A Falta de Engenheiros no Brasil

Ainda faltam engenheiros? Pioramos ou melhoramos nesse quesito? A crise econômica afasta os vestibulandos da busca de vagas nessa carreira ou, ao contrário, a falta de engenheiros contribui para agravar o quadro econômico? O que é causa e o que é conseqüência? São, todas, perguntas que podem ajudar na busca de uma interpretação atualizada da realidade nacional.

Rubens Menin

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Na série A Engenharia e Seu Ensino – (1) a (5) que desenvolvi neste mesmo blog entre fevereiro e março de 2013, complementada ao final daquele ano pelo tópico Mais Engenharia e Mais Engenheiros, examinei detalhadamente a carência brasileira por esse tipo de profissional e as características especiais do ensino nacional nesse particular. Cerca de dois anos depois é inevitável que eu volte ao assunto, atualizando idéias e agregando aspectos especiais do momento atual. Ainda faltam engenheiros? Pioramos ou melhoramos nesse quesito? A crise econômica afasta os vestibulandos da busca de vagas nessa carreira ou, ao contrário, a falta de engenheiros contribui para agravar o quadro econômico? O que é causa e o que é conseqüência? São, todas, perguntas que podem ajudar na busca de uma interpretação atualizada da realidade nacional.

Logo após a minha formatura em Engenharia iniciava-se a forte crise econômica que abalou o Brasil naquela que ficou conhecida como a “década perdida” e cujos efeitos estenderam-se até o princípio dos anos 1990. Foi uma tristeza. Muitos dos novos engenheiros não conseguiam trabalho na profissão e quase todos os que ainda dispunham de emprego queixavam-se do baixo salário, quando comparado ao de épocas anteriores.Em 1983, quando a crise econômica atingiu seu ápice, o PIB brasileiro despencou 5% – o pior resultado que colhemos em todos os tempos. Vivíamos, então, num ambiente econômico gravíssimo e inseguro, no qual a renda per capita caiu 7,3% em um único ano e a taxa de desemprego cresceu absurdamente. A Engenharia foi atingida em cheio e seus profissionais ficaram fortemente desestimulados até o início dos anos 1990, quando o conjunto da economia, incluindo o setor da Engenharia, começou a recuperar o seu ritmo anterior. Na virada do século, vivenciamos um período com características opostas, bons ventos provenientes do mercado externo (crescimento global a taxas aceleradas e preços elevados para as commodities que exportávamos) produziram aqui um grande dinamismo econômico e a Engenharia passou a viver momentos de muita valorização, com ofertas crescentes nas áreas de construção pesada, de mineração, de construção habitacional e na indústria automobilística, entre outras. Até que a crise atual apagou as luzes dessa fase auspiciosa.  Acompanhei bem a sucessão desses ciclos e os seus efeitos na formação e na empregabilidade dos engenheiros.

No período mais recente, tive a oportunidade de ver esse panorama em detalhe, no comando na nossa Construtora: MRV Engenharia, que além de um numeroso corpo de engenheiros bem qualificados, conta também com mais de mil estagiários nessa área. Mesmo tendo o cuidado de distinguir as características especiais do nosso corpo técnico – recrutado com esmero entre aqueles de melhor formação – pude observar uma evolução significativa na respectiva qualificação. Em geral, os novos profissionais da Engenharia apresentam-se mais bem qualificados e adaptados aos paradigmas atuais de produção, principalmente no que diz respeito ao uso de tecnologias inovadoras e à integração funcional. É gente com perfil de qualidade superior àquele que conhecíamos no passado e que podem apresentar produtividade significativamente mais elevada. Mas, infelizmente, ainda são muito poucos quando o seu número é comparado às necessidades nacionais.

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Em 2014, segundo dados da Federação Nacional de Engenheiros – FNE, formaram-se, apenas, 42 mil novos engenheiros no Brasil. Comparativamente, estudo divulgado no World Economic Forum acerca do número de engenheiros formados em 2014 nos dez países com maiores contingentes desses profissionais (excluídas a China e a Índia por falta de dados) aponta a magnitude da nossa defasagem: Rússia – 455 mil ; EUA – 238 mil ; Irã – 234 mil ; Japão – 168 mil ; Coréia do Sul – 148 mil ; Indonésia – 140 mil ; Ucrânia – 130 mil ; México – 114 mil ; França – 105 mil ; Vietnã – 100 mil. Em minha opinião, a baixa quantidade de engenheiros formados no Brasil, em que pese a sua melhoria qualitativa sob seleção, é um ingrediente importante na gênese da crise econômica que vivenciamos ou, pelo menos, um empecilho para dela sairmos com rapidez. Uma coisa está atrelada à outra. Um bom indício dessa ligação é o fato indiscutível de que, apesar da nossa grande população (5ª maior do mundo) e do tamanho da nossa economia (7ª maior do mundo) consumimos apenas 2,5% do cimento e do aço produzidos no planeta. Um resultado muito aquém das potencialidades da nossa Engenharia. Precisamos dinamizá-la, agregando-lhe maior contingente de profissionais de boa formação, entre outros requisitos que escapam ao objeto restrito deste tópico, para utilizá-la como instrumento de alavancagem do nosso perdido crescimento econômico.