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Com um equilíbrio entre as modestas surpresas de altas e baixas no IPCA-15 de setembro divulgado nesta terça-feira (26) pelo IBGE, os economistas veem um impacto neutro do indicador para as decisões de política monetária do Banco Central. Se, por um lado, as altas da gasolina e das passagens aéreas pressionaram para cima, os especialistas destacam que, do outro, a alimentação no domicílio e o bom comportamento dos bens industriais duráveis serviram como barreira.
Na análise do Santander Brasil, em termos qualitativos, até mesmo os serviços essenciais trouxeram boas notícias. Embora esses preços tenham subido na comparação mensal, o banco destaca que tendência ficou em 3,8% quando analisados os dados dos últimos três meses anualizados, que mostram uma desaceleração ante os 4,5% do período anterior.
A maior surpresa de baixa, segundo o banco, ocorreu nos principais bens industriais, liderados por artigos domésticos, vestuário e higiene pessoal, com o indicador trimestral atingindo 2,0%, ante 3,8%. Esses números fizeram com que o núcleo EX3 caísse para 2,9% no trimestre anualizado, de 4,1% ante. A média dos cinco principais núcleos seguidos pelo BC (incluindo o EX3) ficou em 3,4% na leitura trimestral.
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Outra boa notícia veio da queda da difusão, que foi para 43,9%, o nível mais baixo histórico. O Santander comenta que isso indica que a deflação ou a não inflação foi espalhada em setembro. “Em suma, a impressão foi novamente favorável em termos qualitativos, com a dinâmica da inflação subjacente melhorando na margem, mesmo com a surpresa ascendente nos serviços básicos”, diz o texto assinado pelos analistas Daniel Karp e Adriano Valladão.
Núcleos ainda elevados
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, comenta que a aceleração do IPCA-15 no mês (o indicador foi de 0,35% em setembro ante 0,28% em agosto), foi puxada, principalmente, pelo aumento de preço da gasolina (5,18%), que contribuiu com 0,25 ponto percentual no resultado Também pesou a alta das passagens aéreas (13,29%).
Por outro lado, o custo da alimentação no domicílio registrou a 4ª queda seguida, com deflação de 1,25%. Dentro dessa categoria, um dos destaques são as carnes, que caíram 2,73% e contribuíram com uma redução de 0,07 ponto percentual no IPCA-15 mensal.
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A economista destaca que a composição do indicador veio pior do que a esperada, com aceleração da inflação de serviços (0,53%) no mês, acima da previsão tanto do C6 Bank (0,34%) como do mercado (0,30%). “Esse resultado reverte a surpresa positiva do mês anterior. Em 12 meses, a inflação de serviços acumula alta de 5,6%, acima dos 5,4% registrados até agosto”, compara.
Claudia alerta ainda que os núcleos do Banco Central continuam rodando em patamares elevados, acumulando alta de 5,1% em 12 meses. “Junto com a inflação de serviços, esses dois componentes ajudam a entender por que os preços seguem pressionados”, afirma.
O avanço do IPCA-15 em 12 meses dos 4,24% anterior para 5% em setembro, segundo a economista, corrobora a visão de que a inflação continuará subindo nos próximos meses.
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“Entre os fatores que influenciam essa trajetória está o mercado de trabalho aquecido, que pressiona a inflação de serviços, um importante termômetro de para onde vai a inflação geral. A taxa de desemprego se encontra abaixo da média histórica brasileira, dificultando a desaceleração da inflação de serviços e, portanto, trazendo desafios para a convergência da inflação à meta”, pondera.
A XP Investimentos afirma em sua análise que, tanto o IPCA-15 como suas medidas subjacentes trouxeram uma sinalização neutra para a condução da política monetária. “Vemos o Copom cortando a taxa Selic em 50 bps nas próximas reuniões. Mantemos nossas projeções para o IPCA de 2023 (4,8%) e 2024 (3,9%).”
Alexandre Lohmann, economista chefe da Constância Investimentos, foi outro especialista a chamar a atenção para a alta substancial dos serviços subjacentes, devido à recomposição dos preços de taxas e aluguéis, que voltou a subir 0,40%. “Os serviços devem continuar sendo pressionados até o fim do ano devido aos reajustes de querosene de aviação e à sazonalidade em pacotes turísticos e transporte de aplicativos”, prevê. No entanto, ele lembra que a média dos núcleos ficou estável em comparação com o IPCA-15 anterior.
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Para Lohmann, os dados divulgados hoje não incluem surpresas substanciais que permitam uma aceleração do ritmo de corte pelo Copom. Ele alerta, no entanto, que nas próximas publicações pelo IBGE é esperada aceleração dos preços livres, pressionado por clima e pela sazonalidade de fim do ano.
Itens voláteis
Na opinião de Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, as surpresas do mês foram concentradas em passagens aéreas, gasolina e higiene pessoal, que são itens voláteis e que trazem pouca informação para a dinâmica de inflação como um todo.
Nos serviços subjacentes, o número veio praticamente em linha com expectativas, especialmente quando excluída a alimentação fora do domicílio. “Então, para a dinâmica do componente de inflação mais importante para o Banco Central, não traz grandes mudanças”, comenta.
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Entre as surpresas baixistas, Mirella cita a alimentação e os preços industriais, especialmente duráveis (automóveis novos e usados), que ficaram em patamares mais baixos. “Esses itens são importantes e ficam para o ano, especialmente porque na alimentação no domicílio, as surpresas estão vindo da proteína animal e não de itens com ciclo curto como hortifrúti”, detalha.
O economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac, do PicPay, a leitura qualitativa do indicador veio pior que o esperado, o que não muda o fato de que os núcleos têm rodado em patamares consistentes com a meta de inflação nos últimos três meses.
Olhando à frente, Caruso e Cadilhac veem como riscos de baixa o esperado contágio positivo dos preços de bens sobre os demais, o bom comportamento dos núcleos e sua conhecida inércia, e do combate à inflação de forma sincronizada mundo afora.
Do outro lado, os riscos de alta vêm do mercado de commodities (principalmente o petróleo), dos aumentos salariais em um ambiente de pleno emprego e dos eventuais efeitos do El Niño sobre os preços de itens in natura. “Por ora mantemos nossa projeção para 2023 (do IPCA cheio) em 4,9%.”
Para André Nunes de Nunes, economista chefe do Sicredi, em que pese o efeito significativo da variação elevada de passagens aéreas sobre a inflação de serviços, a leitura subjacente do grupo, que exclui alguns itens voláteis, também mostrou variação mais intensa que a espera (0,34% ante 0,27%), com destaque para uma reaceleração de alimentação fora do domicílio e mão de obra.
“Ou seja, a leitura de hoje não reverte a desinflação significativa de serviços, porém não traz melhora adicional. Nesse sentido, mantemos nossa projeção para o IPCA em 2023 em 4,9%.”
Luis Menon, economista da Garde Asset Management, por sua vez, observa, em termos qualitativos, uma ligeira piora nos indicadores de serviços subjacentes, ainda que tenha havido uma melhoria nos núcleos de inflação. “Do ponto de vista da política monetária, o número atual reflete uma inflação que, embora benigna, não demonstra a melhora adicional necessária para que o banco central considere acelerar os cortes nas taxas de juros.”
André Cordeiro, economista sênior do Banco Inter, também destaca que, apesar da aceleração do índice no mês, a média dos núcleos recuou na margem, de 0,33% em agosto para 0,27% em setembro, dando sequência à tendência de desinflação dos núcleos, que alcança variação de 5,08% nos últimos 12 meses.
O destaque negativo, no entanto, ficou por conta da variação de serviços, que avançou 0,53%, 0,4 p.p acima da variação observada em agosto, embora a alta tenha sido influenciada pelo aumento de mais de 13% nas passagens aéreas.
Cordeiro comenta que, ponderando todos os dados, o qualitativo mostrou a continuidade de uma dinâmica benigna, sem sinais de reversão da tendência de desinflação.
Para Rafael Costa, analista do time de estratégia macro da BGC Liquidez, avaliamos que a divulgação de hoje foi “neutra” em termos de perspectivas, uma vez que houve detalhes favoráveis e desfavoráveis. A performance de alguns itens de serviços e serviços subjacentes desapontou, mas nada que alterasse muito a visão de uma desinflação consistente nos serviços e no IPCA como um todo.”