O misterioso milionário do caso de insider trading em Londres

Quando Alshair Fiyaz entrou no jardim do Four Seasons Hotel em Londres, em uma agradável noite de junho há cinco anos, não tinha ideia de que estava sendo seguido

Bloomberg

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(Bloomberg) — Quando Alshair Fiyaz, um rico empresário com cabelo desgrenhado, entrou no jardim do Four Seasons Hotel em Londres, em uma agradável noite de junho há cinco anos, não tinha ideia de que estava sendo seguido.

Fiyaz tinha um encontro com Walid Choucair, um operador vestindo moletom de capuz que colecionava objetos do “Star Wars” e guitarras caras. Nenhum dos dois percebeu que um agente da Agência Nacional contra o Crime, ou NCA, havia colocado um gravador no jardim.

O investigador estava seguindo as pistas de Fiyaz em conexão com uma investigação sobre insider trading, ou informação privilegiada, sendo conduzida pela NCA, o equivalente ao FBI no Reino Unido.

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Choucair não era suspeito, e o policial não sabia quem ele era antes de instalar o dispositivo. Mas, depois do encontro, o agente seguiu Choucair até um apartamento perto do Royal Albert Hall.

Aquele fatídico encontro no Four Seasons, recontado no tribunal, transformaria Choucair — cuja vida era uma busca cheia de adrenalina por informações sobre grandes negócios — no réu mais popular da Europa.

E seus dois julgamentos – o primeiro terminou no ano passado com júri suspenso; o segundo com uma condenação na semana passada – abriram uma janela para uma rede ampla de traders de Londres a Dubai, bem como para uma investigação multinacional sobre operações com informações privilegiadas.

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O nome de Fiyaz e os detalhes da reunião do Four Seasons surgiram com frequência nos julgamentos. Choucair disse que frequentemente discutia negócios com Fiyaz, que se deu tão bem ao ponto de comprar um iate de 86 metros e um clube de polo.

Os dois haviam festejado no Tramp, um clube londrino frequentado por estrelas do rock e membros da nobreza, onde gastavam milhares de dólares em garrafas Cristal de três litros. Instituições financeiras alertaram reguladores do Reino Unido sobre as operações de Fiyaz 71 vezes em 2013 e 2014, disse o advogado de Choucair ao tribunal, citando informações do regulador.

No entanto, Fiyaz não estava no banco dos réus. Nunca foi acusado de crime e nega qualquer irregularidade.

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Mas evidências, testemunhos e documentos legais dos julgamentos de Choucair, bem como entrevistas com operadores, amigos, advogados e pessoas próximas à investigação sugerem que Fiyaz pode ter feito parte de uma rede que cultivava relações com banqueiros, compartilhava dicas por meio de telefones pré-pagos para evitar rastreamento, fornecia informações para jornalistas e, muitas vezes, monitorava secretamente operações de outros operadores.

Usando seu próprio dinheiro ou fundos com alto patrimônio, lucraram dezenas de milhões de dólares apostando em ações pouco antes de uma notícia fazer disparar o preço dos papéis.

Em 2014, o núcleo da rede, com cerca de uma dúzia de traders, faturou mais de US$ 100 milhões, número calculado com a soma de valores de documentos enviados à comissão de valores mobiliários e conversas com operadores.

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Reguladores na França e no Reino Unido, onde negociações anormais ocorrem antes de mais de uma em cada cinco aquisições, identificaram o timing suspeito das transações de Fiyaz, Choucair e outro operadores.

Além de Choucair e Fabiana Abdel-Malek, então diretora de compliance do UBS, condenada no mesmo julgamento por fornecer informações de um banco de dados confidencial, sete homens, incluindo o trader de Genebra Alexis Kuperfis e o ex-banqueiro Stephane Fima, foram acusados de insider trading na França. Todos negam as acusações.

Outro operador preso na Sérvia em novembro, sob um mandado de prisão dos EUA que o acusava de ter cometido fraudes com valores mobiliários, foi extraditado em maio, confirmaram autoridades sérvias. Promotores dos EUA estão colaborando com agentes europeus em sua própria investigação, informou a Bloomberg News no mês passado.

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Uma porta-voz de Fiyaz disse em e-mail que ele “nunca foi questionado, acusado ou condenado por insider trading ou má conduta financeira no Reino Unido ou em qualquer jurisdição”.

Ela disse que os relatórios de atividades suspeitas eram relacionados a apenas 27 operações e foram acionados porque as instituições financeiras são obrigadas a destacar operações quando um operador ganha mais de 10 mil libras (US$ 13 mil) por dia, e que Fiyaz não foi objeto de nenhuma atividade que violasse as normas regulatórias.

Loic Henriot, advogado de Kuperfis, disse que seu cliente nunca fez parte de uma rede de traders que trocavam informações. David-Olivier Kaminski, advogado de Fima, disse que seu cliente não tem nada a ver com as investigações que levaram à condenação de Choucair.

Choucair, agora com 40 anos, testemunhou em seu julgamento sobre sua primeira conversa com Fiyaz, seis anos mais velho, em um caro restaurante chinês em Londres por volta de 2005.

Eles haviam se encontrado no clube Tramp, onde Choucair, filho de um executivo libanês do setor de construção, era sócio. Fiyaz e seu irmão Javed começaram a frequentar o clube naquele ano, segundo duas pessoas que vão ao local.

Eles chegavam em Rolls-Royces separados, desciam as escadas, passavam pelo letreiro vermelho Let´s Get Tramped e acampavam em um canto, cercados por várias mulheres. Choucair gastava milhares de dólares no clube duas ou três vezes por mês.

Sempre que pedia uma garrafa de champanhe de US$ 4 mil, a equipe tocava o tema de “Star Wars” e anunciava que o “Líbano está na casa”, de acordo com pessoas que estiveram no clube com ele.

Choucair teve uma educação privilegiada em Londres. O operador estudou na Mill Hill, uma escola fundada há 212 anos com uma área verde de 60 hectares. Mas foi algo mais avant-garde que acelerou seu coração quando jovem.

Quando viu o solo do guitarrista Slash, do Guns N’Roses na TV um dia, decidiu que também queria ser um herói da guitarra. Quando tinha 18 anos, seu pai morreu e ele herdou a fortuna.

Passou os anos seguintes se embebedando e, em seus momentos sóbrios, obteve um diploma de administração no King’s College London, disse em seu julgamento. Comprou um Aston Martin, começou a colecionar guitarras e encheu seu apartamento com figuras em tamanho natural de sua outra obsessão de infância, “Star Wars”.

Fiyaz foi criado com o irmão na Bélgica, para onde o pai, um empresário paquistanês, havia se mudado. Iniciaram a carreira em uma empresa da família e ganharam dinheiro com remessas e diversos investimentos, como blocos de petróleo da Nigéria, lojas de departamentos dinamarquesas e uma chocolatier, de acordo com pessoas que os conheceram e informações de seus sites.

Mas também chamaram a atenção da polícia belga, que suspeitava que os irmãos tinham um esquema para evitar o pagamento de impostos de valor agregado, disseram duas pessoas a par do assunto.

A investigação foi encerrada depois que Fiyaz e o irmão fizeram um acordo na casa dos sete dígitos, segundo uma das pessoas. Nenhum dos dois foi acusado e não houve admissão de irregularidades. A porta-voz de Fiyaz disse que a disputa questionava se as vendas da empresa eram isentas de impostos.

Fiyaz não estava no tribunal durante o julgamento de oito semanas de Choucair ou para o veredicto. Operadores e advogados não sabiam onde ele estava. Um disse na Argentina. Outro disse que ele tinha sido visto em um chalé de esqui nos Alpes.

Em maio, o nome de Fiyaz apareceu entre os nomes da equipe de polo que disputava o Sun Trophy em seu clube na França, que uma vez exibiu modelos com pouca roupa e Bentleys brancos para os convidados. (A porta-voz de Fiyaz disse que ele não estava envolvido nas operações do dia a dia do clube e que ele não tolera a objetificação das mulheres.)

–Com a colaboração de Gordana Filipovic e Alan Katz.

©2019 Bloomberg L.P.

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