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Ações da Tupperware disparam quase 700%: o que explica o movimento — e vale a pena o risco?

Alta ocorreu em menos de um mês em meio à reestruturação de dívidas da empresa, que luta por sobrevivência

Ana Paula Ribeiro

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As ações da Tupperware registram uma forte valorização nas últimas semanas. Desde o dia 20 de julho, os papéis da fabricante de potes passaram de US$ 0,67 para US$ 5,26, o equivalente a um salto de 685%. A disparada chama a atenção do investidor, que pode se perguntar: é justificado? E vale a pena entrar?

Para responder, é preciso olhar para o passado recente da empresa.

A Tupperware vem perdendo mercado nos últimos anos, o que teve reflexo em seus resultados. Em abril, a administração da empresa comunicou que poderia deixar de honrar algumas cláusulas dos contratos de crédito — em resumo, poderia não ter liquidez suficiente para pagar as dívidas e continuar com suas atividades.

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Desde então, cresceu a especulação em torno de uma possível reestruturação da dívida da empresa para evitar a falência, assunto que ganhou força na semana passada.

Na última quinta-feira (3), a companhia anunciou um acordo para reestruturação da dívida, que envolvem o adiamento do vencimento de algumas linhas de crédito que somam US$ 348 milhões. Além disso, ela teve acesso a uma nova linha de US$ 21 milhões para atender necessidades mais imediatas.

O trabalho foi costurado pelo escritório de advocacia Kirkland & Ellis, pela empresa especialista em recuperações Alvarez & Marsal e pela instituição financeira Moelis.

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“Estou confiante de que este acordo nos fornece flexibilidade financeira para continuar executando nossos esforços de recuperação de curto prazo, bem como nossa estratégia de longo prazo para criar uma marca de consumo omnicanal (diferentes canais de venda) global”, afirmou, em nota, Mariela Matute, diretora financeira da Tupperware.

Apesar do alívio de curto prazo, ainda não está claro se a empresa irá conseguir se recuperar.

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Seus desafios passam pela concorrência de produtos mais baratos, além da necessidade de investir em novos canais de venda – os potes da Tupperware começaram a ser vendidos em redes de varejo nos Estados Unidos (como a Target) apenas neste ano.

Diante do cenário, demissões e venda de ativos não estão descartadas na empresa, que já tem quase 80 anos de operação.

Movimento especulativo

O cenário delicado das finanças da empresa mostram que a disparada desenfreada do papel em pouco tempo pode ter por trás um alto grau especulativo.

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Michael Viriato, estrategista-chefe da Casa do Investidor, lembra que é grande o risco para o investidor em comprar essas ações. Apesar da alta recente, no ano, as ações da Tupperware acumulam valorização significativa, porém menor: 27%.

“Os resultados de um investimento como esse podem ser muito altos, mas os riscos são enormes. É melhor que um investidor pessoa física evite esse tipo de investimento sem suporte nos fundamentos”, explica.

Na avaliação do especialista, esses riscos estão associados ao momento da empresa, que precisa resolver os problemas que a fizeram chegar nessa situação.  “A empresa está com dificuldades financeiras e tem um negócio sem barreira de entrada e com muitos competidores”, diz, ao justificar que a recuperação da Tupperware é de difícil execução.

Short squeeze

A notícia da reestruturação ajudou as ações, mas agentes de mercado têm a suspeita de que a alta pode, na verdade, ter sido alavancada por um short squeeze, que muitas vezes provoca disparadas como essa.

Um short squeeze acontece quando há um excesso de posições vendidas em determinado papel, ou seja, de investidores que estavam apostando na queda.

A venda a descoberto ocorre quando o investidor decide vender um ativo que não possui em carteira, acreditando que o preço vai cair. Para conseguir fazer isso, ele aluga a ação. Se der certo, ele irá comprar a ação mais barata do que vendeu e embolsar o lucro. Se der errado, ele precisa comprar o papel para “quitar” o aluguel e assumir o prejuízo.

Quando o ativo sobe e provoca o fechamento de uma posição vendida, o investidor compra ações e alimenta novas subidas, gerando um efeito em cascata que alimenta uma forte valorização.

Esse fenômeno não é novo nos Estados Unidos e já aconteceu no Brasil: no início do ano, as ações da Gafisa passaram por esse movimento brusco pela liquidação dos short sellers.

Um dos short squeezes mais emblemáticos ocorreu em janeiro de 2021 com os papéis da GameStop, nos EUA, em movimento coordenado por investidores de varejo. Eles se organizaram na rede social Reddit para comprar GameStop com o objetivo de liquidar grandes fundos que estavam vendidos na ação.

Desde então, iniciativas como essa se multiplicaram, e os papéis que viraram alvo de compradores como esses, em geral ligadas a companhias conhecidas pelo grande público, passaram a ser chamadas de “meme stocks” (em português, ações meme).

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney