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Títulos indexados à inflação são pouco comuns nos Estados Unidos, mas, com os índices de preços ao consumidor no maior patamar dos últimos 40 anos, produtos que levam em conta esse cenário começam a entrar no radar.
O investidor pode encontrar essa proteção no próprio Tesouro americano ao comprar os chamados “I Bonds” e as TIPS (Treasury Inflation Protected Securities).
Essas siglas são menos conhecidas do que outros títulos ofertados pelo Tesouro dos Estados Unidos, como as T-Bills, mas surgem como alternativa no momento em que a inflação demora a ceder e o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) sinaliza ao menos mais uma alta de juros para lidar com essa persistência.
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O PCE (índice de inflação acompanhado pelo Fed) ficou em 3,8% em maio, uma desaceleração em relação aos 5% registrados em fevereiro. Mas o núcleo da inflação, que é utilizado para verificar a tendência, permanece sem dar sinais de arrefecimento, variando entre 4,6% e 4,7% nos últimos meses.
Para lidar com esse cenário, o Fed está com os juros na faixa entre 5% e 5,25%, com possibilidade de mais uma alta.
Tendo essas variáveis em mente, é possível comprar esses dois títulos híbridos, que são bem similares ao Tesouro IPCA.
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Quanto esses títulos pagam?
O “I Bonds Series I” combina taxa de juros fixa e o índice de inflação, e muda a cada seis meses. Para os títulos emitidos entre maio e outubro, o rendimento final está em 4,30%, que considera um juro fixo de 0,90% mais a inflação de um semestre.
Nesse título, se houver uma deflação muito forte, o título é zerado quando o retorno final chega a zero, para proteger o principal.
Já as TIPS são papéis de 5, 10 ou 30 anos com pagamento de juros semestral e o principal, a ser resgatado no vencimento, corrigido pela inflação.
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Os analistas da Raymond James, empresa de serviços financeiros americanos, fizeram simulações com o efeito da inflação sobre a carteira clássica de 60% em renda variável ao longo dos anos com base no retorno da última década. E o resultado é que os preços mais elevados têm um impacto que vai além do poder de compra imediato.
Para cada US$ 100 investidos em um cenário de 2% de inflação, que é a meta do Fed, o esperado é que ao final de 30 anos o investidor tenhaUS$ 325. Já com a inflação a 4%, o valor cairia para US$ 185.
“Muitos planos de aposentadoria são baseados na suposição de que a inflação será 2% no longo prazo, e níveis mais altos de inflação se acumulariam ao longo do tempo e, em última análise, teriam impactos graves a longo prazo”, avaliam.
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Período de exceção
Vyctor Tavares, sócio e responsável pela área de investimentos internacionais da Valor Investimentos, afirma que o fato desses títulos serem poucos conhecidos está atrelado ao histórico dei inflação dos Estados Unidos, que é baixo.
“O histórico é de estabilidade da economia, então a demanda maior é por prefixados. Títulos híbridos como esses são para economias mais voláteis”, disse, ao explicar a razão por qual esses papéis só começaram a ser mais conhecidos agora.
Vale lembrar que esses papéis não são novos. Os I Bonds, por exemplo, foram lançados no final da década de 1990.
Mas é justamente por essa excepcionalidade que ocorre no momento, de inflação e juros elevados, é que o investidor tem boas chances de montar uma carteira que tire proveito desses retornos por mais tempo.
“Para quem está pensando em uma poupança em moeda forte no longo prazo, pode ser o momento para essa experimentação”, conta.
Incerteza
A inflação começou com a pandemia da Covid-19, que causou escassez de produtos e interrupção das cadeias de suprimento e também uma política fiscal mais expansiva por parte dos governos, incluindo o americano.
Embora ocorra uma normalização, os analistas da Raymond James lembram que há uma força maior no mercado de trabalho, o que exerce pressão sobre os preços.
A indefinição sobre quando essa pressão será de fato aliviada é que faz surgir a preocupação do efeito da inflação sobre a economia. Por essa razão, cresce o interesse em papéis como os I Bonds e as TIPS.
Para a Raymond James, com a inflação sob controle, o Fed começará a reduzir os juros. Mas como não há clareza de quando isso começará a ocorrer, uma vez que é esperado mais uma alta dos juros, o melhor é concentrar as operações em títulos do Tesouro ou, no máximo, os municipais (os governos regionais nos Estados Unidos também podem emitir dívida).
Essas duas categorias representam 50% do mercado de renda fixa americano (42% com as treasuries e 8% com os títulos municipais)