Juros longos têm viés de alta e curtos caem na sessão, mas têm alta generalizada no mês

As taxas fecharam o mês acumulando alta em todos os vértices, com destaque para o trecho intermediário, o que mais subiu

Estadão Conteúdo

Publicidade

Os juros futuros percorreram a última sessão de outubro sem firmar tendência clara, alternando avanços e baixas moderados durante o dia, prevalecendo no fechamento um viés de alta, com exceção da ponta curta.

O mercado testou uma correção após a escalada das taxas na segunda-feira, aparando exageros relacionados às declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a meta fiscal, que, contudo, segue em risco. Essa trégua foi possibilitada também pelo comportamento nesta terça mais neutro da curva dos Treasuries. As taxas fecharam o mês acumulando alta em todos os vértices, com destaque para o trecho intermediário, o que mais subiu.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 passou a 11,080%, de 11,126% no ajuste de segunda-feira, e a do DI para janeiro de 2026, para 11,04%, de 11,03% na segunda. A taxa do DI para janeiro de 2027 avançou de 11,20% para 11,22% e a do DI para janeiro de 2029, de 11,58% para 11,59%.

Continua depois da publicidade

No mês, a ponta curta abriu em torno de 25 pontos, enquanto os DIs de médio prazo saltavam 45 pontos, ante o fechamento de setembro. Os longos acumulavam ganho de cerca de 30 pontos.

Segundo profissionais da área de renda fixa, a dinâmica do mercado mesclou correções técnicas após os fortes movimentos de stop loss entre sexta-feira e a segunda-feira, incluindo ainda os ajustes de posições em carteiras típicos de fim de mês, e devolução de excessos com releitura da fala de Haddad na segunda-feira. A percepção de que a meta de zerar o déficit primário em 2024 não deve resistir segue na mesa, mas houve uma reconsideração sobre o que isso pode significar para a credibilidade do ministro.

“O que vimos ontem foi mais um fogo de palha, seria normal o mercado estressar. Não era sustentável a especulação até de que Haddad poderia cair. Houve exagero e o mercado corrigiu”, disse o sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.

Continua depois da publicidade

Para Velho, é fato que os resultados fiscais serão ruins, com déficit bem maior que o esperado, “mas não é o término dele como ministro”.

O mercado na segunda se incomodou com o fato de Haddad não ter defendido de forma contundente a meta zero quando perguntado pelos jornalistas, após o presidente Lula ter questionado a viabilidade do objetivo na sexta-feira. O mercado nunca apostou nisso de fato, mas valorizava o comprometimento do governo em atingi-lo. Mais cedo, circularam na imprensa informações de que o cenário mais provável é de uma alteração da meta para déficit de 0,25% ou 0,50%.

Em reunião nesta terça de Lula com aliados no Planalto, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o tema não entrou na pauta e o foco foi a necessidade de aprovar no Congresso projetos que aumentam as receitas do governo. Segundo apurou o Broadcast Político junto a fontes, porém, Lula voltou a indicar que poderá alterar a meta. Teria expressado que não quer contingenciar despesas e deu a entender que pretende executar todos os gastos previstos no Orçamento que for aprovado para o próximo ano.

Continua depois da publicidade

Nos aspectos mais técnicos, o sócio-gestor e estrategista de renda fixa da Garin Investimentos, Felipe Beckel, lembra que o mês foi muito negativo para os fundos multimercados, que têm bastante participação de renda fixa e câmbio nas carteiras. “Ninguém quer tomar posições muito estruturais e os fundos preferem operar mesmo o curto prazo, ainda mais neste cenário externo delicado”, disse, avaliando que a escalada das tensões no Oriente Médio parece estar se dando de forma “silenciosa”.

Para o Copom, com as apostas no corte de 0,5 ponto porcentual bem consolidadas, a expectativa se volta ao comunicado e à sinalização sobre os próximos passos do ciclo, além das considerações dos diretores sobre os impactos do aumento dos juros longos nos EUA e a mais recente escalada do risco fiscal doméstico.