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Gigantes corporativos são os novos ‘fundos de hedge’ do mercado cambial global

Mais de metade das receitas cambiais dos bancos provém agora das empresas

Bloomberg

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(Bloomberg) — Para saber onde está o foco no mercado de câmbio de US$ 7,5 trilhões por dia, basta olhar para o balanço patrimonial da Apple Inc.

A gigante de tecnologia detém US$ 135 bilhões em derivados cambiais, alguns dos quais são utilizados para se proteger contra flutuações cambiais nos seus muitos mercados. A Alphabet Inc. possui cerca de outros US$ 60 bilhões desses contratos. Em comparação, os fundos de cobertura cambiais do mundo gerem apenas US$ 78 bilhões – combinados.

A escala dos números captura a enorme mudança que ocorreu no mercado nos últimos anos. Hoje em dia, os maiores bancos de Wall Street pedem cada vez mais aos seus negociadores de moeda que atendam às maiores empresas do planeta na sua busca por taxas mais estáveis ​​e recorrentes.

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Gráfico mostra a queda de 87% no número de fundos cambiais desde o pico de 2007Em certo sentido, essa movimentação pode ser vista como o mundo do forex (foreign exchange) ficando ‘monótono’.

Em certo sentido, essa movimentação pode ser vista como uma transformação no mercado  de forex (foreign exchange) para algo mais monótono. Foram-se os tempos dos traders agitados, gesticulando freneticamente, trocando brincadeiras e gritando ofertas em gírias. Em seu lugar, surgem os novos titãs: banqueiros corporativos eloquentes, que têm a atenção de tesoureiros e chefes de finanças corporativas ao redor do mundo.

E esses banqueiros estão cumprindo o prometido. As empresas se tornaram o ‘arroz com feijão’ das divisões de moeda, trazendo não apenas negócios consistentes, mas também margens com mais substância. De acordo com a empresa de dados Vali Analytics, a receita no setor corporativo de câmbio dos cinco maiores bancos do mundo aumentou cerca de 30% nos últimos cinco anos. Para os 50 maiores bancos, agora representa, em média, mais da metade de toda a receita de câmbio.

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“A indústria de câmbio se tornou supercomoditizada e competitiva”, disse Angad Chhatwal, chefe de mercados macro globais na Coalition Greenwich, uma provedora de dados e análises financeiras. “Os bancos precisam encontrar alguma vantagem.”

Essa mudança está relacionada em parte às novas regulamentações que forçaram os credores a reduzirem suas ofertas de negociação de moedas para os maiores gestores de ativos do mundo, na sequência da crise financeira global.

A outra força motriz foi a queda na volatilidade das moedas. Esse elemento crucial para o mercado diminuiu durante o período de taxas de juros ultra baixas e flexibilização quantitativa, levando muitos investidores a abandonarem o mercado. O número de fundos de hedge focados em câmbio diminuiu 82% desde o seu pico em 2007.

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Foco nas Empresas

Quando os maiores bancos dos Estados Unidos começarem a divulgar seus resultados do terceiro trimestre na sexta-feira, espera-se que gigantes de Wall Street, como Goldman Sachs Group Inc. e Morgan Stanley, registrem quedas acentuadas na receita relacionada ao mercado de negociação de produtos de renda fixa, moedas e commodities. Enquanto isso, Bank of America Corp. e Citigroup Inc., que há muito tempo se concentram em oferecer serviços de câmbio para as maiores corporações do mundo, devem apresentar pequenos aumentos nessa receita.

Citigroup, em particular, prosperou nesse novo cenário, conquistando o primeiro lugar em participação de mercado no comércio de moedas por 10 anos consecutivos, de acordo com uma classificação da Coalition Greenwich. E quando os executivos estavam à procura de um novo líder para o negócio no início deste ano, o gigante bancário escolheu Flavio Figueiredo, o brasileiro com 34 anos no Grupo que liderou, recentemente, os esforços de vendas corporativas na divisão de câmbio.

Sob o comando da CEO Jane Fraser, a empresa tem intensificado sua oferta corporativa de câmbio, aproveitando sua presença física em mais de 60 países. Isso leva a um acesso direto não apenas aos tesoureiros corporativos nos escritórios das empresas nos Estados Unidos, mas também aos seus subordinados ao redor do mundo, que precisam gerenciar seus saldos em moedas estrangeiras diariamente.

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“Essa é definitivamente a nossa vantagem”, disse Lynley Ashby, chefe global de estratégia de negócios de câmbio da Citigroup. “Ter pessoas no local nos deu esses pontos de contato não apenas com tesourarias centrais, mas também com as subsidiárias.”

No Deutsche Bank AG, lar de uma das maiores mesas de câmbio do mundo, as oportunidades corporativas são parte da razão pela qual a instituição acredita que ainda pode alcançar suas metas financeiras, apesar da queda na receita de negociação que atingiu o gigante bancário alemão e seus concorrentes nos primeiros seis meses do ano.

“Há uma grande parte da receita gerada por relacionamentos estáveis no banco corporativo para negócios reais da economia que precisam ser protegidos e apoiados, os quais, mais uma vez, são menos voláteis por natureza”, disse Fabrizio Campelli, que supervisiona a unidade de banco corporativo e de investimento do Deutsche Bank, aos investidores no mês passado.

Se o novo mundo da negociação de moedas parece mais conservador, as mudanças, ainda assim, não eliminaram seu legado de controvérsias;

Deutsche Bank e Goldman Sachs enfrentaram críticas e escrutínio sobre as práticas de venda relacionadas à forma como apresentavam ofertas de moeda às empresas. Alguns clientes argumentaram que os banqueiros lhes vendiam produtos complicados que não entendiam.

Diminuição da Volatilidade

A mudança de foco para vendas corporativas ganhou nova força este ano, à medida que as mesas de negociação de moedas lutam contra a queda na volatilidade do mercado, que reduziu a receita da indústria em 15% no primeiro semestre. A queda reflete em parte o fato de que 2022 foi um ano atípico, quando os aumentos das taxas de juros dos bancos centrais e a invasão da Ucrânia pela Rússia aumentaram a volatilidade.

“As volumes estão em baixa”, disse Carlos Fernandez-Aller, chefe global de negociação macro de FX e mercados emergentes no Bank of America. “As pessoas não estão tão interessadas em negociar moedas este ano.”

Mas, independentemente dos ciclos do mercado e econômicos, as empresas geralmente têm mandatos para proteger uma certa parte de sua exposição cambial. Isso cria um amortecedor para as mesas de negociação dos bancos, à medida que seu antigo negócio diminui lentamente. Este ano, as ordens sistemáticas de clientes corporativos permaneceram resilientes, apesar da retração mais ampla dos mercados de câmbio.

A Apple, por exemplo, triplicou seu ‘book’ de derivativos na comparação com o portfólio que mantinha há uma década.

“É a abordagem certa para a empresa em termos de minimizar a volatilidade que inevitavelmente acontece com os movimentos das moedas”, disse Luca Maestri, diretor financeiro da Apple, aos analistas em agosto. “É um programa de proteção muito grande e, eu diria, muito eficaz.”

Cenário em Transformação

O surgimento da negociação eletrônica também mudou o cenário, tornando mais difícil para os bancos manterem o negócio com gestores de fundos. O surgimento de plataformas de ‘multi-dealers’ deu aos gestores de ativos a capacidade de pesquisar e comparar preços de vários bancos, enquanto plataformas fintech mais recentes reduziram o custo das negociações e ganharam participação de mercado.

Ainda assim, não é apenas a consistência das ordens, independentemente do cenário de mercado, que torna a ampliação da participação do cliente corporativo atraente. Os bancos geralmente podem obter margens mais altas também.

Como os clientes corporativos geralmente dependem de seus bancos para vários serviços, como empréstimos, emissão de dívida ou consultoria, o benefício relativo de procurar preços de câmbio mais baratos é menor. Além disso, as empresas muitas vezes têm políticas de tesouraria que permitem apenas o uso de determinados bancos.

“Nem sempre se trata de quem tem o preço mais barato”, disse Naresh Aggarwal, diretor associado da Associação de Tesoureiros Corporativos. Em vez disso, é “quem me oferecerá o melhor serviço geral”.

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