Brasil Ecodiesel não deve sofrer impacto da investida da Petrobras em biodiesel

Para analistas, objetivo da Petrobras não é produção para venda, mas sim a regulação do oferecimento do produto

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SÃO PAULO – A investida da Petrobras (PETR3PETR4) no setor de biocombustíveis não parece ser uma ameaça muito forte à Brasil Ecodiesel (ECOD3) e nem a seus papéis, na visão de analistas do setor de petróleo e gás. A recente notícia de que a petrolífera concluiu as obras da Usina de Biodiesel de Candeias (Bahia) prevista para agosto trouxe à tona os R$ 5 bilhões previstos em investimentos para a produção de biodiesel e etanol até 2013, de acordo com o Planejamento Estratégico da Petrobras.

“Esses investimentos da Petrobras em biocombustíveis não serão um fator negativo para a Brasil Ecodiesel, pelo menos no curto prazo. Na minha visão a Petrobras ainda continua com o foco na viabilização das reservas do pré-sal e pós-sal. Ela é uma empresa de energia integrada, porém com foco em combustíveis fósseis, pelo menos é o que eu vejo nos próximos anos”, comenta o analista Vitor Figueiredo, da Planner Corretora.

Para Figueiredo, o setor de biocombustíveis é muito pulverizado para que uma empresa só seja afetada quando um outro player entra. Ele cita como exemplo o 17º Leilão de Biodiesel da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) realizado no início de março deste ano. “Neste leilão, a Granol ficou com 12,4% de participação, a ADM com 12%, as duas de capital fechado, enquando a Brasil Ecodiesel participou com 12,2% e a Petrobras com 11,6% do volume total leiloada. É um setor muito pulverizado. Se houver um perdedor aí não será a Brasil Ecodiesel, na minha maneira de ver”, explica.

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Mudanças
Além disso, Figueiredo lembra que a Brasil Ecodiesel começa a colher os frutos da reestruturação feita no ano passado, quando mudou desde sua diretoria, até suas estratégias de mercado.

“Ela vem fazendo todo um trabalho de reestruturação da companhia, estão saindo do segmento de mamona, vendendo as plantas ociosas, focando neste primeiro momento na produção via óleo de soja, a questão do endividamento foi totalmente reformulada. No quarto trimestre ela já apresentou lucro”, conta o analista.

Apesar de não ter uma cobertura formal do papel ainda, Figueiredo acredita que quem está comprado no papel não deve sair dele por causa da performance positiva do setor de biocombustíveis e da empresa em si.

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“Quando comparamos com o índice [Ibovespa], ela está performando um pouco melhor e muito melhor, no acumulado do ano, o que a Petrobras não está fazendo. Claramente isso [concorrência da Petrobras] não está afetando o papel”, acredita.

Desempenho
Período Abril Ano 2010  12 meses 
Brasil Ecodiesel   +2,59% +9,17% +100,03%
Ibovespa +1,12% +3,75% +56,26%
Fonte: BM&F Bovespa

A compra não é recomendada na visão de Figueiredo porque a companhia ainda tem questões pendentes a resolver com a justiça, principalmente a suspensão do selo social de suas usinas em operação de Itaqui (MA) e Iraquara (BA).

A decisão tomada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em março impede que a companhia participe dos leilões promovidos pela ANP que exigem tal selo. Esse tipo de leilão é responsável por 80% do volume de biocombustíveis leiloado trimestralmente.

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Na justiça
Porém, na última quinta-feira (8) à noite, a Brasil Ecodiesel informou o mercado sobre anulação de parte dos processos que correm na Justiça Federal do Estado do Rio de Janeiro contra a empresa. Em nota, a Brasil Ecodiesel esclarece que a Justiça do RJ suspendeu os efeitos da decisão que a impedia de participar do leilão de biodiesel até que uma decisão definitiva seja tomada pelo juiz.

A empresa havia sido desqualificada para realizar vendas de 24 m³ de biodiesel das quais obteve direito através do 17º leilão realizado pela ANP. O montante de vendas representa 35% do total a ser entregue pela empresa no segundo trimestre deste ano.

Apesar de a anulação não abranger o pedido de suspensão do Selo Combustível Social, determinada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário no começo de março, o mercado gostou da notícia e as ações da companhia fecharam o pregão de sexta-feira (9) com alta de 5,26%.

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Para o analista Erick Scott Hood, da SLW Corretora, se a decisão da Justiça Federal for mantida, a Brasil Ecodiesel pode ser um pouco prejudicada, já que terá que ficar um ano sem operar nos leilões sem o selo.

“Mas acho que ela vai buscar equilibrar a receita vendendo [o biocombustível] sem selo para amenizar o impacto, mas acaba prejudicando um pouquinho sim”, fala.

Concorrência
No caso da concorrência com a Petrobras, Scott acredita que a Brasil Ecodiesel não deve sentir o impacto da entrada da Petrobras como mais um player importante do setor, pelo menos não agora.

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Para o analista, se a Petrobras não optar pela aquisição dos grandes para crescer no setor, e quiser expandir suas operações de forma independente, ou até mesmo comprando empresas de menor porte, isso pode sim interferir, no longo prazo, nos papéis da Brasil Ecodiesel.

“Pode incomodar porque é um player grande entrando no setor, uma empresa que pode ganhar market share das outras grandes”, comenta destacando que o setor, por ser bastante pulverizado deve ter um processo de consolidação nos próximos anos.

“O setor que tem bom potencial de crescimento está engatinhando ainda, mas tem projetos para adotar o biodiesel em frota de caminhões, ônibus e até para uso do biodiesel puro”, conclui.

Apenas regulação
Porém, o analista Max Bueno, da Spinelli Corretora, acredita que dificilmente a Petrobras será uma ameaça à Brasil Ecodiesel. Ele destaca que a própria Petrobras não tem intenção declarada em competir no nercado de biodiesel, o principal produto da Ecodiesel.

“Se você tem uma ANP encarregada de garantir condições justas no leilão para todos os participantes, seria uma simetria de poder econômico ter o governo regulando e participando dos leilões”, fala.

Ele opina dizendo que a Petrobras está atuando na cadeia de biodiesel, mas não na produção de biodiesel. “A não ser que a produção voltada para a geração de estoques de segurança e garantir que a demanda hoje seja atendida”, explica.

Assim, a petrolífera funcionaria mais como uma reguladora do que como uma concorrente do setor. Ele conta que os investimentos que estão sendo feitos pela Petrobras serão usados com o objetivo de suprir as necessidades de abastecimento do mercado que, a partir deste ano, possui exigência de misturar 5% de biodiesel ao diesel mineral (P-5).

“A Petrobras está buscando adequar a companhia não só para abastecer o mercado, garantindo que haja oferta suficiente, bem como efetuar esse mistura, que é a Petrobras a responsável por fazê-la. Ela é encarregada de adquirir o biodiesel dos leilões e misturar no diesel mineral para que ele chegue aos postos. É a operadora disso”, diz o analista.

A Spinelli recomenda manutenção para o papel e tem preço-alvo de R$ 1,25 para dezembro deste ano. Com o valor potencial e levando em consideração o último fechamento (R$ 1,20), as ações tem um potencial de valorização de 4,16%.

De olho
Além das decisões da justiça federal carioca com relação ao selo social da Brasil Ecodiesel, analistas também destacam como fator positivo – e evento para se acompanhar de perto – a última prévia do Ibovespa divulgada no dia 1º de abril.

Nela, as ações da Brasil Ecodiesel passam a fazer parte pela primeira vez do principal índice do mercado brasileiro com 0,9% de participação. Vale lembrar que a confirmação só acontece na divulgação da carteira teórica do próximo quadrimestre, o que ocorrerá no primeiro pregão de maio. Mesmo assim, a notícia é vista como mais um ponto positivo para a empresa, já que a listagem no índice pode alavancar a visibilidade e a liquidez das ações.

“Com a confirmação de sua entrada no índice, acredito que isso vai chamar mais atenção para o papel, mais analistas vão começar a acompanhar as ações, ela vai ganhar visibilidade, mas vai precisar manter um bom nível de governança corporativa para informar bem o mercado e facilitar o acesso dos analistas. Tudo isso deve fortalecer o papel no longo prazo”, comenta Vitor Figueiredo, analista da Planner.

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