A bizarra queda de quase 30% da Qualicorp é uma oportunidade de compra?

Por enquanto, ainda não; mercado digere os efeitos do anúncio controverso da Qualicorp e ainda segue reticente com as ações da companhia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Com o início do mês de outubro, o mercado está com seus olhos praticamente voltados para as eleições. Mas o movimento extremo, com uma queda de quase 30%, fez com que os investidores ficassem especialmente intrigados com as ações da Qualicorp (QUAL3) na sessão desta segunda-feira (1). Mais precisamente, os papéis fecharam em queda de 29,37%, a R$ 11,64, com um volume de R$ 469,3 milhões, 12 vezes os R$ 39,2 milhões médios negociados nos últimos 21 pregões. Com isso, o valor de mercado na empresa caiu mais de R$ 1,3 bilhão nesta sessão, indo para R$ 3,3 bilhões. 

Este movimento ocorreu após a maior administradora de planos de saúde coletivos anunciar, durante a manhã, que assinou contrato com o fundador da companhia, José Seripieri Filho, para não alienação de ações e não competição de negócios. Em tese esse acordo se justificaria uma vez que haveria risco de que Seripieri Filho, mais conhecido como Júnior, vendesse tudo e abrisse outra empresa no setor. 

Mas não foi somente isso que desagradou o mercado e faz os investidores fugirem dos papéis. As condições para o acordo foram bastante criticadas: para não vender 13,7 milhões de papéis na companhia (correspondente a 32% da sua fatia total na empresa) e não criar uma rival por um período de seis anos, o fundador da Qualicorp receberá R$ 150 milhões da empresa, à vista. 

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A decisão foi feita de forma unânime pelo Conselho de Administração, que justificou o movimento da seguinte forma em comunicado: “o mercado de atuação da companhia está em momento de forte transformação e o Conselho de Administração entendeu essencial contratar alinhamento estratégico e de longo prazo com o Acionista, fundador e principal liderança da companhia”.  

Porém, para o mercado, essa justificativa não “colou”. Para um gestor com participação relevante nos papéis da companhia, essa remuneração é “bizarra”, uma vez que não havia nenhuma notícia, além de rumores bem dispersos e não-concretos, de que Seripieri poderia vender os papéis para outra empresa. Assim, apesar de Seripieri ser um quadro importante para a empresa, sendo esta uma justificativa possível que poderia levar a tamanha remuneração, esse gestor aponta: “não havia nada tão forte no radar, ninguém estava com essa preocupação”. 

Soma-se a isso o fato do valor se extremamente alto: contando a atual participação total que ele detém na companhia, de 15%, a fatia que Seripieri Filho possui na empresa corresponde (pelo valor atual dos papéis no mercado) a cerca de R$ 550 milhões. Dessa forma, aponta o gestor, esse pagamento a Junior corresponderia a praticamente um aumento de remuneração aprovado pelo Conselho de Administração, mas sem que passasse por Assembleia Geral de Acionistas, o que deveria ter sido feito. O fato da aprovação ter sido unânime por todos os integrantes do Conselho também foi visto com grande estranheza pelo mercado. 

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Oportunidade de compra?

Com esse verdadeiro baque em termos de governança corporativa, o gestor ouvido pelo InfoMoney afirmou que estuda com advogados como entrar na Justiça para rever esse pagamento.

Caso haja uma reversão da decisão da companhia, somente aí seria um cenário de oportunidade de entrada para as ações da empresa, uma vez que os papéis estão negociados a 6 vezes o lucro, sendo que é negociado historicamente a 15 vezes. Em termos de fundamento, aponta, as ações estão muito baratas, mas o cenário não é convidativo dadas as grandes incertezas de governança corporativa.

Vale destacar que a ação, que até sexta-feira figurava como a terceira maior baixa do Ibovespa no ano, com baixa de quase 45%, depois do pregão desta segunda-feira agora é de longe a maior baixa do benchmark da bolsa no período, com queda de cerca de 60%.

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Por enquanto, não haverá movimentações com relação a aumentar ou diminuir a exposição dos papéis na gestora. Um movimento parecido foi registrado pelo Itaú BBA, que seguiu (por enquanto) com recomendação outperform (desempenho acima da média de mercado) para os ativos QUAL3, com preço-alvo de R$ 25,00, cerca de 115% acima dos R$ 11,64 de fechamento desta segunda. 

Os analistas do Itaú BBA ainda apontaram uma outra visão sobre o anúncio: “nós vemos este evento como evidência de governança corporativa baixa. Observamos o importante papel que Seripieri Filho desempenhou na empresa, como um empresário extremamente bem sucedido e um executivo de grande valor para a empresa. Dito isso, pagar uma indenização para mantê-lo na empresa e impedi-lo de criar um concorrente provavelmente será um ponto de preocupação para o mercado, já que é um sinal de estar aquém dos padrões de governança corporativa”. 

Mais cedo, o Bradesco BBI havia apontado dois lados da decisão: como ela foi tomada pelo Conselho de Administração sem uma participação mais ampla dos acionistas minoritários, o acordo poderia ser visto como negativo por eles e pelo mercado. Por outro lado, uma leitura oposta seria que um eventual comprador das ações adquiriria uma participação significativa na empresa com a garantia de que a Seripieri não se tornaria concorrente. “Destacamos, no entanto, que não temos informações de que alguém tenha essa intenção”, afirmaram os analistas.

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Em nota enviada ao InfoMoney, a Qualicorp afirmou que a decisão, “visando um alinhamento estratégico de médio prazo, foi tomada por unanimidade por seu Conselho de Administração, sem a participação do sr. Seripieri e respeitados todos os ritos legais. Além disso, é importante esclarecer também que sr. Seripieri Filho não é controlador da companhia”.

De qualquer forma, por enquanto, tanto quem tem papel na companhia quanto quem pretende entrar nas ações deve ter cautela. Afinal, há muitas incertezas no caminho – e a empresa não foi capaz de tirar as principais dúvidas do mercado. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.