CSNA3: oito quedas seguidas podem ser oportunidade de entrada, dizem analistas

Contudo, foco do investidor deve estar no longo prazo; setor de mineração segue mais atrativo aos olhos de bancos e corretoras

Anderson Figo

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SÃO PAULO – Depois de oito quedas consecutivas, somando baixa de 11,16% entre os pregões de 5 e 14 de abril, as ações ordinárias da CSN (CSNA3) podem apresentar uma oportunidade de entrada, segundo analistas. Para Max Bueno, da Spinelli, porém, o foco do investidor que comprar a ação CSNA3 deverá estar no longo prazo.

Na visão de Bueno, a forte queda recente da siderúrgica reflete uma antecipação da percepção do mercado acerca dos resultados do primeiro trimestre deste ano, além de – e principalmente – pesar também a falta de drivers para o curto prazo. “Essa falta de drivers é basicamente fruto da inexistência de espaço para altas adicionais de preço de produtos siderúrgicos no mercado interno e, por outro lado, das pressões de custo, que cresceram bastante ao longo do ano passado e atualmente estão em níveis recordes”, disse.

O analista explica que o espaço que as siderúrgicas tinham para repassar os custos maiores já foi utilizado em março, quando foram anunciadas reduções dos descontos oferecidos pela empresa em relação aos pares estrangeiros. “Parece que o espaço para aumentos adicionais não existe mais”, afirmou Bueno, frisando que no mercado externo está sendo vista uma correção nos preços do aço em virtude da reativação de altos fornos em países como China e Europa.

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“Hoje, se você considerar a paridade de preços entre o produto nacional e o produto importado mais o custo de internação desse produto importado, o produto nacional já está com um prêmio, e preços acima disso acabam possibilitando a entrada de produtos importados e aumento da concorrência. E não é isso que as siderúrgicas querem”, afirmou Bueno.

Para o analista Victor Penna, do BB Investimentos, além dos descontos estarem limitados, eles não foram suficientes para que as siderúrgicas conseguissem atingir os níveis dos preços registrados no começo do ano passado, apesar dos estoques já estarem se encaminhando para os níveis considerados normais. “Isso acaba influenciando nas margens das siderúrgicas e, consequentemente, na avaliação dos seus papéis”, disse.

Resultados pressionam
De acordo com Bueno, os resultados projetados para as siderúrgicas em 2011 estão abaixo  do que aqueles reportados em 2010, seguindo o consenso de mercado. Além disso, o analista avaliou que as companhias do setor siderúrgico estão sendo negociadas com múltiplos acima da média do Ibovespa, tanto preço/lucro por ação quanto EV/Ebitda.

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“Então, teoricamente, enquanto você vê Usiminas (USIM3, USIM5) negociando na casa de 15 vezes o lucro para 2011, a Gerdau (GGBR4) na casa de 13,5 vezes, a CSN na casa de 10,5 ou 11 vezes, o Ibovespa, por sua vez, está em 10,5 vezes”, afirmou Bueno. “O preço das siderúrgicas deveria recuar para um nível o qual tornasse mais uma vez os múltiplos atrativos suficientes para atrair novos investidores até que elas voltassem a performar. Na ausência de um aumento de preço no mercado interno ou de um certo alívio no front de custos, fica difícil você ter melhora na rentabilidade”, completou.

Para os resultados das siderúrgicas, o analista da Spinelli afirmou que o primeiro trimestre deste ano deverá ser tão fraco quanto o último trimestre de 2010, mas é esperada alguma melhora para o 2T11, que é quando vão começar a entrar os efeitos das reduções dos descontos. Contudo, Bueno avalia que para a segunda metade deste ano o cenário segue bastante indefinido.

CSNA3: ponto de entrada
Mesmo diante destes vetores, Bueno avalia que é um bom momento para que o investidor compre o papel da CSN, desde que ele esteja visando o longo prazo. “É uma oportunidade para o investidor entrar, desde que ele trabalhe com um horizonte mais longo de investimento, em função do upside (potencial de valorização) oferecido pelo papel”, destacou o analista da Spinelli. 

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Bueno lembrou, no entanto, que o investidor deverá saber que em um curto prazo a falta de drivers pode continuar pesando sobre o desempenho das ações CSNA3. “Mas aquele investidor que tiver paciência e conseguir olhar um pouco mais à frente, eu acho que esta estratégia vai recompensar”, disse. O preço-alvo da Spinelli para a CSN está em revisão. 

“Nossos preços-alvo dentro do setor de siderurgia são: para GGBR4 é R$ 30,70, para USIM5 é R$ 28 e para CSNA3 é de R$ 34. Todos para 31 de dezembro deste ano”, destacou, por sua vez, o analista do BB Investimentos, que possui recomendação de compra para Usiminas e CSN e de manutanção para a Gerdau.

Mineração à siderurgia?
Em meio ao cenário incerto para as siderúrgicas no curto prazo, especialmente por conta da pressão nos preços, as análises de Penna e Bueno se voltam para uma preferência ao setor de mineração em detrimento da siderurgia. “Há um cenário muito mais positivo para as mineradoras do que para as siderúrgicas”, disse Penna, ressaltando o nível bastante elevado do preço do minério de ferro que deve se manter assim pelo menos até o final de 2011.

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“A oferta do minério de ferro está um pouco restrita e se a gente for levar em consideração a oferta de aço, ela está com excesso. Isso acaba sendo muito positivo para as mineradoras. Os dados macroeconômicos da China estão vindo muito positivos, o país vai continuar crescendo. Então isso acaba refletindo em um consumo maior de minério para a produção de aço. Pelos projetos da China, está se investindo muito na urbanização, influenciando fortemente as mineradoras”, afirmou Penna.

Ainda de acordo com o analista do BB Investimentos, observando este cenário bastante positivo para as mineradores no front externo, a MMX (MMXM3) tem investido bastante para aumentar sua produção de minério, visando exportar praticamente tudo o que ela conseguir produzir deste tipo de matéria prima. “Porque ela sabe que é lá que está a demanda forte”, concluiu Penna.