Sheila Bair tem a solução para a crise? Saiba mais sobre a líder da FDIC

Agência ganha importância ao lado do Tesouro e Fed ao propor a modificação das hipotecas para atacar a raiz da crise financeira

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Henry Paulson, Ben Bernanke e Sheila Bair. Os dois primeiros possivelmente não precisam de apresentações. Paulson é o secretário do Tesouro norte-americano e, o segundo, presidente do Federal Reserve. Mas é do último nome que partiu uma das mais comentadas propostas dos últimos dias para atacar a crise financeira internacional e reduzir os efeitos na economia real norte-americana e global.

Sheila é presidente da FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), órgão que garante os depósitos das instituições financeiras nos EUA, além de supervisioná-las. Didática nas palavras como quem ensina Economia para crianças, o que realmente fez com o premiado livro “Rock, Brock, And the Savings Shock”, divulgou na semana passada um plano para reduzir as execuções de despejo. A proposta busca atingir a raiz do problema da crise.

Papéis lastreados em hipotecas inadimplentes despencaram de valor e levaram consigo todos derivativos ligados a eles, caso dos CDS (Credit Default Swaps), que protegem o investidor de um default. Diante do Comitê Bancário, Imobiliário e de Assuntos Urbanos do Senado, afirmou no último dia 23 que a crise é em grande parte causada “pela incerteza em relação ao valor dos ativos hipotecários, fato que faz com que os bancos relutem em emprestar dinheiro entre si, aos consumidores e empresas”.

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O diabo está nos detalhes

Segundo Sheila, garantias de empréstimos podem ser usadas como incentivos para a modificação dos contratos. Desde que a agência passou a comandar a financiadora de hipotecas IndyMac em julho, instituiu um processo de modificação de empréstimos em atraso há mais de 60 dias. De 60 mil empréstimos com estas características, 40 mil estão elegíveis ao programa. “A FDIC irá se tornar cada vez mais importante nos próximos anos”, disse à InfoMoney o economista-chefe da Parsec Financial Management, James F. Smith.

“A FDIC está trabalhando de uma maneira criativa e próxima do Tesouro para atingir todo o benefício potencial desta autoridade”
Sheila Bair ao Senado norte-americano na semana passada.
Leia o discurso (em inglês)

Para a revista Forbes, Sheila é hoje a segunda mulher mais poderosa do mundo, atrás de Angela Merkel – primeira ministra da Alemanha, e à frente de Indra K. Nooyi, executiva-chefe da PepsiCo. Para Anthony B. Sanders, professor de Finanças e Setor Imobiliário da W. P. Carey School of Business, é inegável que a agência será cada vez mais importante na tarefa de estabilizar os preços das casas no país e na redução das execuções.

“Eu aprecio as idéias dela e concordo em princípio. Entretanto, o diabo está nos detalhes”, disse Sanders à InfoMoney. O professor lembra de que enorme parte das hipotecas são fraudes, feitas em um momento no qual todos buscavam alternativas para aproveitar a rápida aceleração dos imóveis, “como modificar estes empréstimos?”, questiona Sanders.

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Preços em queda

O trabalho é árduo e, apesar de algumas notícias positivas como a vendas de casas novas em setembro com números acima do esperado, as execuções hipotecárias subiram 71% no terceiro trimestre na base de comparação anual. Em agosto, os preços dos imóveis caíram
pelo 25º mês consecutivo. Segundo Sheila, a idéia é a de que o governo estabeleça padrões para as modificações nos empréstimos e poderia convertê-los em sustentáveis no longo prazo. “Este é um bom modelo em casos que fazem sentido. Não há muito que pode ser feito para uma pessoa que deve US$ 300 mil em um imóvel que vale US$ 150 mil, exceto deixar que o processo de execução continue até que a casa seja vendida para outro comprador”, diz Smith.

Sanders, que falará sobre o assunto na Câmara dos Representantes no próximo dia 14, não vê argumento econômico que justifique, por exemplo, a modificação de empréstimos para devedores desempregados. “Talvez o melhor papel que o governo possa desempenhar no curto prazo seja o de disponibilizar recursos para a contratação de mais ‘servicers’ – empresas que atuam na análise jurídica e documental dos contratos imobiliários”, afirma.

“Para resolver a crise financeira, precisamos eliminar o problema da queda dos valores das casas e da inadimplência hipotecária. É imprescindível que possamos nos situar antes desta curva destrutiva”, aponta Peter J. Wallisom, em artigo publicado no Wall Street Journal do último dia 25, sob o título de “Let’s Use Fannie to Clean Up the Mess It Made (‘Vamos usar a Fannie para limpar a bagunça que ela fez’)”.

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“As agências governamentais precisam assumir as perdas que estejam associadas ao refinanciamento das hipotecas”
Peter J. Wallisom, coordenador do instituto AEI.

Ação conjunta ao TARP

Para Wallisom, que foi conselheiro do Tesouro norte-americano durante a administração Ronald Reagan, o plano TARP (Troubled Assets Relief Program), que prevê a capitalização dos bancos por meio da compra de ações e aquisição de ativos podres, só irá funcionar caso o governo previna a maior depreciação destes papéis.

Caso contrário, o valor das instituições pode continuar a cair, fazendo com que o valor investido seja destruído. O economista coordenador do instituto AEI (American Enterprise Institute) disse à InfoMoney que ainda tem dúvidas sobre como Sheila irá conseguir reduzir as taxas de juros. “As agências governamentais precisam assumir as perdas que estejam associadas ao refinanciamento das hipotecas”, alerta.

A sugestão é de que as agências patrocinadas pelo governo – Fannie Mae e Freddie Mac – assumam estas perdas. Pela proposta, ambas poderiam oferecer dinheiro aos bancos pelas hipotecas inteiras ou pelas colateralizadas com um desconto. As agências então negociariam uma modificação nas hipotecas, com taxas de juros menores. O mínimo seria de 5% para hipotecas com taxas fixas e as variáveis seriam transformadas em fixas com prazo de pagamento de vinte anos. “Para reduzir a taxa de juros para este baixo nível, elas poderiam tomar emprestado do Tesouro, caso necessário”, diz Wallisom. Tal possibilidade já está garantida no plano anti crise aprovado pelo Congresso.

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O coro de economistas que pede uma solução para a crise por meio da redução das execuções de hipotecas cresce e há poucos que contestam a importância de um plano. É o modelo que ainda gera debate.

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