Por que os Estados Unidos estão com medo do crescimento do socialismo

Trump fez um discurso de alerta e disse que os EUA nunca serão socialistas, mas alguns democratas prometem elevar o tom desse debate nas eleições de 2020

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após o fim da União Soviética nos anos 90, o socialismo entrou em colapso. Muitos anos depois, porém, os Estados Unidos começam a enfrentar o ressurgimento do que já foi um dos maiores temores dos governantes do país.

No Brasil a discussão cresceu nos últimos meses por conta das eleições, mas é nos EUA que o assunto tem ganhando destaque. Publicações como The Economist e Financial Times veicularam textos falando sobre a “ameaça socialista”.

“O socialismo está retornando porque formou uma crítica incisiva sobre o que deu errado nas sociedades ocidentais”, afirma a Economist. “No entanto, embora o socialismo tenha acertado algumas coisas, seu pessimismo em relação ao mundo moderno vai longe demais. Suas políticas sofrem de ingenuidade sobre orçamentos, burocracias e empresas”, pondera.

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Durante seu discurso sobre o Estado da União no começo de fevereiro, Trump afirmou que os EUA estão “alarmados com novos chamados para adotar o socialismo em nosso país”. “Esta noite, decidimos que a América nunca será um país socialista”, disse o presidente em frente a um Congresso com cada vez mais democratas adeptos à ideia de implantar esta ideologia no país.

Como destaca o Financial Times, metade do Partido Democrata agora promete tornar o país socialista pela primeira vez na história. E a eleição de 2020 deve ser o evento decisivo sobre este debate ideológico, que deve se estender por estes dois anos de campanha eleitoral. “Uma derrota para Trump em 2020 seria a morte precoce para o amanhecer socialista dos EUA”, afirma a publicação.

E dados recentes mostram que o crescimento deste movimento está vindo dos mais jovens. Cerca de 51% dos americanos entre 18 e 29 anos têm uma visão positiva do socialismo, aponta a empresa de pesquisas de opinião Gallup. Como destaca a Economist, nas primárias de 2016 nos EUA, mais jovens votaram no senador socialista Bernie Sanders do que em Hillary Clinton e Donald Trump juntos.

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“New Deal Verde”
A congressista americana Alexandria Ocasio-Cortez se tornou o símbolo deste novo movimento e seu projeto, chamado de “New Deal Verde”, se tornou centro do grande debate das ideias. Segundo o Financial Times, mais do que um projeto “absurdamente extravagante”, ele pode ser interpretado como “uma declaração arrojada de intenções”.

A publicação explica que esta é a mesma ideia aplicada a Trump, em que seus eleitores o levavam a sério, mas não interpretavam suas propostas literalmente. “O objetivo do projeto [New Deal Verde] é sacudir o debate nos EUA. Nesse sentido, já foi bem-sucedido”, diz o texto.

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O primeiro embate dessa nova disputa ideológica já até aconteceu, centrada na disputa da construção de uma segunda sede da Amazon em Nova York.

De um lado, o governo e a empresa defendiam a criação de 25 mil empregos e crescimento da região. Do outro, moradores e políticos da esquerda como Ocasio-Cortez diziam que a chegada da empresa de Jeff Bezos poderia elevar aluguéis e o custo de vida para níveis insustentáveis para quem é de baixa renda. O resultado foi a desistência da Amazon.

E este é apenas o começo. Enquanto os democratas acreditam que precisam ser mais incisivos e se posicionar com mais veemência, os republicanos já começam a se articular para se favorecer deste movimento esquerdista.

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Segundo o The New York Times, “se evocar o fantasma do socialismo, Trump pode conseguir uma arma potencialmente eficaz para se confrontar com um Partido Democrata cada vez mais inclinado à esquerda”.

O lado dos socialistas já ganhou um forte “combatente” para 2020. Nesta semana, o senador Bernie Sanders anunciou sua pré-candidatura para as eleições presidenciais. Apesar de não ser filiado ao partido democrata (ele é considerado independente), Sanders ganhou destaque na disputa de 2016 quando perdeu a vaga para Hillary Clinton. Mas desta vez, é exatamente esta ala jovem dos democratas que pode dar uma força maior para o senador.

Trump atiçou todo este medo do socialismo, e a imprensa do país comprou a preocupação. Mas este é o início de uma batalha que irá durar pelo menos até novembro de 2020. Diferente de como aconteceu no Brasil ano passado, em que a direta se ergueu para acabar com os últimos anos de governos petistas, nos EUA é a esquerda que está tentando se fortalecer para mudar o rumo do país.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.