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SÃO PAULO – Imagine um grande investidor focado em mercados emergentes. Quantas possibilidades não existem em suas mãos? Provavelmente muitas. Avaliar tudo isso não é tarefa fácil, em especial quando o assunto é risco, fator fundamental em uma análise de investimento. Neste quesito, existe uma métrica que ajuda muito os gestadores e que está presente em boa parte dos modelos de avaliação – o CDS (Credit Default Swaps).
O índice, criado em 1994 por um conjunto de bancos liderado pelo JP Morgan, é na sua essência um seguro contra inadimplência. Esse crédito é negociado entre duas partes: uma delas pode ser uma instituição financeira que compra proteção para sua carteira de crédito e a outra pode ser, por exemplo, uma seguradora de títulos, que vende essa proteção. Assim, o risco de “default” (calote) é transferido do credor para o vendedor do CDS – no exemplo acima, a seguradora.
Por estar correlacionado com inadimplência, o CDS é popularmente chamado de “seguro-calote”, já que a pontuação deste crédito (que representa quanto o mercado exige de retorno para comprar este ativo) está relacionado com a capacidade daquela empresa ou país de honrar suas dívidas – quanto mais alta a pontuação, mais arriscado é este título.
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Se você acompanhou o noticiário econômico nesta semana, viu que o CDS brasileiro atingiu seu menor patamar em 2 anos, batendo 197 pontos. Isso significa na prática que o Brasil é um País menos arriscado? Certamente que sim, mas este indicador pode te trazer muito mais informações muito mais do que esta.
O que isso implica na prática?
Na prática, CDS é percepção de risco. E quando estamos falando de um país, essa cesta engloba, basicamente, as perspectivas econômicas do mercado, comportamento futuro do câmbio e taxa de juro, como a capacidade de honrar as dívidas. Daí a analogia de “seguro-calote” e sua importância para os investidores, em especial aos estrangeiros, fatia importante no nosso mercado.
Um Risco-País baixo, que é o caso do Brasil neste momento, reduz os temores sobre todas as variáveis listadas no primeiro parágrafo e altera (positivamente) o humor do investidor estrangeiro, que, como sabemos, é uma fatia importante na B3. Para termos uma ideia dessa relevância, em maio, os “gringos” foram responsáveis por 52% do volume negociado no segmento Bovespa (que envolve ações à vista, termo, opções e exercício de opções).
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Mas, você pode se perguntar – e os ratings? Eles que são as medidas tradicionais de avaliação de risco. Sim, as notas atribuídas pelas agências de classificação de risco Moody´s, Fitch e S&P (Standard & Poor´s) não podem ser esquecidas e são importantes. Porém, o mercado trabalha com expectativa e os modelos das agências avaliam a trajetória dos dados econômicos. Por isso, muitas vezes a avaliação de risco chega tarde demais.
Não precisamos ir tão longe. No começo de 2008, as três principais agências de classificação de risco atribuíram o “grau de investimento” para o Brasil. Meses depois, em maio, o Ibovespa cravou sua máxima histórica em 73.920 pontos. A crise do subprime nos Estados Unidos também foi um marco deste “atraso” quanto à percepção de risco das agências.
Por todos esses fatores, o CDS é utilizado no valuation para capturar com mais agilidade à percepção de risco do mercado. Nesse momento, com o risco de calote brasileiro na mínima de 2 anos, a interpretação é de que investir no Brasil tornou-se menos arriscado e isso abre espaço para uma melhor de percepção sobre o rumo do país, refletindo, diretamente no comportamento positivo das ações e do Ibovespa.
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CDS vs Ibovespa
Para entender melhor essa relação, vale a comparação entre os desempenhos de Ibovespa (linha amarela) e CDS (linha branca). Conforme é possível verificar pela imagem retirada do Terminal Bloomberg, os picos de alta do índice foram em momentos que o “seguro-calote” estava na mínima (menor percepção de risco). E o contrário é verdadeiro – bolsa nas mínimas e CDS nas máximas.