Não será de um presidente fraco que virá uma reforma forte

O governo é liderado por alguém que, embora tenha conseguido improvisar a fantasia de capitão durante o pleito, vacila

Mario Vitor Rodrigues

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Houve quem acreditasse na alegoria do ministro domando o presidente da República. Houve quem comprasse o arrependimento e a conversão de Jair Bolsonaro ao liberalismo econômico, mesmo que ele tenha atuado durante três décadas como um autêntico sindicalista. Houve até quem enxergasse prova inequívoca de popularidade no resultado da última eleição, de tal modo que a pressão via aplicativos e redes sociais seria suficiente para forçar o Congresso a endossar a agenda governista.

Não só houve como ainda há quem acredite em todos esses devaneios. Entretanto a realidade se apresenta madrasta.

Paulo Guedes age com hombridade, veste a camisa do governo e emite sinais de otimismo — por vezes, alguns chegam a flertar com a ficção. É preciso dizer, contudo, que ninguém deve se surpreender caso o dito superministro abandone o barco antes do esperado. Especialmente se a proposta da Previdência a ser aprovada configurar uma derrota pessoal (abaixo de 600 bi).

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Quanto a uma guinada do presidente na direção oposta àquela percorrida por ele durante toda a sua existência como parlamentar, espera-se que o leite em pó, a banana do Equador e a recente intervenção na Petrobras tenham sido suficientes para, em especial aos olhos dos incautos, iluminar a vida como ela é.

Alguém haverá de dizer que todas essas constatações já foram feitas pela maioria das pessoas. Que criticar o governo agora é inútil, cabendo apenas esperar que as coisas funcionem, quiçá, cobrando com moderação, afinal continua sendo melhor ter um mandato Bolsonaro do que a volta da esquerda ao poder.

Alguém haverá de dizer todas essas coisas, entretanto estará equivocado.
Começando pelo ponto menos importante. Passar os próximos anos olhando pelo retrovisor, acreditando na ameaça do retorno do petismo, claro, apenas beneficiaria o governo. Pior do que isso, beneficiaria a porção mais biruta da gestão Bolsonaro, a chamada ala ideológica, especialista em gerar crises evitáveis e ruídos nocivos ao país. Em outras palavras, trata-se de uma armadilha. Espantalho montado para que a sociedade desvie o foco das questões de fato importantes.

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Também cabe lembrar que torcida e boa vontade das pessoas para com a administração atual não resolverá nada. Por mais que eu ou você que me lê sejamos otimistas, é pouco provável que isso interfira no andamento das articulações políticas necessárias para fazer a reforma andar no Congresso Nacional.

É certo dizer que nenhuma das constatações feitas aqui merece manchete. De todo modo, pelo estado de catarse eleitoral ainda vigente e o frisson provocado pela necessidade da aprovação das reformas econômicas, sempre será útil lembrar as mazelas provocadas por este governo amador, absolutamente desqualificado para comandar o Brasil.

Quem sabe, assim, em futuro próximo sejamos capazes de entender melhor o porquê de uma agenda tão importante como a reforma da Previdência não ter prosperado como se imaginava.

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No fim das contas, o governo é liderado por alguém que, embora tenha conseguido improvisar a fantasia de capitão durante o pleito, vacila. Não demonstra ser firme o suficiente sequer para exigir que o próprio filho controle seus impulsos.

Ou, mais preocupante, por alguém que precise do rebento para atingir aliados que secretamente deseja minar.

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