Emergentes crescerão ainda menos em 2015, de acordo com o FMI

Ainda em relatório de Perspectiva Econômica Global, o FMI disse que a falta de investimentos no Brasil era a causa da baixa confiança por aqui

Marina Neves

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O crescimento potencial dos países emergentes, que vem se desacelerando nos últimos anos, deve cair ainda mais no futuro próximo, afirma o Fundo Monetário Internacional (FMI) em um estudo divulgado nesta terça-feira, 7, que faz parte do relatório Perspectiva Econômica Global. Já nos países avançados, a projeção é de que a expansão potencial aumente, mas não para o nível que tinha antes da crise de 2008.

Para evitar que o crescimento siga fraco, o FMI recomenda que os governos priorizem políticas para estimular o crescimento potencial, tanto de países emergentes como de avançados. O estudo ressalta que as medidas e reformas necessárias variam em cada país, mas para o bloco dos emergentes, maior gasto com investimento em infraestrutura é crítico para remover gargalos que impedem uma maior expansão da atividade. Além disso, reformas estruturais são essenciais para melhorar o ambiente de negócios e estimular o investimento privado, que também vem caindo nos últimos anos. Nos mercados desenvolvidos, uma das recomendações é de políticas de estímulo à demanda, além de reformas de mercado, incluindo estímulo à pesquisa.

Para o estudo e o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) potencial, o FMI avaliou 16 países, incluindo o Brasil, México e a China, entre os emergentes, e Estados Unidos, França e Reino Unido, entre os desenvolvidos. O crescimento potencial é a taxa que os países crescem utilizando plenos recursos e sem acelerar a inflação.

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No caso dos emergentes, a conclusão dos técnicos do FMI não é muito animadora. Depois de um crescimento potencial de 6,5% entre 2008/2014, a taxa deve cair para 5,2% entre 2015/2020. Na China, a redução pode ser ainda maior por causa do rebalanceamento interno na política econômica, com Pequim querendo dar mais peso ao consumo doméstico e menos às exportações, ressalta o relatório.

No primeiro mundo, ao contrário, a taxa deve subir de 1,3% de 2008/2014 para 1,6% entre 2015/2020. Mesmo com a melhora, o nível de crescimento potencial deve ser menor do que era antes da crise financeira mundial, quando os países desenvolvidos tinham expansão potencial média de 2,2%.

O declínio no PIB potencial dos países emergentes é explicado, de acordo com o estudo principalmente pela falta de investimentos em infraestrutura, baixa produtividade e pelo envelhecimento da população. Antes da crise de 2008, a expansão potencial deste bloco de países cresceu justamente porque ocorreram transformações estruturais, ressalta o estudo.

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Brasil e China são citados como exemplos de países em que o envelhecimento da força de trabalho deve se acelerar nos próximos anos. Nos países desenvolvidos, a queda da produtividade é um dos fatores que explicam a piora do PIB potencial, que vem declinando desde antes da crise financeira mundial.

A discussão sobre crescimento potencial tem ganhado espaço nos estudos recentes de economistas e organismos multilaterais, depois que a economia mundial passou a contrariar previsões e apresentar números de expansão do PIB sempre abaixo do previsto. As baixas taxas de crescimento levaram economistas, como o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Lawrence Summers, a falar em “estagnação secular”, expressão que designa longos períodos de baixo crescimento, em geral com juros baixos e deflação.

O baixo crescimento potencial tem implicações na política econômica dos governos, destaca o FMI. Nos países desenvolvidos, por exemplo, a menor taxa de expansão pode prolongar a permanência de juros zero, além de dificultar a redução dos níveis de endividamento público e privado. Nos emergentes, pode complicar a melhora de indicadores fiscais.

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Projeções
Sem ação dos governos, o crescimento potencial dos países emergentes vai declinar nos próximos anos e o dos países desenvolvidos terá crescimento, mas em nível inferior ao que era no passado, afirmou o economista do Fundo Monetário Internacional (FMI), Davide Furceri, nesta terça-feira, 7.

O padrão de crescimento potencial dos países emergentes, que até agora tem tido comportamento similar, pode nos próximos anos ficar menos homogêneo, afirmou Furceri. “Olhando pra frente, devem ter fatores específicos em algumas economias emergentes, como Brasil e Rússia, que podem ser diferentes. Cada um dos países tem suas especificidades, como a China tentando rebalancear sua economia e outros países podem enfrentar outros desafios”, disse.

Para estimular o crescimento potencial, quando um país cresce sem gerar inflação, a recomendação do FMI é a de que os governos, no caso dos países emergentes, melhorem a infraestrutura, para eliminar gargalos, e façam reformas importantes na economia, que melhorem o ambiente de negócios e estimulem os empresários a investir. “Aumentar o gasto em infraestrutura é um fator chave”, disse Furceri.

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O vice-chefe do departamento de pesquisa do FMI, Daniel Leigh, ressaltou ainda que o investimento privado tem caído nos países avançados e desenvolvidos e há sinais de que está contribuindo para reduzir o crescimento de longo prazo. A queda na crise de 2008 foi maior que em outros períodos de recessão e desde então a tem havido pouca recuperação, afirmou Leigh.

Para estimular o investimento privado, o economista ressalta que é essencial que os governos tenham um diagnóstico correto dos motivos que levam empresários a não investir. “Se o baixo investimento é apenas reflexo da fraca atividade econômica, então medidas para estimular a atividade podem ser usadas”, disse ele. Mas se for consequência de incerteza política e de fraquezas no sistema financeiro do país, estes problemas precisam ser resolvidos antes.

O FMI prevê que depois de os emergentes apresentarem um crescimento potencial de 6,5% entre 2008/2014, a taxa deve cair para 5,2% entre 2015/2020. Nos países desenvolvidos a taxa deve subir de 1,3% de 2008/2014 para 1,6% entre 2015/2020. Mesmo com a melhora, o nível deve ser menor do que era antes da crise financeira mundial, quando os países desenvolvidos tinham expansão potencial média de 2,2%.

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Questão brasileira
O investimento privado vem se reduzindo nos países emergentes desde 2011, principalmente em países como Brasil, Rússia e África do Sul, mas a queda tem sido mais acentuada e a recuperação mais lenta nos países desenvolvidos, de acordo com um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado nesta terça-feira, 7. No Brasil, a piora na confiança por parte dos empresários e a baixa competitividade têm impedido a melhora do investimento.

A recomendação do FMI é a de que os governos avaliem as fraquezas da atividade econômica e resolvam falhas para estimular os empresários a voltarem a investir mais. Em alguns casos, a queda do investimento tem sido muito mais acentuada que a do Produto Interno Bruto (PIB), o que mostra a ação de outros fatores para explicar a piora dos gastos privados, argumenta o FMI.

O primeiro mundo teve queda de 25% do investimento privado desde a crise mundial. Nos emergentes, a redução tem sido mais gradual, de acordo com o FMI. No geral, a queda é explicada pela desaceleração da economia, com previsões de expansão do PIB da economia mundial e de países importantes sendo constantemente revisadas para baixo. Mas o FMI ressalta que outros fatores contribuem para a desaceleração, como a maior incerteza política e piora das expectativas de retornos.

Confiança
No Brasil, a queda é reflexo também da piora da confiança dos empresários e da baixa competitividade, destaca o relatório. O fim do boom dos preços internacionais das commodities é outro fator para explicar a redução, principalmente nas economias exportadoras da América Latina, ressalta o FMI. Nesse ambiente, a piora das expectativas de lucros futuros também ajuda os empresários a adiarem projetos ou mesmo cancelarem investimentos.

Nos países desenvolvidos, principalmente na zona do euro, a incerteza elevada e o aumento do custo de financiamento para as empresas, destaca o FMI, ajudaram a adiar projetos de investimentos das empresas. “O investimento fixo privado nas economias avançadas contraiu acentuadamente durante a crise financeira global e tem havido pouca recuperação desde então”, diz o documento.

(Com Agência Estado)

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