Lojas Renner (LREN3) está de olho em menores faixas de preço para se adaptar à nova realidade do brasileiro

Companhia ainda fala em maior assertividade e melhor gestão de estoques para superar momento macroeconômico desafiador

Vitor Azevedo

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A Lojas Renner (LREN3) está de olho na nova realidade dos brasileiros depois de um período de inflação e juros altos destruir parte da renda da população. Em entrevista ao InfoMoney após o resultado do segundo trimestre de 2023, o diretor financeiro (CFO) da companhia, Daniel Martins, disse que a varejista de moda pretende se posicionar mais em produtos de entrada, ou seja, mais baratos.

“O segundo trimestre foi importante para fazermos ajustes na operação. Mudamos a nossa equação de valor, com moda, qualidade e preço, saímos agora com uma equação mais atrativa. Teremos maior oferta de produtos de entrada, em uma faixa de preço mais acessível”, falou o executivo.

Segundo ele, outro foco nesta frente é a assertividade. O endividamento da população – muito elevado, com quase 50% da faixa economicamente ativa com o “nome sujo” – gera também um comportamento mais seletivo, onde a companhia tem de acertar o que o cliente procura.

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“Entramos no terceiro trimestre com boa parte da coleção a ser desenvolvida na temporada, reagindo às necessidades do consumidor”, disse Martins, mencionando que a reatividade da companhia melhorou muito desde o pré-pandemia.

O CFO defende que, no entanto, os preços menores não devem impactar as margens. Fatores macroeconômicos, como a deflação e câmbio, se juntam aos esforços da companhia, como negociação com fornecedores e melhor gestão de coleções, na defesa da rentabilidade.

O esperado pela empresa é que o foco em produtos mais baratos irá, inclusive, melhorar seus ganhos. O maior crescimento das vendas se transforma em maior receita e, decorrentemente, em diluição dos gastos.

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No segundo trimestre, a Lojas Renner justificou que sua margem bruta recuou (de 56,1% no ano passado para 53,9% neste ano) por conta da maior necessidade de remarcações, consequência dos menores volumes vendidos.

Além da situação econômica, o inverno mais brando também impactou as vendas, com as pessoas deixando de comprar roupas pesadas. Outro problema teria sido a base forte de comparação, sendo que no ano passado as pessoas se movimentaram para sair de casa, comprando roupas novas, após dois anos de pandemia e restrições à circulação da população.

Lojas Renner de olho em versatilidade

A ideia da varejista de moda, então, parece ser apostar em versatilidade. Se adaptar às necessidades dos consumidores de forma mais constante.

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“A gente, no terceiro trimestre, tem logicamente o movimento de aumentar estoques. Mas estamos falando de reatividade. Vamos deixar parte do estoque para ser produzido durante a própria temporada”, falou Daniel Martins.

O executivo explica que a melhora na reatividade deve, inclusive, liberar capital. A Lojas Renner, no segundo trimestre, teve um fluxo de caixa livre de R$ 262,9 milhões, número consideravelmente melhor do que no mesmo período de 2022, atribuído justamente a menor necessidade de capital de giro na formação de estoques – o que seria estrutural.

“À medida que a economia melhorar, que o consumidor restabelecer seu poder de compra, a gente também vai se movimentar. O cliente vai poder voltar a comprar outras opções de preços que nós oferecemos na nossa pirâmide”, explicou o diretor.

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Mas a melhora no cenário macroeconômico não deve, para a Lojas Renner, ser tão acelerada assim.

Juros, desenrola e Remessa Conforme

Apesar de haver toda uma expectativa de investidores quanto à virada de ciclo econômico brasileiro, com o Banco Central tendo nessa semana diminuído a Selic de 13,75% para 13,25%, a Lojas Renner vê que a melhora da economia deve ser mais vagarosa.

“Sem dúvida uma queda da taxa de juros ajuda, mas a gente ainda tem que ver como o nível de inadimplência vai subir. O segundo trimestre foi pressionado para o nosso braço financeiro, a Realize. Isso porque o nível de inadimplência continuou a subir, principalmente em maio”, comentou.

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A Realize, no balanço, trouxe um prejuízo de R$ 53,7 milhões, com perdas de crédito crescendo 40,7% na base anual, para R$ 396,1 milhões.

O Desenrola, programa de renegociação de dívidas do governo, por enquanto ainda não começou. A renegociação de dívidas de até R$ 100, para Martins, ainda é pouca, sendo que a dívida média da população brasileira, segundo estatísticas, está em R$ 4 mil. “Ainda está cedo para falarmos de qualquer melhora pelo programa”, pontuou.

A Lojas Renner, então, reage buscando melhoras operacionais e sendo no seu braço financeiro mais seletiva na concessão de crédito.

“Quando comparamos nossa carteira em dia na base sequencial, ela fica flat (estável), e na base anual, o crescimento foi de 13%, para R$ 6,17 bilhões . Em dia, porém, o crescimento é de 6%. Estamos sendo mais criteriosos. As novas safras já trazem comportamento bem melhor do que as antigas”, falou.

Por fim, quanto ao Remessa Conforme, programa do Governo Federal para regularizar as importações, a Lojas Renner vê uma movimentação positiva, mas ainda insuficiente.

“A gente vê uma evolução positiva. Saímos de um ponto que o Governo talvez nem tinha conhecimento, sem nenhuma ação, para um programa. Ele tenta trazer uma formalização, uma evolução. Mas a taxação proposta não é suficiente, traz uma vantagem para o importador”, comentou. “O governo, no entanto, fala que é apenas a primeira fase e que teremos isonomia. Esperamos que isso aconteça”.