Bank também destaca a inflação de bens industriais, que vem se mostrando menos persistente e que segue o ritmo de desaceleração verificado nos últimos meses, acumulando 4,4% em 12 meses.
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“Na nossa visão, a resiliência da inflação de serviços, a pressão nos núcleos e as expectativas de inflação acima da meta não parecem compatíveis com uma redução rápida da inflação. O resultado do IPCA-15 de junho não altera nossa projeção de que o IPCA terminará 2023 em 5,8%. Para 2024, esperamos que a inflação desacelere um pouco, para 5,5%”, estima.
As projeções do C6 Bank incorporam no cenário uma redução taxa básica de juros a partir da reunião do Copom em setembro, chegando a 12,5% ao final de 2023. “Mas reconhecemos que as chances de uma flexibilização monetária a partir de agosto são elevadas. Para 2024, a previsão, por ora, é que a Selic recue para 11%”, pondera Salles.
Desinflação lenta
Leonardo Costa, economista da ASA Investments, classifica como ruim o aspecto qualitativo do IPCA-15 de junho, por conta da expectativa frustrada de desaceleração adicional dos serviços. “Ainda acima do teto do regime de metas, a média móvel de 3 meses dos núcleos voltou a ceder e os serviços estão desacelerando mais lentamente. Os itens mais voláteis colaboraram, especialmente nos alimentos”, afirma
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Na opinião de Costa, os serviços de aluguel têm se mostrado mais erráticos, o que não sacramentaria de partida que há uma interrupção do processo de desinflação. Para junho, a projeção da ASA Investments é que o IPCA deve ficar entre -0,10% -0,15% e que a média de núcleos deva oscilar entre +0,20% e +0,30%, com algum efeito indireto da deflação dos veículos.
Gustavo Sung, da Suno Research, destaca que o grupo Habitação teve a maior variação (0,96%) e o maior impacto (0,14 p.p.) sobre o índice em junho, mas que, por outro lado, o grupo Transportes contribuiu negativamente (-0,55%) sobre o indicador. “O fato é reflexo da queda dos preços dos combustíveis como, por exemplo, a gasolina que caiu 3,40% e foi o subitem com o maior impacto individual (-0,17 p.p.) no IPCA-15 de junho”, comenta.
Sung também avalia que os serviços, serviços subjacentes e a média dos núcleos arrefeceram na leitura do acumulado dos últimos 12 meses. E que o índice de difusão, que mostra o porcentual de itens que aumentaram de preços no mês, teve uma queda de 64% em maio para 51% em junho.
“Apesar de a inflação de boa parte desses grupos ainda estarem acima do desejado pelo Banco Central, os números mostram um arrefecimento importante. Esses dados podem ajudar positivamente o cenário do BC”, afirma.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter também atribui a queda do IPC-15 de junho ante maio pela redução dos preços dos alimentos e dos combustíveis, seguindo o movimento que já havia sido antecipado pelos preços do atacado.
“Mas a inflação medida pelos nucelos também apresentou redução, de 0,42% para 0,35% (4,3% anuais) e a difusão teve forte queda. No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 variou 3,4% enquanto a média dos núcleos também caiu para 6,2%”, lembra.
Porém como dado negativo em junho, Rafaela cita a alta mensal da inflação de serviços, mesmo quando se exclui o item passagem aérea, de 0,29% para 0,39%. “Em geral, a leitura do IPCA-15 confirma nossa avaliação do cenário atual de desinflação, ainda que mais lenta nos preços dos serviços, mas que deve confirmar o início do corte da Selic em 25 bps na próxima reunião do Copom em agosto”, prevê.
João Savignon, head de pesquisa macroeconomica da Kínitro Capital, afirma que a desaceleração do IPC-15 entre maio e junho, de 0,51% para 0,04%, foi resultado tanto do recuo dos preços administrados (-0,03% em junho, ante 1,10% em maio), quanto dos preços livres (0,06% ante 0,31%).
“Em administrados, tivemos as retrações de combustíveis e gás de cozinha e as moderações de preços de medicamentos e dos planos de saúde, que incorporaram a nova fração mensal decorrente do reajuste anual anunciado pela ANS”, detalha Savignon.
Já o conjunto de preços livres refletiu a queda de Alimentação e de Bens industriais. “Nas aberturas de alimentos, destaque para os alimentos in natura e carnes. Em industriais, a deflação de automóveis novos repercutiu os efeitos iniciais do programa do governo de descontos, mas em menor magnitude”, comenta.
Os preços do Vestuário, por sua vez, vieram acima do esperado. E os Serviços subiram no mês, refletindo a elevação de passagens aéreas, mas também o aluguel e o condomínio, que surpreenderam na margem.
Savignon destaca que que os dados das medidas subjacentes e dos núcleos vieram bem próximos do esperado. “A média dos núcleos ficou em 0,34%, abaixo dos 0,42% de maio. Esse dado na margem é importante para a percepção quanto à dinâmica qualitativa do índice”, afirma.
No geral, a análise da Kínitro é que o resultado divulgado hoje veio acima do esperado pelo consenso de mercado, mas que a abertura do indicador seguiu mostrando uma composição mais benigna, especialmente quando observadas as médias dos núcleos.
Para Savignon, como os demais dados de inflação seguirem rodando em níveis muito baixos, com os núcleos e as demais medidas subjacentes mantendo seu processo de desaceleração, há espaço para o Copom iniciar o afrouxamento monetário em sua reunião de agosto. Deve contribuir para isso a manutenção da meta de inflação de 3% pelo Conselho Monetário Nacional na 5ª feira (29).
Na avaliação da equipe de estratégia macro da BGC Liquidez, a composição do IPCA-15 em junho decepcionou um pouco, com a inflação dos serviços subjacentes vindo maior que a esperada e em patamar relativamente alto para o mês.
“Os itens aluguel residencial e condomínio, associados à inflação inercial e ociosidade da atividade econômica, registraram avanços expressivos e altos para o padrão sazonal. A despeito disso, um ponto positivo foi inflação mais baixa de alimentação fora do domicílio e inflação relativamente comportada de mão de obra e empregado doméstico”, diz análise da BCG.
Já Amabile Ferrazoli, economista da Tenax Capital, aponta como destaque dado da baixa mais um mês de deflação de alimentos, em linha com o noticiário positivo recente no setor que tem se beneficiado de clima ameno. Do lado da alta, houve surpresa nos subitens de aluguel (+0.68%) e condomínio (+1.64%).
“São serviços considerados inerciais e subjacentes, que apresentaram variação bastante positiva em junho. Esses subitens acabaram poluindo bastante os núcleos de serviços nesse print do IPCA-15”, comenta Amabile.
Além disso, ela lembra que, em junho, iniciou-se o programa de subsídio para veículos populares, que afetou dois subitens relevantes no IPCA-15, os autos novos e usados. “As variações de preço nesses subitens foram menores que as esperadas”, avalia. Ele sugere, no entanto, aguardar o IPCA cheio de junho para capturar todo o efeito do programa.
Ela diz não entender que haverá mudança da tendência de desinflação com os resultado do IPCA-15 de junho. “Para a política monetária, o corte de 0,25% em agosto já era predominante na tendência desinflacionária em curso. Para os mais cautelosos do Copom, não houve neste IPCA-15 a novidade positiva de intensificação da desinflação de serviços, mas ainda é bem provável que a expectativa Focus longa siga em queda com a confirmação da meta em 3,0% pelo CMN na reunião de amanhã.”