Apesar de melhora na inadimplência, analistas ainda esperam dividendos modestos no Santander

CEO espera que o governo tenha entendimento diferenciado sobre os juros sobre capital próprio para a indústria financeira

Katherine Rivas

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O Santander (SANB11) apresentou melhora em seus números do segundo trimestre, mas ainda não conseguiu convencer ao menos parte do mercado – que prevê em um longo caminho a percorrer para a instituição recuperar a rentabilidade do passado.

Quando o assunto é dividendos, a visão dos analistas é semelhante: embora a inadimplência tenha recuado, a postura conservadora do banco na carteira de crédito não permite um lucro elevado em 2023, o que deve ter reflexo na remuneração dos acionistas.

O Santander reportou lucro líquido recorrente de R$ 2,309 bilhões no segundo trimestre, 45% inferior ao reportado no mesmo intervalo de 2022. O retorno gerencial sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) foi de 11,24% no período.

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Nos seus tempos gloriosos, o Santander já chegou a ter um ROE entre 15% e 20%, patamar que, segundo seu CEO, Mario Leão, deve levar ainda “um certo número de trimestres” para ser recuperado. “Certamente não será este ano que o retorno sobre patrimônio vai chegar aos níveis desejados”, apontou em entrevista coletiva.

Para Hugo Queiroz, sócio e diretor da L4 Capital, o balanço do Santander indica que o banco caminha para retomar um bom nível de dividendos. Ele avalia que o Santander deve continuar renovando a carteira de crédito, atualmente 60% formada por uma nova safra de contratos. “O risco dessa safra é menor, então veremos uma necessidade menor de provisionamentos e, naturalmente, uma inadimplência mais baixa”, destaca.

Com risco menor e rentabilidade maior, o banco teria mais espaço para pagar dividendos, segundo Queiroz. Contudo, o conservadorismo do banco ainda deve se manter por alguns meses diante da desaceleração econômica e dos juros ainda elevados. “O banco ainda vai ser prudente nessa reversão de provisões para devedores”, pontua Queiroz.

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Para Renato Reis, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos, o conservadorismo do Santander no crédito acabou reduzindo os spreads – diferença entre o custo do recurso emprestado e captado – afetando a lucratividade. Por outro lado, isso permite reduzir as provisões para devedores.

“O Santander vai ganhar menos com o empréstimo, mas vai provisionar um valor menor também”, explica Reis. O analista enxerga o fator inadimplência como um dos mais relevantes para instituições financeiras e destaca que na inadimplência curta – abaixo de 90 dias – já foi possível ver uma queda em relação ao primeiro trimestre, enquanto a longa – acima de 90 dias – apresenta crescimento baixo.

Reis acredita que ao longo dos próximos trimestres o lucro do Santander vai melhorar, dadas as mudanças na sua estrutura de balanço. “As safras novas de empréstimos estão com inadimplência muito mais baixa”, diz.

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Payout histórico e dividendos

Os analistas consultados pelo InfoMoney acreditam que o payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) do Santander deve se manter em linha com o histórico, no patamar entre 40% e 50%.

No entanto, com um lucro menor, o dividend yield deve ser mais modesto. Queiroz, da L4 Capital, espera um dividend yield de entre 3,6% e 4% para 2023. “O risco está melhorando, mas ainda é alto, com taxa de juros e alguns riscos adicionais de queda de spread, então todos esses elementos vão fazer o banco ser prudente”, justifica.

Para 2024, ele vislumbra melhora no lucro e na rentabilidade. “O Santander pode até ter um payout adicional para recuperar o tempo perdido”, observa.

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Júlio Borba, analista da Benndorf Research, acredita que 2023 não será um bom ano para o Santander no quesito dividendos. “Projetamos dividend yield de 5% com payout de 50%”, destaca.

Segundo o analista, o Santander até deve se beneficiar da queda da Selic e provável melhora do cenário de crédito e inadimplência, mas ainda é insuficiente para ter uma visão positiva do banco.

Reis, da DVInvest, está mais otimista, dada a redução de gastos com provisões para devedores, e espera que o dividend yield de SANB11 feche o ano entre 7% e 8%. “Em um cenário muito positivo, poderiam até alcançar 9%”, reforça. O payout ficaria entre 50% e 60%, segundo o analista.

Questionado pelo InfoMoney, o CEO do Santander destacou que não espera uma alteração substancial em relação a como o banco vem remunerando os acionistas.

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Vale comprar Santander – ou melhor apostar em outros bancos?

Queiroz destaca que se o objetivo é investir em bancos com forte potencial de retomada, há melhores oportunidades no Bradesco (BBDC4) e no Banrisul (BRSR6) do que no Santander. Para o Bradesco, ele calcula dividend yield de entre 6% e 7% neste ano.

Borba prefere Banco do Brasil, pela alta lucratividade e boa composição da carteira de crédito, projetando dividendos na casa de 10% neste ano.

Já para Reis, as melhores oportunidades estão no Itaú (ITUB4), que possui uma inadimplência controlada e a melhor carteira de crédito entre os pares. Ele projeta dividend yield de 5% para 2023. Para ele, Banco do Brasil e Santander oferecem teses opostas.

No BB, o destaque é a inadimplência baixa em carteiras como agronegócio e consignado para funcionários públicos. “O Banco do Brasil está se dando ao luxo de alavancar a carteira de crédito, coisa que outros bancos não estão fazendo”, diz Reis.

Na contramão, o Santander está desalavancando para diminuir as provisões e ampliar o lucro futuro. O analista projeta para Banco do Brasil e Santander dividend yield na casa de 8% neste ano.

E os juros sobre capital próprio?

As falas recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre possível extinção dos juros sobre capital próprio (JCP) foram indigestas para o setor bancário. No Santander, os JCPs representaram, na média, 57,3% das distribuições de proventos nos últimos cinco anos.

Questionado pelo InfoMoney sobre o impacto do fim dos JCPs, o CEO do Santander destacou a necessidade de ter um entendimento do governo de que a indústria financeira é diferente das outras porque os bancos precisam ter uma base de capital elevada para ter solidez e fazer empréstimos.

“O que vamos buscar é um nivelamento de visão, de compreensão sobre o papel que o capital tem nos bancos, que é diferente das indústrias e empresas de serviços. A gente vai tentar mostrar que a discussão de JCP para bancos tem que ter um olhar adicional”, afirmou Leão.

Para o CEO do banco, uma decisão isolada sobre o fim do JCP, sem redução de alíquotas do Imposto de Renda e a CSLL, seria um movimento ruim que taxaria ainda mais a indústria financeira e prejudicaria até o consumidor, porque teria como consequência um crédito mais caro para os brasileiros.

“Esperamos que não aconteça e que o governo se sensibilize com o conceito de JCP para a indústria financeira”, disse.

Para os analistas, uma saída provável para o banco seria pagar dividendos com menos frequência e complementar a remuneração com recompras e bonificações.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.