Falar é fácil. Difícil é fazer.

Em momento de crise, perda do emprego, aumento dos custos e falta de dinheiro, as pessoas saem em busca de dicas para o ajuste das contas.

Eli Borochovicius

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Certo dia eu estava em sala de aula e um aluno questionou se eu poderia ir até a empresa da família para ajudar a entender as contas e como poderia ajudar na solução da falta de caixa.

Isso me fez lembrar aquelas pessoas que pedem para o médico dar só uma “olhadinha” sem cobrar a consulta, ou aqueles advogados que são apenas consultados para uma “opinião” sem o pagamento de honorários.

Parece-me endêmica no brasileiro essa busca pelo serviço prestado sem a contraparte financeira, desprestigiando o conhecimento teórico.

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No caso do médico, é uma “olhadinha” gratuita. Se for preciso um procedimento, aí se discute valores, negocia-se e por que não aquele pedido de descontinho? Não ficaria assustado se decidisse fazer o procedimento com outro mais baratinho. Já com o advogado, os custos com cópia e taxas processuais as pessoas aceitam reembolsar, mas tem que prestar contas. Vai que o advogado queira levar vantagem e copiar algo desnecessário para o processo, não é mesmo? Como se o profissional do direito precisasse disso.

Na área financeira, os serviços normalmente são pouco valorizados.

Um colega uma vez me disse que ao preparar um contrato de consultoria financeira seriam necessárias 100 páginas, 99 delas dizendo o que não faria. Não tem jeito, as pessoas abusam mesmo.

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No caso de empresas, buscam o consultor financeiro quando a corda está estourada, exigem reparos, não aceitam remendos, querem consertar em pouco tempo o que levaram anos para estragar, não fazem aquilo que o consultor sugere e ficam aliviados quando tudo acaba, ainda que mal, pois se isso acontecer, tem em quem jogar a culpa pelo fracasso.

Com pessoa física não é muito diferente.

A consultoria exige tempo para análise das contas de curto prazo, diagnóstico de como a pessoa decide como gastar, financiar e investir, criação de novos procedimentos, planejamento envolvendo a família e renegociação com credores e bancos. É preciso fazer o controle, checar os resultados e desenvolver novas estratégias para corrigir possíveis desvios.

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Particularmente, eu não acredito em resultados sólidos com pequenas dicas adquiridas em artigos não científicos disponíveis na internet. Elas podem apontar o caminho, mas exigem conhecimento técnico e experiência para a elaboração de um planejamento financeiro.

Nesses tempos de crise, para quem não teve educação financeira, as dicas da internet dificilmente surtirão efeito. O melhor a fazer é buscar ajuda de um especialista e valorizar o trabalho profissional.

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Eli Borochovicius

Eli Borochovicius é docente de finanças na PUC-Campinas. Doutor e Mestre em Educação pela PUC-Campinas, com estágio doutoral na Macquarie University (Austrália). Possui MBA em gestão pela FGV/Babson College (Estados Unidos), Pós-Graduação na USP em Política e Estratégia, graduado em Administração com linha de formação em Comércio Exterior e diplomado pela ADESG. Acumulou mais de 20 anos de experiência na área financeira, tendo ocupado o cargo de CFO no exterior. Possui artigos científicos em Qualis Capes A1 e A2 e é colunista do quadro Descomplicando a Economia da Rádio Brasil Campinas