Dólar fecha em alta de 1,94% e beira os R$ 4,90 com Selic a 13,25% ao ano e aversão a risco no exterior

O nível dos juros é apontado como um apoio para o real ao torná-lo mais atraente para estratégias de “carry trade”

Equipe InfoMoney

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O dólar registrou uma sessão de expressiva alta em relação ao real nesta quinta-feira (3), após o corte da Selic acima do esperado por boa parte do mercado na véspera. Na reunião concluída ontem, a quinta de 2023, a autoridade cortou a taxa de juros básica em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano.

A divisa americana comercial fechou com avanço de 1,94%, a R$ 4,898 na compra e R$ 4,899 na venda, chegando a R$ 4,90 na máxima do dia.

O nível dos juros é apontado como um apoio para o real ao torná-lo mais atraente para estratégias de “carry trade”, que buscam lucrar com diferenciais de custos de empréstimo entre economias.

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No entanto, alguns participantes do mercado argumentam que, mesmo após o início do afrouxamento da política monetária do BC, a Selic seguirá em nível restritivo, dando suporte à moeda brasileira, ao mesmo tempo que prevalece uma visão mais otimista sobre a conjuntura doméstica. Soma-se a visão de que o corte de juros pelo Copom favorece a entrada de fluxo estrangeiro em renda variável por aqui, o que poderia compensar a menor atratividade do carry trade.

Além disso, conforme apontou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, disse à Reuters, “o impacto no mercado de câmbio acaba sendo um pouco limitado pela forte sinalização que o BC deu de que não pretende acelerar o ritmo de cortes”, ao mesmo tempo que parte do risco de um corte menos parcimonioso da Selic já havia sido precificado pelos operadores.

Outro fator possivelmente por trás da forte alta do dólar citado por participantes do mercado é uma preocupação com a possibilidade de que a postura monetária mais branda do Copom reflita, de alguma forma, a pressão política exercida desde o início do ano pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com um coro de autoridades cobrando cortes da Selic.

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“O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, teve uma mudança bastante significativa de postura em relação à última decisão do Copom, quando houve unanimidade entre os diretores para que se mantivesse estável a taxa Selic em um comunicado duro, sem sequer citar a possibilidade de reduções futuras da taxa de juros”, disse Leonel Oliveira Mattos, analista de inteligência de mercados da StoneX.

“É preciso mencionar o contexto dessa decisão, que agora iniciou dois diretores indicados pelo novo governo Lula. Então, coincide esse período, e os agentes de mercado acabam se questionando se essa é apenas uma coincidência ou não.”

No geral, agentes no mercado dizem que seria ruim para o ambiente de negócios do Brasil qualquer tipo de interferência política no Banco Central, que é independente. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na véspera que a decisão do Copom foi baseada inteiramente em critérios técnicos e não representou uma concessão às críticas do governo.

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Cabe destacar ainda que a sessão também foi de aversão ao risco para os principais índices mundiais, o que também favorece a busca por ativos considerados mais seguros, entre eles o dólar.

O movimento de queda dos ativos de risco no exterior segue a sessão da véspera, com aversão ao risco após a Fitch Ratings cortar o rating de longo prazo dos Estados Unidos para AA+ de AAA na terça-feira, citando a “esperada deterioração fiscal” nos próximos três anos, bem como o enfraquecimento da governança.

Contribuindo para o movimento de aversão ao risco, Rostagno destacou que dados econômicos piores do que o esperado na zona do euro e informações sobre mercado imobiliário chinês ajudam a elevar preocupação com o crescimento econômico mundial, com moedas emergentes perdendo frente ao dólar.

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Dados desta manhã mostraram que a retração na atividade empresarial da zona do euro piorou mais do que se pensava inicialmente em julho.

Agora, o foco dos mercados na frente dos dados econômicos deve ficar sobre um relatório de empregos dos Estados Unidos de sexta-feira, que pode ajudar investidores a entender se o Federal Reserve já encerrou ou não seu intenso ciclo de aperto monetário.

“Isso acho que tem sim uma relevância maior no que se refere a dados, já que poderá nos traçar aí uma trajetória de um dólar mais forte nos próximos meses, ou não. Isso vai depender do que vai sair no ‘payroll’ de amanhã”, disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

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(com Reuters)