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Ao comentar a alma portuguesa em “Labirinto da saudade”, o sociólogo Eduardo Lourenço diz: ‘Freud não sabe o que perdeu ao não nos conhecer’. Quem ficaria perplexo e perdido é Maquiavel se tivesse conhecido a política brasileira.
O presidente Michel Temer acredita ter conseguido controlar a mais recente ameaça que seu governo, indiretamente, enfrentava – a crise de violência com a paralisação da Polícia Militar no Espírito Santo que poderia servir de “exemplo” para outros estados, a começar do Rio de Janeiro – e se prepara para atacar duas outras frentes de problemas que o afligem.
O ministro da Defesa, Raul Jungman, à falta de um titular na Justiça e Segurança Pública para assumir o comando do grupo que foi a Vitória tentar debelar a crise, garante que a ordem está restaurada em terras capixabas. Assim, Brasília via em frente.
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Numa das frentes, segurança garantida, pretende botar o bloco da economia para andar na rua com maior velocidade do que começou a andar. É quase unânime a opinião, entre os especialistas do governo e fora dele, que o PIB deixou o fundo do poço. Porém, é uma retomada lenta, a opinião é que crescerá 1% este ano, apontando para 2% ou um pouco mais em 2018.
O que é considerado pouco, considerando-se que o poço bateu fundo demais no emprego e na renda dos assalariados. O mundo político no Palácio do Planalto, no Congresso e nos partidos aliados quer mais, pois acha que com a população mais satisfeita será possível fazer esquecer o outro fantasma que assombra suas noites: as cobranças por punições exemplares na Operação Lava-Jato e investigações similares.
Por isso, há pressões sobre a equipe econômica para que adote medidas pontuais para incentivar o consumo – forma de fazer a indústria e o comércio girarem e aumentar mais rapidamente a oferta de emprego. Além de torcer, naturalmente, para o Banco Central continuar bem aberto à redução da taxa básica de juros e nas medidas para diminuir o spread bancário.
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As pressões sobre o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que tem sido cauteloso em avançar nesta linha, estão fortes e devem crescer.
SEM VERGONHA DE SAIR
DO ARMÁRIO DA ANISTA
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Na outra frente, que está perdendo a vergonha de sair do armário, arma-se o cerco (ou seria circo?) para tentar “estancar” (expressão do senador Romero Jucá) a Operação Lava-Jato, com medidas como anistia para o caixa 2 e propostas para inibir as ações do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça, coisas já tentadas ano passado e temporariamente arquivadas.
O movimento ficou claro como se pôde sentir nos últimos dias com episódios como a nomeação de Moreira Franco para um cargo ministerial, a eleição de Eunício de Oliveira e Rodrigo Maia para as presidências do Senado e da Câmara, a indicação de Edison Lobão para comandar a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a indicação do ex-ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para o STF, e a disputa dos partidos políticos para indicar o novo ministro da Justiça entre um deles – ver “Primeiras” da semana passada.
Lobão já deu a senha publicamente, em entrevistas no fim de semana nas quais defendeu abertamente a anistia para o caixa 2 e posicionou-se a favor de mudanças nas regras das delações premiadas, um dos pesadelos dos enrolados na Lava-Jato – ela só seria admitida para pessoas que estivessem soltas. Lobão, como se sabe, não tem voz própria. É meio boneco de ventríloquo dos comandantes do PMDB no Senado, em especial do ex-senador e ex-presidente da República, José Sarney.
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Uma dessas ações antiLava-Jato vai passar hoje por um crivo: o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello deverá julgar uma liminar apresentada por partidos de oposição contestando o cargo de ministro dado a Moreira Franco com direito a foro privilegiado. No momento, por decisão liminar da Justiça Federal, le é ministro, mas sem a proteção do foro. O parecer de Mello é relevante porque, mais do que pelo voto em si, sua argumentação mostrará até que ponto a Suprema Corte está atenta a manobras para confinar as investigações de corrupção pública contra políticos e partidos.
Destaques dos
jornais do dia
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– “Tesouro arcará com R$ 125 bi de crédito subsidiado dado ao BNDES” (Globo)
– “Comércio fechou 108 mil lojas e cortou 182 mil vagas em 2016” (Estado)
– “Infraero vai criar empresa para gerir 19 aeroporto” (Valor)
– “Em crise, Rio só corta 7% dos cargos comissionados” (Globo)
– “Constituição do RS impede privatização do Banrisul” (Valor)
– “Crise faz saúde ganhar espaço no gasto dos estados” (Valor)
LEITURAS SUGERIDAS
1. Ricardo Noblat – “Prepara-se o fim da Lava-Jato” (diz que entre outras coisas, pode-se votar no Congresso a lei de anistia do caixa 2, acabar com a delação premiada de quem estiver preso…) – Globo
2. Paulo Guedes – “Mudar ou morrer” (diz que o governo Temer ou se lança às reformas ou arde nas chamas da Lava-Jato) – Globo
Destaques dos jornais
do fim de semana
SÁBADO
– “S&P vê mudanças significativas na Petrobras e eleva nota da empresa” (Estado/Globo)
– “MPF denuncia cartel de trem no estado de São Paulo” (Estado)
DOMINGO
– “Crise leva meio milhão de volta ao Bolsa Família” (Globo)
– “Juros da dívida de estados e capitais atinge R$ 77,6 bi em 2016” (Estado)
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