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SÃO PAULO – Responsável pela análise de renda variável da Verde Asset, uma das mais vitoriosas gestoras da história da indústria brasileira de fundos e chefiada por Luis Stuhlberger, Pedro Sales é um típico adepto do “value investing”, que na tradução livre pode ser chamado de “investimento de valor”, mas na prática significa estudar a fundo as empresas e o mundo que as circunda (setor, concorrentes, fornecedores etc) para decidir se vale a pena tornar-se sócio desta companhia para um prazo bem longo de investimento.
Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, Sales revelou quais são as 5 ações mais importantes em termos de participação na carteira do fundo e os motivos para elas ocuparem esse posto. O gestor ainda comentou sobre Equatorial Energia (EQTL3), ação que ele possui desde 2010 e considera o “melhor investimento da sua vida”, mas que recentemente decepcionou o mercado após trazer números bem piores do que o esperado no balanço do 1º trimestre. A entrevista foi bem didática para perceber como os fatores que mantêm Sales otimista com Equatorial são parecidos com os utilizados para defender os investimentos nas outras 4 empresas citadas por ele. Por fim, o gestor ainda comentou sobre o que hoje na Verde Asset é tida como a maior preocupação de 2017 quando se fala em Brasil: a Reforma da Previdência.
Sales será um dos 7 palestrantes da 10ª edição do congresso “Value Investing Brasil”, evento que acontecerá no dia 23 de maio (terça-feira que vem) das 8h30 às 19h no bairro Vila Olímpia, zona sul de São Paulo. Além de Pedro Sales, o congresso também contará com Luiz Fernando Figueiredo (Mauá Investimentos), Fabio Alperowitch (Fama Investimentos), Flavio Sznajder (Bogari Capital), entre outros. As inscrições custam a partir de R$ 950 e podem ser feitas no site do evento.
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Confira os principais trechos da entrevista com Pedro Sales, realizada na última sexta-feira (12) por telefone:
Pedro Sales, gestor de renda variável da Verde Asset
As 5 ações favoritas da Verde Asset
Hoje as 5 ações com maior participação na carteira do nosso fundo são: B3 (antiga BM&FBovespa, BVMF3), Itaú Unibanco + Bradesco (ITUB4 e BBDC4), Multiplan (MULT3) e Equatorial (EQTL3). Juntas, essas 5 representam cerca de 40% do nosso fundo. B3 – Sempre tivemos tanto BM&FBovespa quanto a Cetip, mas depois da fusão naturalmente concentramos tudo na B3. É uma empresa que vemos uma enorme avenida de crescimento nos próximos anos. A principal vantagem dela é sua exposição para ganhar em diversas frentes com o desenvolvimento do Brasil, seja por uma maior procura dos brasileiros por melhores investimentos, seja por empresas buscando realizar emissões de ações ou dívidas, seja pelo desenvolvimento de novos produtos financeiros, enfim, a própria evolução da economia e do País são benéficas para o crescimento da empresa. Outra vantagem, que eu admiro muito, é a barreira de entrada, e nisso a B3 tem uma vantagem importante. Se você parar pra pensar, ter duas bolsas ao invés de uma não é uma vantagem, mas sim uma “dor de cabeça” para o mercado em geral, pois isso abre possibilidade de arbitragem, necessidade de conceder liquidez para os dois mercados, entre outros empecilhos que as praças internacionais que possuem duas bolsas nos mostram – inclusive já há uma literatura bem extensa sobre esse assunto no exterior. Por isso trabalhamos com um ritmo de competição extremamente baixo, assumindo obviamente que a gestão da B3 mantenha um bom serviço a um bom preço. A baixa competitividade e a forte exposição ao desenvolvimento do Brasil creditam as ações da B3 como uma das mais importantes do nosso portfólio. Itaú/Bradesco – Individualmente, Itaú e Bradesco não estão entre as maiores posições do fundo, mas combinando as duas chegamos a esse nível de importância, e como os motivos para investir em um deles é quase os mesmos para investir no outro, considero as duas ações combinadas em uma só na hora de contar a participação. São duas empresas com históricos de resultados de longo prazo excepcionais. A melhora do Brasil é muito importante para o setor bancário, seja pela redução das PDDs (Provisões para Devedores Duvidosos) e inadimplências, seja pela expansão natural do crédito. Multiplan – Uma empresa excepcional com histórico inacreditável de resultados. É incrível como ela passou por essa crise sentindo muito pouco os efeitos, e isso fica evidente analisando a venda dos lojistas de seus shoppings. Isso mostra mais do que nunca a qualidade de portfólio da empresa. Equatorial – A empresa atua em distribuição de energia, o que é um monopólio em cada região do Brasil, pois você não abre concorrência para saber qual energia é melhor usar na tua casa, você usa aquela que já é entregue. Então pra se ter um bom resultado nesse segmento, não é necessário um diferencial competitivo, mas sim buscar fazer uma boa gestão. Boa gestão significa bom resultado no setor de distribuição. E a Equatorial tem um histórico incrível. Desde 2004, ela transformou a Cemar de uma empresa praticamente quebrada em uma das melhores empresas do Brasil. É uma história de sucesso que completa 13 anos agora. Temos ainda o caso da Celpa, que ainda não é uma super história de sucesso mas já teve uma melhora muito significativa. Claramente esse resultado é porque a gestão da empresa é excepcional e não é um resultado que eu avalio como pontual que vai mudar meu ponto de vista. O resultado da Equatorial te decepcionou? Nota: a Equatorial Energia divulgou seu balanço referente ao 1º trimestre de 2017 na última semana e no dia 10 de maio (pregão pós-divulgação) as ações EQTL3 despencaram até 4,5% por conta do resultado operacional pior que o esperado e o aumento de custos além do previsto. Para ver a análise completa, clique aqui. Reforma da Previdência Uma coisa é o cenário que a gente mais acredita que vá acontecer, que é de fato positivo para o Brasil: o que está acontecendo é o avanço da reforma da previdência e, embora diluída, é algo bom. Então o nosso cenário base é bastante positivo para nós na bolsa. Mas o que é importante ter em mente é que existe um risco importante caso esse cenário não aconteça. Em gestão de risco você precisa sempre ter em mente sobre quais cenários podem acontecer, e não apenas olhar qual o cenário mais provável. Cabe a nós pensar em qual a probabilidade de isso acontecer e quais os impactos nas ações na bolsa.
O importante é entender as razões de por que os resultados foram ruins. Se eles de alguma forma mostraram que o futuro da empresa pode sofrer mudanças estruturais, isso altera minha visão. Mas se foi um resultado que afeta apenas o horizonte de curto prazo, isso não vai mudar minha perspectiva de longo prazo. E é exatamente o caso da Equatorial: o resultado não mudou minha percepção de longo prazo da empresa, minha visão não foi alterada mesmo com os números abaixo do esperado pelos analistas do “sell side”.O importante em todo resultado é isso: analisar se ele vai mudar o longo prazo da empresa. E nesse caso da Equatorial, não mudou.
Contexto: No dia 26 de abril, o InfoMoney publicou uma entrevista exclusiva com Luiz Parreiras, gestor responsável pela análise de macroeconomia da Verde Asset. Durante a conversa, ele falou sobre a “apatia” demonstrada pelo mercado com a diluição gradual do texto original da Reforma da Previdência e que esse comportamento estava ficando perigoso. De lá pra cá, a situação parece ter melhorado a favor de quem torce pela aprovação da reforma. Link da entrevista com Parreiras.