Votorantim Cimentos mantém cautela para 2023 e reforça atenção ao caixa

Empresa aumentou faturamento em 20% no primeiro trimestre, mas sinaliza que conservadorismo deverá seguir mesmo com queda dos juros em agosto

Rikardy Tooge

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Apesar de um crescente otimismo das empresas de capital intensivo com o início da queda de juros em agosto, a Votorantim Cimentos (VC) prefere se manter conservadora. Não que o afrouxamento monetário não seja importante, mas a tendência é de que a maior procura por moradias ou obras de infraestrutura ainda leve um tempo até chegar aos fornecedores de insumos.

“O setor de construção é feito de ciclos longos, então os efeitos não são imediatos. O novo Minha Casa Minha Vida pode contribuir, vemos uma demanda constante para o setor de infraestrutura, mas ainda é cedo.”, reforça Bianca Nasser, CFO global da VC, ao InfoMoney.

Diante disso, Bianca mantém os pés firmes na estratégia traçada para este ano, que é fazer uma gestão conservadora do caixa da empresa, ou como costuma dizer, o “liability management“. “Nós não mudamos nosso planejamento em função de uma possível queda nos juros. Nosso objetivo segue o de manter um perfil de dívida controlado”.

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A VC terminou o primeiro trimestre do ano com a alavancagem, métrica que considera a dívida líquida pelo Ebitda, em 1,78 vez, nível considerado baixo para o segmento e também inferior ao estipulado pela gestão, de 2,5 vezes. No fim de março, a Votorantim Cimentos possuía R$ 3,6 bilhões em caixa, sendo 40% em moeda forte, montante que cobre as obrigações financeiras pelos próximos quatro anos.

Bianca Nasser, CFO da Votorantim Cimentos: estrutura de capital é o foco (Divulgação)

A CFO diz que a empresa aproveitou o momento de custo de capital menor da pandemia para aprimorar a estrutura de capital. Bonds emitidos no exterior foram recomprados e ainda ocorreram M&As no período.

Em 2020, a empresa expandiu sua atuação na América do Norte com fusão de suas operações com a canadense McInnis. No ano seguinte, a empresa comprou a espanhola HeidelbergCement, concluindo a aquisição no fim do ano passado. “Nós entendemos que o nosso momento ainda é de consolidar nossas aquisições recentes”, acrescenta a executiva.

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A CFO da Votorantim Cimentos lembra que, sazonalmente, o terceiro trimestre do ano é o mais forte da empresa. Nesse sentido, observa que será importante captar uma inflexão de cenário nas vendas entre julho e o fim de setembro para ter maior clareza dos próximos passos.

Para este ano, apesar da cautela, a empresa aumentou em 25% seu capex, para R$ 2,5 bilhões, com o objetivo de avançar na modernização de suas plantas para fazer frente a uma agenda de descarbonização da atividade.

Sinal ao mercado de capitais

Em maio, a Votorantim Cimentos obteve registro “categoria A” na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que é aquele que permite à empresa fazer uma oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês). A VC é sempre um nome lembrado para uma eventual listagem na Bolsa e o anúncio gerou expectativa no mercado de que o IPO estivesse mais próximo.

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Neste momento, Bianca Nasser afirma que a listagem não está próxima e que acha difícil alguma conversa avançar ainda em 2023. Mas reforça que o registro A da CVM emite dois sinais ao mercado. O primeiro, de que agora eles poderão fazer oferta pública de debêntures, o que permite melhores condições de emissão. O outro recado é que, sim, o IPO ainda é uma estratégia de longo prazo para a Votorantim Cimentos.

“Já que era para pedir o registro para emissões públicas, resolvemos já fazer na ‘categoria A’ para mostrar que estamos de prontidão [para um IPO]. Seguimos avaliando o mercado e não temos urgência. Nossa estrutura de capital tem mostrado isso”, completa Nasser.

Atualmente, a VC atua em dez países, sendo o Brasil responsável por cerca de 50% dos R$ 5,8 bilhões de receita líquida no primeiro trimestre deste ano, crescimento de 18% em relação a igual período de 2022. O lucro líquido do trimestre foi de R$ 78 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 317 milhões no mesmo comparativo.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br