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A resposta a esta pergunta não é simples, pois o período de avaliação escolhido para o teste da estratégia, ou a profundidade da análise estatística realizada dirão qual é a robustez da estratégia.
Para tentar elucidar qual das principais estratégias de investimentos em ações é mais consistente e vencedora, foi feito um estudo por Alex Tanaka (orientado por este que vos escreve) que aplicou e analisou as estratégias de investimentos em ações mais difundidas no mundo ao mercado brasileiro, que são:
- Valor ou Value: é aquela que procura investir em ações que estão baratas ou ações que estão fora de análise do mercado. Há muitas formas e critérios para se definir estas ações, como as receitas de bolo de Warren Buffet ou Benjamin Graham, mas de uma maneira simples e frequentemente utilizada é olhar para os múltiplos Preço/Lucro ou Preço/Valor Patrimonial. O investidor da estratégia de valor selecionará ações com menores múltiplos (Preço/Lucro, Preço/Valor Patrimonial, Preço/Fluxo de Caixa), porque comprará ações com preço menor (numerador) e com lucro ou valor patrimonial ou fluxo de caixa alto (denominador). Ações do tipo Blue Chip muitas vezes também são do tipo Valor. No estudo, o múltiplo Preço/Lucro foi obtido pelo preço da ação dividido pelo seu lucro realizado (conhecido também como trailing PE). E o indicador Preço/Valor Patrimonial foi preço da ação dividido pelo valor patrimonial da empresa, ou seja, o total de ativos da empresa menos as dívidas.
- Crescimento ou Growth: é aquela que investe em ações que estão em um bom momento, os preços estão avançando, e as empresas possuem um grande potencial de crescimento. Nesse aspecto, esta estratégia é totalmente oposta à estratégia de Valor. Enquanto investidores de Valor preferem ações que não estão em um bom momento e seus preços estão depreciando, os investidores de Crescimento não estão preocupados em comprar uma ação que já obteve um bom desempenho, por acreditarem que as ações continuarão a se valorizar. As ações de empresas pequenas, e de tecnologia, normalmente são representantes da estratégia de crescimento.
- Estratégias relacionadas à capitalização de mercado da empresa (Small, Mid, e Large Caps): nestas estratégias a seleção das ações é realizada pelo seu tamanho, representado pela capitalização de mercado. Acredita-se que as small caps possuem grande potencial de valorização devido ao seu potencial de crescimento (afinal é mais fácil dobrar o tamanho de uma empresa que fatura R$ 10 milhões, do que de uma que fatura R$ 100 bilhões). Já as large caps não possuem grande potencial de crescimento, mas por serem maduras costumam distribuir bons dividendos aos seus acionistas.
- Contrária ou Contrarian: aqui o investidor selecionará as ações que tiveram um baixo desempenho recentemente e que parecem subavaliadas pelo mercado, pois espera que elas subam no próximo período, e ele vende as ações que subiram, pois espera que elas caíam.
- Momento ou Momentum: o investidor nesta estratégia selecionará as ações que tiveram os maiores retornos nos períodos passados, exatamente ao contrário da estratégia contrária. Por trás desta estratégia há o lema: “fará mais dinheiro, comprando na alta e vendendo com o preço mais alto ainda”.
- Dividendos: esta estratégia é baseada no indicador chamado de dividend yield calculado dividindo-se o valor do dividendo pela cotação da ação. Quanto maior o resultado, melhor para o investidor, pois maior está sendo o retorno na forma de dinheiro. Assim o investidor selecionará para a construção da carteira, ações com maior dividend yield.
“Lembre-se que retorno passado não é garantia de retorno futuro” |
Em todas as estratégias, foi usada uma população de 1.148 títulos negociados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) entre ações de empresas ONs, PNs, Units e recibos de subscrição no período de janeiro de 1996 a dezembro de 2007. Os preços das ações foram ajustados para os proventos (dividendos, juros de capital, bonificação e subscrição) no período estudado.
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Foram construídas carteiras de ações representando cada uma das estratégias acima, e a cada ano foi feito o rebalanceamento destas carteiras seguindo o critério de seleção de ações de cada estratégia. A alocação nas carteiras das ações selecionadas foi realizada pela capitalização de mercado de cada uma delas, pois empresas maiores costumam ter mais ações negociadas do que as menores, o que facilita a montagem da carteira.
Os resultados das aplicações das estratégias estão sumarizados no gráfico de desempenho das carteiras, que exibe a evolução dos ganhos de uma aplicação de R$ 100 no início de 1996 em cada uma das estratégias.
O gráfico do desempenho das carteiras mostra que a estratégia de Valor, que seleciona ações usando o múltiplo Preço/Lucro (VALUE PE), foi a de melhor desempenho (em termos de retorno absoluto) em todo período de dez anos de análise, superando não somente as outras estratégias mas também o índice BOVESPA. Pelo gráfico quem tivesse investido R$ 100 no início de 1996 obteria R$ 39.485,64 no final de 2007.
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Como em finanças retorno e risco devem ser analisados conjuntamente, o estudo calculou o índice Sharpe (IS), resultado do retorno da carteira da estratégia menos o retorno do IBOVESPA dividido pelo risco da carteira (desvio-padrão dos retornos da carteira). Os índices de Sharpe mostraram que a melhor estratégia foi a de dividendos (IS = 0,26), porque apesar de ter uma média de retorno inferior a algumas estratégias, o seu desvio padrão era baixo o que compensava este retorno. Já a estratégia de Valor (VALUE PE) obteve o segundo melhor índice de Sharpe (IS = 0,22), destacando a consistência da estratégia.
Alguns estudos nos Estados Unidos mostram que a estratégia de Valor usando o múltiplo Preço/Lucro Projetado, sendo que o Lucro Projetado normalmente é obtido pelo consenso dos analistas do mercado, obtém retorno ainda superiores aos da estratégia VALUE PE que foi usada no estudo, que empregou o lucro realizado.
Alguns avisos antes de começarem aplicando as estratégias: lembre-se que retorno passado não é garantia de retorno futuro; estas estratégias foram aplicadas no longo prazo; a seleção das ações é automatizada, ou seja, os critérios de seleção foram aplicados sem olhar o nome da empresa, quem são seus gestores, etc. (o que pode representar um maior potencial de ganhos, ou até de perdas); o ano de 2008 não fez parte ainda do estudo (vamos atualizá-lo brevemente), mas isto pode indicar maiores possibilidades de ganho devido à forte desvalorização que a BOVESPA sofreu.
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Doutor em Administração de Empresas pela FGV-EAESP, Ricardo Ratner Rochman é consultor e professor de Finanças da FGV-EAESP e escreve mensalmente na InfoMoney, às segundas-feiras.
ricardo.rochman@infomoney.com.br