Publicidade
A atividade econômica dos Estados Unidos continuou fortemente aquecida no terceiro trimestre deste ano, especialmente o consumo interno, e os sinais são de que uma possível recessão no país continua distante, dizem economistas. Na opinião dos analistas, essa resiliência só deve reforçar a disposição dos diretores do Federal Reserve na semana que vem de novamente manter as taxas de juros inalteradas, até porque não houve pressão inflacionária no período.
O Departamento do Comércio divulgou nesta quinta-feira (26) a primeira prévia do PIB dos EUA entre os meses de julho e setembro, que apontou uma alta de 4,9%, ante projeções de crescimento de 4,3%. O dado veio bem mais forte que o do segundo trimestre do ano, quando economia cresceu 2,1%.
Para André Cordeiro, economista sênior do Banco Inter, o consumo foi mais uma vez o principal fator de contribuição para a alta do PIB, seguido de perto pelos gastos do governo, um sinal de que a política fiscal mais frouxa e seu impacto sobre a demanda tem sido bastante relevante em manter a economia aquecida. Isso a despeito da política monetária contracionista em vigor. “Analisando o contexto geral, fica claro que uma desaceleração não deve acontecer no curto prazo”, comenta.
Continua depois da publicidade
Entre os motivos para essa previsão, Cordeiro cita que o mercado de trabalho local continua apertado, com a taxa de desocupação em 3,8% e tendo adicionado mais de 300 mil novos empregos em setembro, enquanto os indicadores antecedentes da indústria e dos serviços indicam tendência positiva em outubro. “Tais resultados devem manter os juros longos americanos pressionados”, afirma.
Esse quadro, diz o economista, não deve alterar a visão do Fed para a reunião da próxima quarta-feira (1), com a manutenção da taxa de juros no atual patamar. “Entretanto, condicionado na continuidade dessa tendência, uma alta em dezembro passa a ter maior probabilidade”, estima.
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também destaca em sua análise o crescimento elevado do consumo das famílias, que contribuiu com quase 3 pontos percentuais no crescimento do PIB. “Essa dinâmica reflete um mercado de trabalho aquecido, com a demanda maior do que a oferta de trabalhadores”, comenta.
Continua depois da publicidade
A economista também acredita que atividade vigorosa nos EUA deve desacelerar no quarto trimestre, em linha com a política monetária restritiva do Federal Reserve (Fed). “Não vemos, por ora, nenhum sinal de recessão. Em nossa visão, o Fed deve manter uma política monetária restritiva por um longo período para esfriar a inflação. Acreditamos que cortes nos juros devem começar de forma gradual e somente no fim de 2024”, diz.
Lucas Zaniboni, economista da Garde Asset Management, afirma que o dado do PIB mostra uma economia pujante e resiliente, mesmo após cerca de um ano e meio do início do ciclo de aperto monetário.
Segundo ele, o destaque ficou com a parte do consumo privado, que cresceu 4% (em termos anualizados), acelerando fortemente em relação ao trimestre anterior, graças a um mercado de trabalho ainda apertado e a uma inflação queda, que proporciona ao consumidor mais renda real. Além disso, lembra, existe a herança de uma política fiscal que forneceu um grande colchão de poupança ao consumidor nos últimos anos.
Continua depois da publicidade
“A política fiscal, aliás, mais uma vez contribuiu de forma relevante com o PIB, com o consumo do governo contribuindo com 0,8 p.p. desse avanço do PIB, em linha com o que vem contribuindo recentemente.”
Para Zaniboni, as grandes questões para os mercados agora é o quanto dessa força do consumidor irá se manter para o próximo trimestre, o quanto dessa reaceleração é temporária, e o quanto significa que a política monetária não está restritiva o suficiente. “Esse comportamento do consumidor no último trimestre deste ano será crucial para antever os movimentos do Fed até o início de 2024”, alerta.
O economista da Garde menciona ainda que o dado trimestral do núcleo de inflação PCE mostrou uma variação de apenas 0,23%, 5 pontos-base abaixo da mediana de mercado, configurando uma boa notícia para o mandato de inflação do Fed.
Continua depois da publicidade
Segundo ele também chama atenção que a produtividade americana vem alcançando ganhos expressivos em 2023. Na medida em produto por trabalhador-hora, o aumento (anualizado) no 3º trimestre foi de 4,4%, após um ganho já expressivo de 3,5% no trimestre anterior.
Nicolas Borsoi, economista chefe da Nova Futura Investimentos também cita inflação do consumo como destaque nos dados de hoje. Apesar da aceleração no PCE cheio, impactado pelos derivados de petróleo, o núcleo do indicador em 12 meses caiu para 3,9%, a mínima desde o 3º trimestre de 2021.
“Os dados confirmam a trajetória benigna da economia e projetamos, por enquanto, que o PIB termine 2023 com expansão de 2,3%, ainda acima do potencial. Para 2024, esperamos uma desaceleração para 1,5%, com uma recessão bem rasa no começo do ano, conforme os efeitos das altas de juros são transmitidos para a economia”, diz Borsoi.
Continua depois da publicidade
Adam Hetts, head global de multiativos na Jans Henderson Investors, afirma que o período foi um verão inesquecível, se não para os títulos do Tesouro, pelo menos para o consumidor dos EUA, já que os gastos com itens como shows e filmes impulsionaram substancialmente o PIB.
Mas ele alerta que essa impressão forte já passou e que a festa do terceiro trimestre pode ter uma ressaca significativa, já que muitos fatores positivos não persistirão. “Um consumidor mais fraco, uma inflação teimosa, um dólar forte e o impacto defasado dos aumentos das taxas podem se combinar para criar um cenário restritivo rumo ao quarto trimestre, o que tornaria um crescimento semelhante do PIB realmente excepcional.”
Na análise da Azimut Brasil Wealth Management, os resultados divulgados hoje apresentam uma economia americana reacelerando o crescimento, com inflação moderada. “O comportamento da atividade surpreende, porque se esperava que a esta altura do campeonato, dado o aperto monetário implementado pelo Fed, a atividade estivesse desacelerando e não acelerando o ritmo.”
Na análise da Genial Investimentos, essa primeira prévia do PIB do terceiro trimestre deixa sinais mistos para o Fed.
De um lado, a atividade mais forte, puxada principalmente por uma expansão acima das estimativas do consumo pessoal, aponta para a necessidade de uma alta de juros adicional nesse quarto trimestre.
Do outro, a avaliação é que a desaceleração do núcleo de inflação, de um ritmo anualizado de 3,7% para 2,4%,aliado a um aumento considerável dos estoques, pode indicar o possível fim do ciclo de aperto monetário.
A projeção é que o consumo das famílias, principal componente do PIB pelo lado da demanda, deve perder força devido a redução da renda disponível por conta da volta dos pagamentos dos financiamentos estudantis. “Isso deve fazer com que o crescimento do PIB no quarto trimestre seja bem menor do que o avanço anualizado de 4,9% observado agora”, afirma texto assinado pela equipe de José Márcio Camargo.
Por outro lado, a revisão altista do excesso de poupança das famílias em volume considerável deve limitar essa desaceleração da atividade econômica nesse final de ano, conclui o relatório.