Lira diz que distribuição de ministérios está “desequilibrada” e afirma que, sem “centrão”, Brasil seria Argentina

Presidente da Câmara diz que governo "não tem maioria e tem dificuldades" e reforça que nunca prezou por cargos no Executivo

Luís Filipe Pereira

Brasília (DF), 23/05/2023 - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília (DF), 23/05/2023 - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta segunda-feira (7) que “Se o Brasil não tivesse ‘centrão’, seria uma Argentina”. A declaração ocorreu durante entrevista à Rádio Mix FM de Maceió (AL), ao comentar uma possível ampliação da base governista no Poder Legislativo a partir do contexto de uma reforma ministerial.

“Muitos me tratavam assim: o deputado Arthur Lira é o sustentáculo do governo [Jair] Bolsonaro. É quem dá sustentação e quem dá apoio. Qual era o ministério que a gente tinha no governo Bolsonaro? Qual era o espaço que a gente tinha? Eu nunca prezei por isso”,  afirmou.

“Tem essas histórias de ‘ah, o Arthur quer a Saúde, o Arthur quer isso, o ‘centrão’ quer aquilo’… Primeiro que, se o Brasil não tivesse o ‘centrão’, ele seria uma Argentina”, comparou.

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Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o senador Ciro Nogueira (PP-PI), aliado de Lira, foi ministro da Casa Civil, entre agosto de 2021 e dezembro de 2022. Ao longo da disputa presidencial do ano passado, o próprio deputado se colocou como apoiador da candidatura do então presidente à reeleição.

Após a derrota de Bolsonaro, Lira foi a primeira autoridade a reconhecer o resultado das eleições ‒ movimento que contribuiu na construção de pontes com Lula. Meses depois, ele foi reconduzido à presidência da Câmara dos Deputados por ampla margem de apoio: 464 votos dos 513 possíveis.

Desde então tem buscado protagonismo ao defender propostas em convergência com o governo atual, como o novo arcabouço fiscal, a reforma tributária e o PL 2630/2020 (PL das Fake News), ao mesmo tempo em que tem imposto derrotas ao Palácio do Planalto em pautas com posicionamento divergente, como no caso das alterações ao Marco do Saneamento implementadas por decreto pelo governo e no marco temporal para demarcação de terras indígenas.

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De acordo com Lira, o governo “não tem maioria e tem dificuldades” e paga o preço de ter sido eleito sem conseguir sair das urnas com uma base de deputados e senadores suficiente para alcançar maioria no Congresso Nacional.

Na entrevista, o parlamentar argumentou que o Senado tem exercido maior influência do que a Câmara nas indicações para os ministérios. Para ele, a distribuição de espaços atual da Esplanada dos Ministérios entre aliados das duas casas legislativas está “desequilibrada”.

“Tem muito Senado e pouca Câmara. Se o critério é de acomodação de partidos na Esplanada, está desequilibrado”, afirmou.

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“O governo Lula, como todo governo que se elege sem maioria, sofre. Aconteceu isso com Fernando Henrique, com Collor, Itamar, [no governo] do próprio Lula, da própria Dilma”, disse. “Temos um país presidencialista com a Constituição parlamentarista, quando a população elege um Congresso conservador e liberal, e elege um presidente liberal e progressista”, justificou.

Após a nomeação de Celso Sabino (União Brasil-PA) como ministro do Turismo, o grupo político de Arthur Lira vive a expectativa de ter outros dois representantes como chefes de pasta: Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e o líder André Fufuca (PP-MA).

A interlocutores, o presidente Lula tem sinalizado que deverá nomeá-los em breve, sem, no entanto, garantir quais seriam os ministérios a serem entregues, e qual seria o arranjo político para acomodar todos os aliados.

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Entre as pastas cobiçadas estão Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, atualmente sob o comando de Wellington Dias (PT-PI) e Esporte, chefiada pela ex-atleta Ana Moser.