Dados do payroll são “inequivocamente fortes”, mas economistas ainda divergem sobre cenário de alta de juros pelo Fed

Analistas divergem sobre próximos passos do Federal Reserve na condução da política monetária dos EUA

Camille Bocanegra

(Shutterstock)
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Os dados de payroll (folha de pagamentos) dos EUA apresentaram, na manhã desta sexta-feira, criação de 336 mil vagas de emprego, quase o dobro das 170 mil projetadas pelo consenso Refinitiv. A taxa de desemprego apresentada veio em linha com as projeções, em 3,8%, ante 3,7% da projeção Refinitiv.

Para o Morgan Stanley, os números são “inequivocamente fortes”. O banco considera que, embora a inflação esteja desacelerando mais rapidamente do que o previsto pelo Federal Reserve, o ganho de força visto no mercado de trabalho poderá trazer dúvidas sobre ritmo de desaceleração.

A aceleração do relatório Jolts já poderia criar expectativas para dados acima do esperado no payroll, de acordo com analistas.

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“Os dados recentes do mercado de trabalho vão contra a narrativa de que a demanda por trabalhadores está desacelerando. Ejum vez disso, o relatório JOLTS de vagas de trabalho estava elevado, no início da semana, e deixa a proporção de abertura de vagas para desempregados de 1,5 para 1”, aponta o Citi.

Ariane Benedito, economista e RI da Esh Capital, entende no mesmo sentido e considera que os dados mais fortes já eram esperados após a divulgação do relatório, “considerando o descolamento da ADP, que seria a proxy do Payroll, mas já algum tempo tem se afastado do principal indicador”, explica.

Na análise do Goldman Sachs, um dos destaques é o déficit de empregos-trabalhadores caiu de 6 milhões para 2,6 milhões considerando o relatório de vagas divulgado essa semana.

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” O contínuo reequilíbrio do mercado de trabalho, apesar do sólido crescimento do PIB e do forte crescimento do emprego, está em linha com nossa visão de que o aumento da taxa de juros pelo Fed em julho foi o último do ciclo”, comenta o banco. A taxa hoje oscila dentro de uma banda entre 5,25% e 5,50% ao ano.

O setor que apresentou maior criação de empregos foi justamente o setor de serviços, considerado, por Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, o “setor onde as pressões inflacionárias ainda permanecem elevadas”. Isso teria causado a reação de queda dos mercados mundiais aos números divulgados que, contudo, foi revertida durante a manhã.

Outro dado importante apresentado no payroll de hoje foi o ganho ou salário médio por hora reduzido, mesmo com número de vagas crescendo acima do esperado.

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“Esse fator é importante pois apesar do alto número de contratações do Payroll nos EUA, o gasto do consumidor pode ser diminuído estancando a inflação no longo prazo”, explica Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Invest. De acordo com Moretti, isso poderia levar o Fed a repensar uma alteração de juros para cima, na próxima reunião.

É importante considerar, contudo, que o número de pessoas com múltiplos empregos também aumentou e ficou com um avanço de 123 mil, nos dados divulgados.

Para onde vai a taxa de juros?

Se depender da análise do Citi, as taxas de juros subirão em novembro. “Os dados do trabalho de hoje e o aumento projetado de 0,3% no CPI na semana que vem deverão ser suficientes para que o Fed suba 0,25bp em 1º de novembro”, comenta o banco, que tem se posicionado contracionista há algum tempo.

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É a mesma visão apresentada pelo C6 Bank. “Na nossa visão, o Fed optará por mais uma alta de juros este ano, mantendo-os em nível alto por um longo tempo. Os cortes devem começar de forma gradual e somente no final de 2024”, comenta Felipe Salles, economista-chefe do banco.

A maioria das instituições, contudo, considera que os dados divulgados sustentam viva a inclinação para o aperto, mas ainda há expectativa de que os dados de inflação possam justificar uma manutenção prolongada na taxa de juros.

“O contínuo reequilíbrio do mercado de trabalho, apesar do sólido crescimento do PIB e do forte crescimento do emprego, está em linha com nossa visão de que o aumento da taxa de fundos do Fed em julho foi o último do ciclo”, comenta o Goldman Sachs, que tem expectativa de que a política permaneça inalterada nas reuniões do FOMC de novembro e dezembro.

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“Continuamos a esperar que o Fed permaneça em manutenção prolongada a partir de julho de 2023, até realizar o primeiro de quatro cortes de 25 pontos-base em março de 2024”, afirma o Morgan Stanley, no mesmo sentido.

A economista da Esh Capital comenta que é importante destacar que a taxa de desemprego traz indicativos da permanência da taxa de juros na posição.

“Essa leitura ainda que não satisfatória para um arrefecimento mais significativo da inflação americana, pode manter a posição do Fed em seguir com a manutenção dos juros para a próxima reunião, mesmo com o mercado de trabalho acelerando no mês de setembro”, diz Ariane Benedito.