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Desde que as fintechs ganharam espaço relevante no mercado financeiro do Brasil, a expressão “conta remunerada” se tornou comum. Aplicar o dinheiro que o investidor deixa parado nas plataformas é uma das estratégias dessas empresas para conquistar clientes. E vem dando certo.
O rendimento das contas geralmente se aproxima da taxa do CDI, principal referência de retorno dos investimentos de renda fixa. Com a taxa em cerca de 13,65% ao ano, deixar o dinheiro se multiplicando em uma conta de fintech parece um bom negócio – mas será mais vantajoso que o investimento no Tesouro Selic, título público disponível no Tesouro Direto?
Para comparar as duas modalidades, o InfoMoney considerou três contas remuneradas conhecidas: a do Nubank, a do Mercado Pago e do PicPay. O retorno das duas primeiras é de até 100% do CDI, ou seja, 13,65% ao ano atualmente. Na fintech capixaba PicPay, a remuneração é de 102% do CDI.
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Já os títulos do Tesouro Selic rendem conforme a Selic Over – que, assim como o CDI, normalmente está 0,1 ponto percentual abaixo da Selic “meta”, determinada a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Assim, atualmente, os títulos do tipo Tesouro Selic remuneram com 13,65% ao ano mais uma pequena taxa, que varia entre 0,06% e 0,16% ao ano.
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Com o rendimento praticamente igual, é preciso considerar os riscos de cada aplicação. Nesse quesito, vantagem para o Tesouro Selic. “Os títulos do Tesouro Direto são os investimentos mais seguros do mercado porque o devedor é a própria União”, explica Calil Filippelli, gestor de fundos da Ouro Preto Investimentos.
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Ele completa dizendo que “uma crise econômica generalizada causaria um calote nesses títulos”. Crise que, inclusive, certamente afetaria o setor financeiro. Ou seja, se o governo desse calote nos investidores, provavelmente os bancos também teriam dificuldades de honrar seus compromissos.
Mesmo atrás no quesito risco, as contas remuneradas ainda não são consideradas arriscadas. “Há o risco de a instituição enfrentar problemas de liquidez e solvência, mas é importante ter em mente que depósitos dessa natureza são garantidos pelo FGC [Fundo Garantidor de Crédito]”, lembra Ricardo Schweitzer, analista CNPI independente.
Como as fintechs investem em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) ou RDBs (Recibos de Depósito Bancário) para entregar a rentabilidade prometida aos clientes, o FGC cobre aplicações de até R$ 250 mil.
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Quando começa a render?
Outro ponto que o investidor precisa considerar ao deixar o dinheiro rendendo em contas digitais é o tempo de aplicação necessário para o início do rendimento.
No Nubank, o dinheiro que fica guardado na conta por menos de 30 dias não rende nada. No 31º dia, no entanto, o cliente recebe uma quantia referente ao período, como se o dinheiro estivesse rendendo desde o início. A partir daí, a rentabilidade passa a ser diária.
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Já Mercado Pago e PicPay oferecem rendimento diário desde o primeiro dia de aplicação. As aplicações feitas no Tesouro Selic também tem rentabilidade diária já a partir do início.
Veja quanto R$ 100 mil rendem mensalmente no Tesouro Selic e nas contas remuneradas, com a Selic ainda a 13,75% ao ano:
Produto |
Rendimento mensal bruto |
PicPay | R$ 1.092,19 |
Nubank | R$ 1.071,98 |
Mercado Pago | R$ 1.071,98 |
Tesouro Selic | R$ 1.071,98 |
Fonte: Fernando Zetune Marrocco, CFP da Braúna Investimentos
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O Tesouro Selic ainda oferece uma pequena taxa além da variação da Selic Over – o papel com vencimento em 2026, por exemplo, pagava um ágio de 0,0719% nesta quarta-feira (26). Porém, Fernando Zetune Marrocco, planejador financeiro CFP da Braúna Investimentos, explica que a taxa extra só é oferecida ao investidor que carrega o título até o vencimento e tem pouquíssima representatividade no resultado, se anualizada.
Ainda é preciso considerar que, seguindo estimativas do mercado financeiro, o rendimento desses ativos vai começar a cair a partir de agosto, quando o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) deve cortar a Selic para 13,50% ou 13,25% ao ano. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, que reúne as projeções de agentes do mercado, a expectativa é de que a taxa básica de juros encerre 2023 em 12% ao ano.
Para Ricardo Schweitzer, os rendimentos ainda são baixos e o investidor “não deveria deixar todo seu dinheiro em uma aplicação assim”. Além de mitigar riscos, a diversificação também é importante para buscar retornos mais atrativos. “É uma estratégia inteligente para o investidor que busca mais rentabilidade e menos risco”, comenta a planejadora financeira Paula Sauer, que completa: “Diversificar não é apenas colocar uma parte do dinheiro em um banco diferente, mas buscar outros ativos”.
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Impostos e taxas
Tanto os títulos do tipo Tesouro Selic quanto as contas remuneradas estão sujeitos ao IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e ao Imposto de Renda. Ambos seguem uma tabela regressiva e são cobrados sobre os rendimentos.
O IOF começa com alíquota de 96% no primeiro dia de aplicação e é zerado no 30º dia. Já o Imposto de Renda, a alíquota varia entre 15% e 22,5%. Se o resgate for feito em menos de 180 dias, o IR em cima do rendimento será de 22,5%, mas se a saída acontecer depois de 720 dias, será cobrada a alíquota mínima de 15%.
No entanto, a conta do Mercado Pago se destaca nesse quesito. A empresa afirma que não repassa a cobrança de IOF para os clientes. Logo, uma aplicação de 15 dias já rende conforme o CDI e não tem IOF. Ao InfoMoney, a empresa já afirmou que “o imposto não é obrigatório no modelo de conta remunerada” oferecido por ela.
Ainda é preciso considerar que os investimentos no Tesouro Selic acima de R$ 10 mil têm taxa de custódia de 0,2% ao ano. A cobrança é feita em duas parcelas semestrais de 0,1% e calculada somente sobre o que exceder os R$ 10 mil. Ou seja, para investimentos de R$ 10,5 mil, será cobrado anualmente 0,2% de R$ 500.
Com a taxa de custódia, o rendimento mensal dos R$ 100 mil aplicados no Tesouro Selic cairia para R$ 1.055,17.