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“O mundo não vai mais deixar de ser híbrido”. Essa constatação, decorrente da experiência vivida ao longo dos últimos três anos, vem impactando o dia a dia da Ânima, terceiro maior grupo de educação do país. A nova forma dos alunos se relacionarem com as instituições de ensino deixa como saldo um excesso de espaço físico, que pesa sobre as contas da companhia. Uma das soluções encontradas é a transformação de parte dessa estrutura para incrementar a receita: além de salas de aula, laboratórios e bibliotecas, alguns dos campus da Ânima devem passar a oferecer centros esportivos e até dormitórios para estudantes.
Segundo Marcelo Bueno, CEO da Ânima, a readequação do espaço físico vem atender a duas frentes: um esforço necessário de aumento de geração de receita para reduzir a alavancagem, hoje em 3,9 vezes o Ebitda; e a oferta de serviços aos estudantes dentro do campus que frequentam, experiência ainda pouco explorada pelo setor privado no Brasil.
A companhia trabalha hoje em um projeto piloto de um dormitório para estudantes dentro do campus da unidade da Universidade São Judas, no bairro da Mooca, região central de São Paulo. Uma das torres, antes ocupada por salas de aula, deve ganhar a nova função. “Essa cultura, de oferecer o ‘dorm’ dentro do campus, é muito comum em outros países, mas ainda não existe no Brasil. Aqui, ainda temos poucas coisas dentro do campus”, afirma. Depois de São Paulo, o próximo alvo deve ser uma unidade no bairro de Buritis, em Belo Horizonte. Em Joinville, o plano é construir quadras de beach tennis e paddle, que seriam arrendadas para empresas terceirizadas. “Estamos fazendo vários pilotos, visando reduzir o custo do imóvel”, explica Bueno.
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Ele não abre números sobre quantos alunos podem ser atendidos nesses pilotos, nem de quanto imagina reforçar a receita da companhia com essas iniciativas. Mas afirma que a medida vem potencializar um esforço que já está em curso de reduzir os custos com aluguel. Segundo ele, a Laureate, adquirida pela Ânima em 2021, trabalhava com um comprometimento de receita com aluguéis da ordem de 12% e a Ânima, de 8%. Juntas, portanto, essa taxa é de aproximadamente 10%, o equivalente a cerca de R$ 72 milhões, segundo o último balanço da empresa. O objetivo é que esse custo consolidado caia para 8%. “Hoje, a gente tem uma certeza: vai sobrar espaço físico. Com isso, nosso benchmark de 8% pode cair ainda mais no futuro”, diz.
Após mais de três anos desde o início da pandemia, o que ficou claro é que o aluno quer ir para o campus para ter a experiência do convívio, mas que não enxerga mais valor nas aulas expositivas presenciais, que antes eram sinônimo de qualidade, diz Bueno. Isso ajuda a explicar o fato de que a demanda pela “sala de aula” varia de acordo com a área do saber. Nas áreas em que há mais necessidade de uso de laboratório, como os cursos de saúde, a volta ao presencial é praticamente plena. Já na para alunos de tecnologia, engenharia e até mesmo, arquitetura, os laboratórios virtuais são mais utilizados e, portanto, há menos interesse na volta para o campus. “Quando definimos que todos deveriam ir três vezes por semana para a aula presencial, todos ficaram insatisfeitos”, diz. “É preciso ter essa flexibilidade e oferecer os recursos tecnológicos adequados para cada área.”
Entender essa nova dinâmica dos estudantes é um ponto estratégico para a companhia. É com isso que a companhia poderá garantir a qualidade do ensino e tomar decisões que viabilizem o aumento da receita. Isso passa por redução dos custos imobiliários mas também pela simplificação de processos – o que envolve a redução do quadro de funcionários -, otimização da hora/aula e aula/docente e renegociação e reperfilamento das dívidas.Essa agenda de melhorar o perfil de alavancagem inclui também a venda de imóveis e antecipações de recebíveis de cartão de crédito.
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Alternativas “mais estruturantes”, diz Bueno, também estão sendo estudadas. Um novo M&A, como uma parceria para a Inspirali, vertical de cursos de medicina da companhia, estão no radar. “O mercado de M&A está se abrindo e, com a queda de juros, devem surgir muitas oportunidades. Temos que estar atentos”, diz.
Bueno diz que não pode contar com a queda dos juros ou com a implementação de um novo programa do governo de financiamento estudantil para melhorar a receita. Mas reconhece que essas são variáveis relevantes para uma empresa como a Ânima. Ele diz que representantes da companhia estiveram em Brasília na semana passada para levar sua visão sobre a retomada do programa. Defende que a concessão das linhas de financiamento do Fies se baseiem em critérios claros de necessidade do aluno e qualidade da instituição de ensino; e que haja ferramentas de cobrança mais eficientes do que as adotadas na primeira versão do programa. Ele menciona que há exemplos no mundo em que o beneficiário do financiamento, quando entra na fase de pagamento da linha, tem a parcela descontada diretamente da folha de pagamento.
“Como CEO, não posso contar com o Fies para entregar meu resultado. Mas vejo que qualquer país que queira chegar a níveis mínimos de educação tem que passar por financiamento – público e privado”, afirma. ‘Não acredito em bala de prata, é preciso ter várias iniciativas para resolver um problema tão complexo.”
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Em relatório divulgado na última segunda-feira (28), o JP Morgan elevou a recomendação para a companhia, mencionando os ajustes operacionais em curso, a perspectiva da retomada do Fies e também um cenário regulatório para cursos de medicina mais favorável. Para os analistas, caso o programa venha em linha com a expectativa do banco, a ação da Anima pode chegar a R$11, o que representa um upside de 180%.
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