Interesse por fundos de ações e multimercados sobe com corte de juros; veja as subclasses que devem despontar

Fundos de small caps, quantitativos e long e short são algumas opções que podem performar bem no segundo semestre deste ano, na visão de especialistas

Bruna Furlani

(Getty Images)
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A melhora do humor do investidor brasileiro impulsionada pela sinalização de corte de juros à frente tem ajudado a trazer de volta quem havia resgatado dinheiro de produtos mais arriscados com o avanço da Selic.

Uma pesquisa feita pela XP com assessores entre os dias 7 e 14 de julho deste ano trouxe que o interesse de clientes por fundos de ações chegou ao maior percentual desde o começo deste ano, batendo 24% em julho. O resultado foi obtido após o questionário perguntar: fora da renda variável, quais outros ativos os clientes estariam interessados em alocar?

Um reflexo dessa volta de apetite pode ser visto também nos números de captações deste mês. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que os depósitos líquidos (entradas menos saídas) de fundos de ações estão positivos até o dia 14 agora, em R$ 422,4 milhões.

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“Tivemos um segundo trimestre muito bom para ações. O arcabouço fiscal tirou o risco de cauda do mercado e as pessoas físicas são muito influenciadas por preço”, observa o CIO da Suno Wealth, João Arthur Almeida. Para o especialista, os dados são um indicativo de que a virada de fluxo para os fundos de ações pode estar próxima.

Fundos de ações com investimento fora são destaque no mês

Em julho, os produtos que têm puxado os depósitos são os fundos de ação com investimento no exterior, que acumulam entradas líquidas de R$ 1,2 bilhão no acumulado até o dia 14.

O maior interesse não é à toa. A subclasse é a que apresenta melhor retorno entre os fundos de ação no acumulado do ano até 14 de julho, de 11,78%, em média.

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Na contramão de boa parte das projeções de economistas, o primeiro semestre foi marcado pelo adiamento da recessão global e um verdadeiro rali de papéis mais ligados à inteligência artificial (IA), que ajudaram a liderar os ganhos de produtos que alocaram nesses papéis.

Apesar da alta registrada no semestre, Almeida, da Suno, diz que está mais reticente com as ações americanas, porque os preços já estão muito elevados. No acumulado do ano, papéis como o da Nvidia (NVDC34), por exemplo, apresentam alta de mais de 187%.

Além disso, o profissional pondera que é difícil imaginar que as empresas continuem a entregar um crescimento tão forte quanto o visto anteriormente, mesmo que não haja uma recessão nos Estados Unidos ou que ela seja muito suave.

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Quem também está mais cauteloso com a renda variável global é o chefe de alocação e fundos da XP, Rodrigo Sgavioli. Atualmente, a casa está com uma alocação underweight (abaixo da média histórica) nessa classe de ativos.

Já ao olhar para o cenário local, o especialista da XP defende que uma das classes que mais podem avançar no segundo semestre deste ano é a de Bolsa. “Juros e câmbio já estão mais bem precificados”. A Bolsa já deu uma ‘pernada’, mas pode andar mais. A diferença é que agora o investidor terá que ser mais seletivo”, destaca.

Ele explica que o múltiplo preço/lucro estava entre seis e sete vezes e que agora está em nove vezes. Para ele, a reprecificação mais forte que ocorreu é porque o Ibovespa estava “muito barato”.

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Fundos de ações: preferências

Nesse sentido, o profissional afirma que duas subclasses que podem se destacar dentro de fundos de ações são as de small caps (empresas de menor valor de mercado) e de dividendos. Apesar do otimismo, ele faz duas ressalvas.

Segundo Sgavioli, ações de small caps podem garantir retornos muito elevados, mas costumam ser mais arriscadas e mais voláteis, porque tendem a ser ações com menor liquidez.

Logo, se o investidor vai começar a se expor, é melhor que inicie com maior cautela por outro tipo de fundo de ação, pondera. “Se vai fazer o primeiro voo, o melhor é tentar não ter tanta turbulência nesse começo”, diz.

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Já ao comentar sobre fundos de dividendos, o profissional observa que os produtos podem ser boas opções, mas afirma que é preciso levar em conta os riscos, já que o governo já deu declarações favoráveis para que haja mudanças na tributação de companhias que são boas pagadoras de dividendos.

Fundos multimercados: apostas

Para além de mudanças no apetite dos investidores para fundos de ações, cresceu também o interesse por fundos multimercados. O mesmo estudo da XP apontou que 49% dos clientes se mostraram interessados em alocar nesse tipo de produto em julho, o que representa um aumento de 5 pontos percentuais em relação ao mês anterior.

Apesar do avanço, é preciso destacar que o percentual de interesse não foi o maior do ano: em janeiro, 50% dos entrevistados manifestaram vontade de alocar em multimercados, para além da renda variável.

O avanço mais tímido também pode ser visto em números. Dados da Anbima mostram que, no acumulado do mês até o dia 14 de julho, os multimercados estão com mais saídas do que entradas em R$ 2,2 bilhões.

Um dos motivos para a demora na volta do investidor é que ele pode estar olhando o retrovisor, na avaliação de Almeida. O especialista da Suno lembra que a performance de maior parte dos fundos multimercados está bem atrás do CDI neste ano.

No acumulado do primeiro semestre, o retorno médio dos produtos de gestão ativa no Brasil, medido pelo Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), ficou em 3,76%, abaixo dos 6,50% do CDI.

“O cotista não costuma esperar. Se os fundos estivessem dando 140% a 150% do CDI, a situação provavelmente seria outra”, pondera o profissional da Suno, destacando que a situação foi pior para os multimercados com estratégia macro.

Multimercados macro: 50% da carteira

Apesar de registrar um começo de ano mais difícil, Sgavioli, da XP, acredita que os multimercados macro devem seguir parte do portfólio de investidores que alocam em multimercados, mas defende que agora o percentual alocado deve ser menor.

Se antes o profissional da XP costumava recomendar uma alocação de 70% em multimercados do tipo macro, agora o especialista sugere uma alocação de 50%. A explicação, diz, é que vários gestores macro ainda estão destravando posições vendidas (que se beneficiam da queda) em Bolsa Brasil e uma boa parte dos gestores está apostando na apreciação do real contra o dólar.

“Há menos teses agora. Prefiro que o gestor continue com o risco do fundo a tentar teses que não são tão óbvias”, diz. “Um caminho pode ser começar a buscar posições aplicadas [que se beneficiam da queda dos juros] em países desenvolvidos ou emergentes”, avalia Sgavioli.

Levando em conta que metade da alocação em multimercados deve estar em produtos com estratégia macro, a outra deve ser dividida entre multimercados quantitativos (30%) e multimercados do tipo long e short (20%), diz o profissional da XP.

“Quando está sem grandes teses, o quantitativo consegue ganhar dinheiro. Se houver uma queda ou alta abrupta, ele pode funcionar como um seguro”, reforça Sgavioli.

Já os long e short possuem a vantagem de estar comprando e vendendo ações na mesma operação. “É possível jogar melhor e extrair mais valor”.