Impacto de choques fiscais na inflação é persistente, diz Diogo Guillen, do BC

Diretor do BC afirmou que, quando um choque fiscal impacta na atividade econômica, a política monetária precisa ser contracíclica

Reuters

Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (iStock)
Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (iStock)

Publicidade

SÃO PAULO (Reuters) – O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta sexta-feira (17) que os impactos de choques fiscais na inflação é persistente e que, quando a dívida é maior, esse impacto também é majorado.

Em seminário na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, Guillen também disse que, quando um choque fiscal impacta na atividade econômica, a política monetária precisa ser contracíclica.

“Quando você dá um choque no resultado nominal ou quando dá um choque no resultado primário, tem um impacto sobre a inflação para cada 1%-0,5% (de impacto fiscal), e no ‘core inflation’ (núcleo da inflação) é até mais persistente”, disse Guillen, citando em sua apresentação dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Continua depois da publicidade

“Quatro anos depois você ainda tem impacto no ‘core inflation’, se (o impacto) for nominal, talvez caindo no quarto ano se for impacto primário, mostrando então que há um impacto sobre a inflação e esse impacto é persistente.”

Nesse contexto, o diretor afirmou que, diante de estímulos fiscais que terão impacto sobre a atividade e a inflação, a política monetária consequentemente deverá atuar de forma contracíclica para reduzir a pressão de alta sobre os preços.

Segundo Guillen, dados mostram que, quando há maior endividamento em determinado país, o impacto de choques fiscais sobre a inflação é maior. “É a ideia de que depende não só da própria condição econômica de atividade, como também de como é percebido o fiscal no país.”

Continua depois da publicidade

Fiscalização das regras

O diretor afirmou que apenas a introdução de regras fiscais em determinada economia não é suficiente para ter impacto positivo nas condições financeiras, e que é necessário haver também uma boa fiscalização dos arcabouços de forma a aumentar a credibilidade.

Seus comentários foram amplos e não fizeram referência específica à conjuntura econômica ou fiscal do Brasil, mas vieram num momento de volatilidade nas expectativas do mercado financeiro sobre as contas públicas domésticas.

Depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressuscitou temores fiscais no mês passado ao questionar a meta de zerar o déficit primário no ano que vem, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Danilo Forte (União-CE), disse na quinta-feira que a equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, manteve o objetivo por ora.

Continua depois da publicidade

No início da semana passada, o Banco Central observou na ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) uma maior incerteza sobre a capacidade do governo em cumprir as metas fiscais estabelecidas e defendeu que os objetivos para as contas públicas sejam buscados com firmeza.

Na reunião, realizada nos dias 31 de outubro e 1° de novembro, o BC decidiu fazer um terceiro corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 12,25% ao ano, e afirmou que sua diretoria antevê reduções equivalentes nas próximas reuniões.