Excesso X falta de governo: na comparação com 1929, saldo desta crise passa longe

FTA menciona preocupações atuais e debate a possibilidade de recaída da economia quando os estímulos forem retirados

Publicidade

SÃO PAULO – No instante de seu surgimento, a crise de 2008 levantou suspeitas de que se tratava de uma reedição da Grande Depressão. Até o momento, os indicadores confirmam que esta última turbulência não chega nem perto do choque econômico experimentado na década de 1930. O discurso foi flexibilizado, de “sem precedentes” para “a maior desde a crise de 1929”.

Particularidades à parte, os problemas do mercado de trabalho norte-americano ainda passam longe dos 25% de taxa de desemprego experimentados naquela época. A divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos, que revelou crescimento de 5,7% no quarto trimestre do ano passado, por exemplo, sofreu queda durante quatro anos seguidos na Grande Depressão. 

Para muitos, a principal diferença entre os dois períodos diz respeito à presença do Federal Reserve. No entanto, este diferencial que parecia garantir uma redução dos impactos começa a gerar desconforto. Em relatório desta segunda-feira (1), a consultoria First Trust Advisors mencionou que a atual preocupação aponta que, quando os estímulos governamentais se forem, a economia deve sofrer uma recaída.

Continua depois da publicidade

Excesso de governo
“Muitos temem os excessos da atividade governamental. Estão preocupados que o governo se tornou muito grande e muito sobrecarregado”, revela a FTA. O comportamento mais conservador dos agentes diante desta perspectiva, na visão da consultoria, pode prender o desenvolvimento da atividade.

“É a incerteza de toda essa atividade do governo que está segurando as decisões de investimento, minando o mercado de trabalho e ameaçando a economia de causar novos declínios na atividade”.

No meio termo, o excesso de intervenções alimenta questionamentos, enquanto a falta delas é apontada entre os diferenciais da Grande Depressão. Mesmo sem a presença do Fed, no entanto, a FTA coloca as atuações governamentais entre os principais potencializadores da crise da década de 1930.

Continua depois da publicidade

Erros do passado
Entre os erros creditados às autoridades daquela época, destaque para a atuação do secretário de Tesouro dos Estados Unidos Andrew Mellow, para emissão desenfreada de moeda e seu liquidacionismo: “deixe liquidar o trabalho, liquidar as ações, liquidar os fazendeiros, liquidar o mercado imobiliário…isto irá eliminar a podridão do sistema”, em sua célebre frase.

“Isto coloca a situação de hoje em outra perspectiva. Enquanto as taxas de juro estão programadas para subir em 2011, ainda não há certeza disso e os movimentos do juro básico, por si só, não são nada se comparados à gestão Hoover-Roosevelt”, ressalta a FTA.

Nem perto
Sobre os próximos passos da política econômica, a perda de popularidade recente do presidente Obama vai alimentando a resistência em suas propostas. Para a First Trust, a maioria Democrata está se encolhendo e deve se encolher ainda mais nos próximos meses. Na balança, as proporções da atuação governamental nesta crise ainda trazem preocupações para o mercado, de que a retirada dos estímulos pode proporcionar um “double dip” na trajetória da recuperação.

Continua depois da publicidade

No entanto, “as chances de se repetir algo como aconteceu na Grande Depressão são baixas e vão diminuindo a cada dia. Não é 1930, nem perto daquilo”, conclui a consultoria.