De Zelotes ao “projeto secreto de TI”: diretores do Bradesco respondem dúvidas do mercado

Após o encontro, os analistas prepararam um relatório em que apontam como preço-alvo das ações preferenciais a cifra de R$ 27,40

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Três analistas do banco Brasil Plural foram recebidos pelo alto escalão da administração do Bradesco (BBDC3; BBDC4) para saber como andam os negócios da companhia após a aprovação da compra do HSBC Brasil, o cerco da Operação Zelotes e os avanços de um plano ainda sob sigilo que busca o aprimoramento de serviços tecnológicos oferecidos a clientes.

O encontro resultou em um relatório enviado a clientes em que foi reiterada percepção otimista para as ações do banco. Os especialistas Eduardo Nishio, Marcelo Atallah e Vinicius Ribeiro estabelecem como preço-alvo para os papéis preferenciais a cifra de R$ 27,40, o que corresponde a uma alta de 2,20%, levando-se em consideração o fechamento do último dia 11 de julho (R$ 26,81).

A seguir, algumas considerações postas pelo trio de analistas após encontro com o vice-presidente executivo Domingos Abreu, o diretor vice-presidente Maurício Minas, o diretor de relações com investidores Luiz Carlos Angelotti e o presidente do Bradesco Seguros Randal Zanetti:

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Qual é o próximo passo com a estratégia de TI do Bradesco?
É nesse setor que os analistas do Brasil Plural observam maior potencial futuro para o banco avançar sobre os concorrentes, embora maiores detalhes ainda sejam mantidos sob segredo e inspirem paciência no momento. “Os projetos são interessantes e promissores, mas, sem detalhes concretos, a ambição de TI do Bradesco é tão indefinível quanto potencialmente perturbador — pelo menos nesse momento até que mais seja revelado”, escreveram em relatório a clientes. O que é possível saber no momento é que o lançamento do primeiro aplicativo, previsto para ainda este ano, tem por objetivo conectar clientes, projetos e dados de estilo de vida a transações financeiras, produtos e serviços. “Estamos esperando para ver como esse aplicativo se apresenta antes de declarar o Bradesco como líder da corrida digital, particularmente em um setor competitivo em que os copyrights/patentes não se aplicam, e onde copiar e aplicar práticas é comum”, observaram.

Em entrevista recente ao Broadcast, o vice-presidente do banco, Maurício Minas, disse que o Bradesco está investindo em uma plataforma totalmente digital, e, em paralelo, acelera a digitalização de sua base física. Também sem dar muitos detalhes, o executivo adiantou que o modelo digital levará em conta a “jornada dos clientes”, o que se entende por hábitos de consumo, preferências e comportamento. Outra novidade é a abertura de contas totalmente digitais, possibilitada por recente resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional).

Quais são os riscos representados pela Operação Zelotes?
Algumas horas antes do anúncio da Polícia Federal acerca do envolvimento do alto escalão do Bradesco nas investigações da Zelotes, os analistas contam que puderam conversar com dois dos três nomes apontados. “Não somos advogados, mas nossa primeira leitura sobre a matéria é que os argumentos da administração são fortes, o que parece bem sustentado depois que o banco perdeu seu recurso em caso no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), indicando que provavelmente nenhum serviço ou acordo foi feito com partes que poderiam influenciar o resultado”, escreveram. Para os analistas, não são esperados eventuais encargos para o banco pela operação, apenas para os três citados.

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O que se espera da compra do HSBC Brasil em termos de resultados?
Os analistas acreditam que a decisão de o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), de aprovar com restrições brandas no início do mês a aquisição feita pelo Bradesco, não trouxe grandes novidades, uma vez que mesmo as restrições práticas para a compra do Citibank Brasil não frustraram grandes expectativas. “A administração sinalizou lucros de aproximadamente R$ 1 bilhão recorrentes sem sinergias custo/receita para o HSBC Brasil neste ano”, destacaram, no que pode indicar um bom negócio.

O que há de novo na estratégia para o setor de seguros?
A primeira fase da restruturação da distribuição dos canais de seguro, que permitiu que o Bradesco apresentasse crescimento mais acelerado do que seus concorrentes, está concluída. “A segunda fase está prevista para ser concluída em 2018, e tem como objetivo aumentar a oferta de produtos complementares, ampliando a retenção e conquista de clientes a partir do uso de análises e inteligência de negócios”, observaram os analistas do Brasil Plural. No setor automotivo, o desempenho vai depender de mudanças estruturais para estimular crescimento adicional, bem como no de pensões, que tem no radar uma agenda de reformas e ampliação da educação financeira. No setor de saúde, os crescimentos de dois dígitos são vistos como insustentáveis, ao passo que nos seguros de vida o banco tem aprendido a vender produtos, embora não sejam destaques em suas prateleiras.

Como tendem a se comportar os spreads?
O alto escalão do Bradesco vislumbra pouco espaço para elevar os spreads. “Os spreads consolidados devem crescer marginalmente, principalmente no efeito da reprecificação da velha carteira sendo substituída por novos empréstimos com spreads mais elevados”, escreveram os analistas do banco.

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Segue o jogo na Cielo
A despeito do que se chegou a especular algumas semanas atrás, Rômulo de Mello deve continuar CEO (Chief Executive Officer) da Cielo (CIEL3). O alto escalão da administração do Bradesco está satisfeita com sua gestão e o conselho renovou contrato por mais dois anos.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.