Preços no mercado livre operam próximos à estabilidade apesar de seca paralisar usina

A paralisação nesta semana da usina de Santo Antônio, hidrelétrica localizada em Rondônia e atendida pelo rio Madeira, não refletiu diretamente nos preços praticados no mercado livre de energia, em que grandes consumidores compram diretamente de geradoras e comercializadoras.

Desde segunda-feira (2), quando a parada foi oficializada em função da seca na região, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), medido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que é a referência de preço à vista (“spot”) no mercado tem oscilado próximo às mínimas do ano, na casa de R$ 69,04 por Megawatt-hora (MWh), bem longe do pico de R$ 765,11/MWh observados durante a crise hídrica de 2021.

Um dos motivos é que existe um cenário de sobreoferta de energia no país, conforme o IM Business mostrou recentemente. “Temos um excedente [de energia] estrutural e a tendência é que siga assim”, afirma Afonso Henriques Moreira Santos, que ocupou os cargos de presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) entre 1997 e 2000 e de secretário nacional de Energia (2001/02).

Outro aspecto que explica esse quadro é o atual nível de ociosidade nas indústrias, em torno de 21,5%, que são grandes consumidoras. Ao mesmo tempo, há o avanço na produção de energia solar e eólica e a popularização da geração distribuída, em que os clientes instalam placas solares nas residências. Outro ponto que não pode ser descartado é que, sazonalmente neste semestre, a produção das hidrelétricas do Norte é menor.

“A Santo Antônio já iria produzir menos nesta época do ano e isso acaba sendo compensado pelo Sul do Brasil, em que há uma tendência de hidrologia favorável”, diz Vladimir Pinto, head de energia e saneamento do research da XP. “Por isso mesmo é que não esperamos que ocorra um efeito de disparada no PLD e, se o preço subir, será algo muito esporádico”, prossegue.

De fato, na semana passada, houve um pico no PLD de R$ 259,11/MWh na última sexta-feira (29) em função do aumento de carga por conta das temperaturas recordes no Sudeste somada à manutenção da usina de Angra, mas, nos dias seguintes, os preços voltaram ao mínimo, ocorrendo outro pico, de R$ 154,63/MWh, somente no fim da tarde desta quarta-feira (4). “Não tem commodity que varia tanto de preço no Brasil quanto a energia. São picos que podem ocorrer por questão de potência, de congestionamento das linhas, mas isso não significa que vai faltar energia”, acrescenta Moreira Santos.

Do ponto de vista das empresas, em que a energia elétrica é um insumo que pesa nos balanços, os especialistas apontam que, tudo mais constante, não devemos caminhar para um cenário parecido com o vivido em 2021, quando uma grande crise hídrica provocou o acionamento das termelétricas em um momento em que as cotações dos combustíveis fósseis estavam em níveis altos e gerou uma disparada nos preços da energia. Atualmente, os níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas nas outras regiões do país estão dentro da normalidade, de acordo com a CCEE.

Do aspecto de atendimento à população, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em conjunto com o Ministério de Minas e Energia, decidiram pelo acionamento de usinas termelétricas para atender os horários de pico em regiões do Acre e de Rondônia. Apesar da medida, a expectativa é de que não ocorra mudança na bandeira da tarifa elétrica, atualmente verde – que significa preços menores ao consumidor.