Carrefour (CRFB3) salta 8% após resultado; rentabilidade é destaque para analistas e executivos falam que “mais está por vir”

Companhia agora quer surfar com maturação de lojas, após conversões do BIG, captura de sinergias e avanço do braço financeiro

Lara Rizério Vitor Azevedo

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Resultados fracos, mas acima das expectativas. Essa é a visão dos analistas para os números do Carrefour Brasil (CRFB3), que registrou baixa de 95,2% no lucro líquido ajustado no segundo trimestre de 2023 em relação a igual período do ano passado, saindo de R$ 600 milhões para R$ 29 milhões.

Com isso, nesta quarta-feira (26) após balanço, os ativos fecharam em alta de 8,09%, a R$ 12,43.

De acordo com a varejista, o resultado foi impactado pelo impacto financeiro de sua integração com o Grupo BIG.

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“Os resultados de Carrefour Brasil no segundo trimestre foram fracos, com uma dinâmica macro ainda desafiadora e continuação das tendências de baixa lucratividade no BIG. No entanto, os números superaram todas as nossas expectativas”, avalia o Itaú BBA.

Segundo os analistas do banco, os pontos positivos do resultado incluíram: um aumento de 0,8 ponto porcentual (p.p) na margem (rentabilidade) bruta em relação ao ano anterior no braço de Atacarejo, impulsionado por melhores negociações com fornecedores, após a integração do Grupo BIG; a maturação gradual das lojas convertidas, com a margem Ebitda (ou Ebitda, lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita) atingindo o ponto de equilíbrio (de -5,6% em 2022); tendências saudáveis de lucratividade nas lojas orgânicas do Atacarejo; e melhoria na dinâmica de geração de fluxo de caixa (alívio de caixa de R$ 2,5 bilhões em relação ao trimestre anterior).

Rentabilidade é destaque

“Se essas tendências continuarem nos próximos trimestres, o Carrefour poderá apresentar um melhor momento operacional. Diante das baixas expectativas do mercado para os resultados da empresa no período, não descartamos uma reação marginalmente positiva da ação no pregão”, avaliaram os analistas do BBA em análise antes da abertura do mercado.

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Por ora, os analistas do banco mantiveram recomendação neutra (desempenho em linha com a média do mercado) para CRFB3, com preço-alvo de R$ 11,40 ao fim de 2023, até reajuste do modelo.

A XP também viu o Carrefour Brasil reportando resultados acima das suas estimativas no 2T23, principalmente por uma melhor dinâmica de rentabilidade, mas também de faturamento.

Os analistas destacam que o indicador de vendas mesmas lojas (SSS) consolidado foi negativo em -3% na base anual (ex-postos de gasolina), impactado pelo desempenho pressionado do atacarejo (-4%) dada a forte base de comparação, deflação de commodities e níveis de estoques mais baixos do canal B2B, enquanto o varejo ficou estável pela recuperação do segmento não alimentar que acabou compensando a performance negativa do canal alimentar.

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“Olhando para a rentabilidade, a margem bruta expandiu 0,7 p.p.  dadas as melhores condições comerciais com fornecedores após a integração do BIG, enquanto o Ebitda Ajustado permaneceu pressionado (-2,0p.p. ao ano) pelas despesas do processo de integração do Grupo BIG e maturação das lojas”, avaliam os analistas.

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Já o Banco Carrefour foi uma surpresa positiva, com resultados bem acima das suas estimativas dado o forte crescimento de receita impulsionado pelo Atacadão, embora os níveis de inadimplência tenham apresentado crescimento sequencial e na base anual.

“Por fim, apesar da surpresa nos resultados operacionais, a companhia teve um prejuízo líquido (não ajustado) de R$ 203 milhões no trimestre, que se compara com nossa estimativa de R$ 70 milhões, impactado por resultados financeiros mais pressionados e pagamento de impostos de renda sobre ganhos de capital da recente operação SLB, além de mudanças no reconhecimento de impostos diferidos”, avalia.

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Já para a Genial, que tem recomendação neutra para os ativos CRFB3, os números foram “anêmicos”, com o resultado do trimestre guiado por quatro grandes tópicos: i) desinflação alimentar; ii) ) lojas fechadas para conversão, levando a uma fraca diluição de despesas; iii) alíquota de Imposto de Renda ainda distorcida e iv) mas também vendo o Banco Carrefour (CSF) acima de suas expectativas.

Executivos destacaram maturação de lojas convertidas pelo Carrefour

Se analistas se surpreenderam positivamente com a performance do Carrefour no trimestre, os executivos da companhia enxergam que há espaço para ir além – ao menos foi isso que tentaram mostrar na teleconferência de resultados.

Quanto à rentabilidade, Stéphane Maquaire, diretor executivo (CEO), e Eric Alencar, diretor financeiro (CFO), afirmou que a companhia conseguiu amenizar os problemas impostos pela Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 49 conversando com fornecedores e usando seu maior poder de barganha proveniente da expansão.

“A gente negociou entre 0,5% e 1,4% de desconto nos preços que pagávamos, o que resultou em estabilidade de margens. Não houve perda de margem. Com a entrada do BIG, a gente aumentou ainda mais a escala e ainda pegamos as melhores práticas de cada um”, mencionou o CFO, destacando também toda a experiência do Atacadão, braço de atacarejo do grupo, em negociar preços.

Eles  explicaram que o modelo sofre um pouco na sua receita por conta do atual cenário macroeconômico. No entanto, se a deflação faz os clientes do B2B (business to business) a montarem menos estoques, o próprio Carrefour também surfou diminuindo seu número de estoque de 77 para 70 dias,.

“Se a gente fica com um estoque grande no momento em que cada dia ele vale menos você tem uma situação que é para a margem bruta. Temos, além disso, tido a capacidade de estar comprando bem”, falou Maquaire.

A redução do estoque ajudou a companhia ter um bom resultado de caixa, apesar dos gastos com a transformação das lojas BIG ainda pesarem no acumulado dos últimos doze meses. Para o terceiro trimestre, contudo, o CEO afirmou que é esperado um aumento de estoque, o que é normal para o período, visto as preparações para a Black Friday e para as festas de fim de ano.

“No consolidado, nossa geração de caixa ainda está impactada pela ritmo acelerado de conversão e reabertura de lojas, mas isso deve ser normalizado ao longo dos próximos trimestres”, mencionou o diretor executivo.

Os diretores do Carrefour ainda aguardam mais impactos das mudanças do BIG. Segundo eles, por exemplo, apenas metade das sinergias foram implementadas até agora, com R$ 1,2 bilhão capturados. Fora isso, a maturação de lojas e o avanço do Banco Carrefour nas novas unidades também são fatores aguardados com certo otimismo pela diretoria.

“Nossos esforço agora se voltam para o aumento das vendas e para os impactos relacionados à integração. Os gastos com conversões de lojas devem começar a diminuir agora nesse terceiro trimestre e o que devemos ver o impacto relacionado a curva normal de maturação de lojas”, explicam, mencionando que o processo completo pode durar até 36 meses.

“Traremos um foco para a acelerar a captura de clientes para o Banco Carrefour nas lojas convertidas. Os novos clientes estão entrando com inadimplência baixa, mas não é algo que se vê em um trimestre”, fala Alencar.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.