Colunista InfoMoney: primeiro semestre de 2010 – o que tivemos?

Enquanto cenário externo mostra-se frágil, por aqui, momento segue positivo e é de "ótima oportunidade de compra"

Decio Pecequilo

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Terminamos o primeiro semestre de 2010 com alguns denominadores comuns que persistem nas finanças internacionais deste o início do ano.

Nos Estados Unidos, a taxa de desemprego continua alta: segundo o departamento de trabalho do país, ela está em 9,7%, mostrando somente um recuo medíocre de 0,2%, o que nos dá no momento um número de desempregados da ordem de 14,6 milhões, em paralelo com o período de julho a setembro de 1983, quando o país enfrentava uma enorme crise.

Já na União Européia, na Zona do Euro e nos países ricos, persistem as incertezas derivadas dos enormes déficits fiscais, das dívidas públicas, bem como do baixo nível dos juros.

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Em seu último relatório anual, publicado em 28 de junho passado, o Banco de Compensações Financeiras (BIS) advertiu os governos quanto à redução de seus déficits fiscais, para evitar uma nova crise.

Ainda segundo esse relatório, em termos reais, descontada a inflação, as taxas de juros estão próximas a zero na Zona do Euro e negativas nos Estados Unidos e Reino Unido.

“Analistas afirmam que
estamos diante de uma
ótima oportunidade de
compra, mas que deve
ser feita em etapas”

No Japão, onde a dívida atinge 20% do PIB, a ligeira deflação voltou a colocar as taxas reais acima de zero.

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Robert Shiller e Paul Krugman, dois economistas de renome, juntam-se ao Banco Central Europeu (BCE) e ao acima citado BIS em seus temores. Em uma entrevista no último domingo, 4 de julho, ao jornal “ O Estado de São Paulo”, Robert Shiller, abordado sobre nosso país, confessa: “O Brasil é uma grande força econômica, vive um momento positivo muito forte. Aliás, já investi num fundo de ações brasileiras, com bom resultado”.

Números do primeiro semestre da BM&F Bovespa

Nesse período, nosso índice Bovespa mostrou uma perda de 11,16%, com o mercado de ações negociando um volume semestral médio de R$ 6,646 bilhões, sendo maio o melhor mês, com uma média diária de R$ 7,282 bilhões, e junho o pior mês, com uma média diária de R$ 5,836 bilhões, ainda que justificada pela disputa da Copa do Mundo de Futebol.

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A melhor aplicação financeira nesse período foi o ouro, típico ativo de crise e reserva de valor, com uma alta de 19,52%.

O dólar mostrou uma alta de 3,46% e o euro, uma baixa de 12,09%.

Quanto ao enorme desapontamento com nosso mercado acionário, sobretudo depois do fabuloso sucesso do ano passado, é bom lembrar que vários analistas afirmam que estamos diante de uma ótima oportunidade de compra, porém com ênfase na recomendação de que essas compras sejam feitas em etapas, buscando sempre uma diluição de possíveis perdas.

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Essa recomendação não é em vão. Ela tem vários pontos de apoio, tais como:

1. A agência Fitch de classificação de risco deu sinais de que pretende elevar a nota do Brasil, que desde 2008 é considerado grau de investimento pelas três grandes agências (Fitch, Standard & Poors e Moody’s), por considerar que o Brasil apresenta desempenho acima das nações avaliadas;

2. No que diz respeito à nossa criação de empregos formais, que é um enorme atoleiro nos Estados Unidos e na Europa, caminhamos muitíssimo bem, podendo chegar até o final do ano com um total de 2,5 milhões de novas colocações;

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3. Jim O’Neill, economista chefe do Goldman Sachs, criador do acrônimo BRICs, em artigo para o jornal “O Estado de São Paulo”, continua refazendo suas projeções para o crescimento de nosso PIB para este ano, elevando-as para 8% frente a um crescimento mundial de 5%, dando ênfase para o fato que “o Brasil exibe inúmeros sinais de uma vitalidade à qual sua população não está acostumada”;

4. Segundo o FMI, o Brasil é a oitava maior economia do mundo em termos nominais, pois fechou o ano passado com um PIB de US$ 1,9 trilhão, e o sétimo em reservas em moeda estrangeira, com pouco mais de um quarto de trilhão de dólares – e isso em um universo de 66 países. Esse montante é superior à grande maioria dos emergentes, lembrando também que as reservas servem para medir a força de um pais frente a possíveis crises externas;

5. Nossas empresas continuam investindo no exterior. Segundo o Banco Central (elaboração da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), os investimentos alcançaram, pouco antes do final desse primeiro semestre, US$ 11,16 bilhões, sendo 37,4%, nos Estados Unidos, 18,9% na França, 16,6% na Holanda, passando em menor escala para 5,5% em Portugal, 4,4% no Chile, 4,2% na Dinamarca, 3,0% na Argentina, 2,7% na Venezuela, 1,9% no Japão, 1,5% na Espanha, etc.

A somatória de todos esses fatos só faz crescer o status de nossas empresas no cenário internacional, confirmando mais do que nunca que o Brasil é um global trader. Porém, não esqueçamos nunca que a arrogância se traduz quase sempre em perda de prestigio.

Decio Pecequilo é operador sênior da corretora TOV e escreve mensalmente na InfoMoney.
decio.pecequilo@infomoney.com.br