Derrota de Trump enfraquece o dólar globalmente, mas não por aqui!

A reforma da Previdência segura o câmbio porque os agentes não estão seguros de como serão as concessões do Planalto.

José Faria Júnior

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

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Donald Trump sofreu nesta sexta-feira, dia 24 de março, a sua segunda grande derrota em pouco mais de 2 meses de governo: o primeiro revés ocorreu com a tentativa de barrar a imigração e agora amarga a manutenção do Obamacare. Para fins de entender o movimento do dólar, vou focar apenas nesta segunda questão.

Os mercados ficaram muito eufóricos com a vitória de Trump e o S&P500 (principal índice da bolsa de valores global) subiu mais de 10% em pouco mais de 4 meses basicamente com a crença que Trump iria cumprir três promessas de campanha: corte de gastos, redução dos impostos e incentivos para obras de infraestrutura.

A manutenção do Obamacare reduz o apelo de corte de gastos e o mercado aguarda com muita ansiedade o pacote de corte de impostos, principalmente após Trump comentar no início de fevereiro que este pacote seria divulgado em até 3 semanas – e já se passaram 6 semanas! Assim, estas decepções provocam a atual realização do S&P500 e das commodities, porém acredito que as quedas destes ativos não devem continuar por muito tempo.

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Você deve estar se perguntando como isto provoca a queda no dólar, então, vamos lá!

A questão básica é que a confiança dos investidores subiu muito e estes não encontram motivos para sustentá-la tão elevada neste momento, pois Trump não conseguiu mudar o sistema de saúde, uma promessa de campanha. E, assim, há dúvidas se os demais planos irão se sustentar. Ou seja, a confiança sobe primeiro, mas é preciso fatos concretos para mantê-la alta e em alta!

Além desta derrota de Trump, os dados antecedentes referentes ao crescimento do PIB dos Estados Unidos para o primeiro trimestre começam a desapontar:

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1-     O modelo econométrico do Fed de Atlanta reduziu suas projeções de 2,5% (em início de fevereiro) para apenas 1% agora;

2-     A prévia do PMI Markit de março caiu e a projeção do PIB utilizando este importante indicador saiu da faixa de 2,0% para a faixa de 1,7%.

Desta forma, e observando as projeções feitas pelo Fed (Federal Reserve – Banco Central dos EUA) no dia 15 de março, a expectativa de aperto dos juros nos Estados Unidos perde vigor e, assim, o dólar cai.

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Sobre o Brasil:

Há boas notícias internas, que podem ajudar na manutenção da tendência de queda do dólar:

1-     Continuação da queda dos juros pelo BC (atenção à reunião do Copom no dia 12 de abril);

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2-     Queda da expectativa da inflação, que deverá fechar o ano abaixo do centro da meta (4,5%);

3-     Fluxo de captações das empresas ainda robusto, incluindo IPOs;

4-     Repatriação II, com potencial de regularização de USD 30 bilhões.

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Porém, enxergo turbulência à frente:

1-     Risco crescente de desconfiguração da reforma da Previdência. Particularmente, desde o ano passado alerto que o projeto de reforma da Previdência como enviado por Temer não será aprovado. A questão é entender o quanto será desconfigurada. Quanto mais fraca e menos abrangente esta reforma, pior;

2-     Dúvidas sobre a reforma da Previdência nos Estados e municípios, pois a questão ainda não está fechada. Neste final de semana surgiu a ideia que estes entes federativos aprovarem mudanças em suas previdências até 6 meses a reforma da Previdência ser aprovada no Congresso, mas será que é possível acreditar nisto tão próximo das eleições para Governador e deputado estadual?

3-     Manifestações: devemos estar atentos a possíveis manifestações contrárias à reforma da Previdência (e também contra a reforma trabalhista e a nova lei sobre Terceirização). Por enquanto, as ruas seguem relativamente calmas;

4-     Lava Jato e seus efeitos sobre ministros e Congresso.

5-     Processo de cassação da chapa Dilma/Temer no TSE. Deverá ser um julgamento longo e com recursos ao STF.

6-     Agenda externa para os próximos dias:

30/03 – PIB de 2016 (EUA)

31/03 – PCE, inflação do Fed

03/04 – PMI (China e zona do euro) e ISM (EUA)

05/04 – ADP e ata da reunião do Fed (EUA)

07/04 – Payroll (EUA)

Conclusão:

O cenário externo sugere realização das bolsas e commodities, fato que ajuda a manter o dólar relativamente mais forte por aqui. Porém, como é bastante possível que em breve esta fase de realização fique para trás, o cenário externo tende a ser benigno porque o Fed está menos propenso a subir os juros.

O cenário interno segue como principal risco e as próximas semanas ajudarão a clarear como será a reforma da Previdência, o foco do mercado neste momento. Vamos acompanhar como a comissão especial encaminhará o relatório e a votação na Câmara.

Assim, o dólar/real segue trabalhando no range central de 3,05 – 3,17. Se o Governo tiver sucesso na reforma, poderemos ver o dólar finalmente testando de fato os 3,00 e com chances de queda.

Até a próxima semana!