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Estamos todos à deriva no mesmo barco, navegando através da pior crise fiscal da história brasileira. O declínio econômico nos atropela de forma acelerada e visível, e já afeta parte substancial da nossa população, além de projetar sombras perigosas sobre o futuro.
No entanto, embora a parcela mais ligada da nossa sociedade já se tenha dado conta dessa situação preocupante, não conseguimos escolher o rumo certo e nem começar, desde logo, a desviar dos escolhos e a recuperar as posições perdidas nesta crise global. Esse é o problema maior! Enquanto forçamos o nosso barco a seguir desgovernado, agravando os nossos déficits e riscos, os políticos que nos representam engalfinham-se em luta insensata pelo simples controle do timão. Maior que os problemas econômicos imediatos é essa crise política que se instalou no país, na disputa para definir quem tocará o barco e que hegemonia partidária prevalecerá.
Temos que superar logo esse estágio. Estou firmemente convencido de que, sem um grande e patriótico acordo político que apazigúe o ambiente e reorganize a capacidade operacional das instituições, não conseguiremos perseguir, objetiva e sistematicamente, as soluções para os nossos gravíssimos e urgentes problemas econômicos. No ambiente tumultuado em que se transformou o sistema político nacional, as medidas mais abrangentes para a correção de curso não conseguem ser implementadas, seja por serem impopulares, seja por simples picardia dos partidos e grupos que se digladiam no palco. Temos que ter seriedade e objetividade nesse momento especialmente crítico, optando pela busca ou manutenção de valores e princípios e descartando o embate pequeno da intransigência partidária. Temos que ter moderação e sabedoria para resolvermos o impasse atual, organizando o consenso nacional na busca da inadiável solução desta crise, evitando traumas e delongas. Nesse caminho, qualquer que seja o desfecho acordado, com estrita observância da Lei e da Constituição, precisamos restaurar a capacidade operacional das instituições, garantindo a chamada “governabilidade” nos estágios subseqüentes, quando as batalhas que interessam à economia terão que ser travadas e vencidas. E quanto mais rápido, menores serão os prejuízos acumulados pela nação.
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Não posso deixar de exemplificar os efeitos do ambiente político tumultuado em que fomos lançados pelo clima atual de desacerto. E vou exemplificar com um assunto do nosso mercado imobiliário, que conheço bem de perto. Trata-se do projeto de lei que está tramitando no Congresso Nacional sobre a forma de remuneração dos depósitos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). Existe uma antiga e justa reclamação das centrais sindicais em favor do aumento de remuneração dos depósitos, prejudicada, principalmente, em épocas de recrudescimento inflacionário, como a atual. No entanto, os efeitos de qualquer mexida nessa questão têm que ser considerados em uma ótica mais ampla, pelas inúmeras conexões que os recursos capitalizados neste Fundo têm com outros segmentos e sistemas. É o caso do financiamento da casa própria. Na forma em que o projeto de lei foi aprovado na Câmara dos Deputados e encaminhado ao Senado Federal, as prestações dos financiamentos para a Faixas 2 e 3 do Programa Minha Casa Minha Vida poderão sofrer acréscimos de até 30%. Uma temeridade! E isso só aconteceu por causa das dificuldades atuais de coordenação política. Esse exemplo reforça a idéia de que precisamos, prioritariamente, resolver a crise política e organizar o barco, não só para formarmos um consenso nacional positivo, garantindo a governabilidade para que as medidas econômicas sejam encaminhadas e adotadas, como também para evitar que prosperem soluções casuísticas e equivocadas como a que mencionei neste parágrafo.