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(Bloomberg) — Após convocação por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, as manifestações pró-governo programadas para este domingo dividem opiniões entre os seus aliados.
Enquanto um grupo espera que as ruas sejam tomadas por eleitores dispostos a confirmar a escolha nas eleições de outubro passado, que alçaram à Presidência o capitão reformado com mais de 57 milhões de votos, outro teme um levante de frustrados com os resultados apresentados até agora.
O PSL, partido de Bolsonaro, rachou por divergências sobre os atos, ao mesmo tempo em que o presidente viu aliados importantes, como o Movimento Brasil Livre (MBL), o Vem Pra Rua e o Partido Novo, decidirem por não aderir.
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“O MBL não participará das manifestações de domingo porque não compactuamos com o fechamento do Congresso, do Supremo e essa agenda antiliberal. Rejeitamos a demonização do Parlamento, a indisposição em conversar com parlamentares e a utilização de blogs e filhos para atacar aqueles que discordam”, disse o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos fundadores do MBL.
Apesar da resistência de alguns bolsonaristas, há um núcleo forte em defesa dos movimentos de rua, liderado, entre outros, por Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.
“Nada mais democrático do que uma manifestação ordeira que cobra dos representantes a mesma postura de seus representados”, disse o deputado, citando como pauta dos atos o pacote anticrime de Sérgio Moro, a reforma da Previdência e a MP dos ministérios, que foi aprovada na última quarta-feira pelos deputados.
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Bolsonaro também defende as manifestações, apesar de ter suavizado o tom nos últimos dias. Ele ensaiou participar dos eventos e deu munição para seus apoiadores levarem para a rua pauta de protestos contra Congresso e STF. Agora, avisou que não vai comparecer e pede bom senso.
“Quem fala em fechar o STF não está alinhado com a minha política”, disse o presidente, em conversa com jornalistas na última quinta-feira. “(Um pedido desses) Está mais para Maduro do que para Jair Bolsonaro”, completou.
A política brasileira vive historicamente sob protestos, que ganharam força a partir de 2013, quando a insatisfação com a economia e os casos de corrupção chegaram ao ápice, levando multidões às ruas.
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No entanto, não é comum ver um governo incentivar manifestações populares em busca de apoio. Houve um caso emblemático, em 1992, quando o então presidente Fernando Collor de Mello, enfraquecido por denúncias de corrupção e por uma gestão problemática, pediu aos brasileiros para saírem às ruas vestidos de verde e amarelo.
O que se viu foi um exército de pessoas usando preto. Já o ex-presidente Lula, que tinha sindicatos e um partido com milhares de filiados a seu favor, usava-os como contra-ataque a protestos.
As manifestações, convocadas em todas as grandes cidade do País, terão um efeito direto, que é medir quantos brasileiros têm disposição em defender os políticos para além dos tuítes, plataforma em que Bolsonaro vem se mostrando imbatível há pelo menos dois anos.
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“Para alguns dos aliados de Bolsonaro a campanha continua. A eleição dele foi uma quebra de paradigma, sim. Mas a confirmação do voto já foi dada. Está na hora de sair da campanha e ocupar a cadeira para a qual Bolsonaro foi eleito. O presidente ainda está agindo de forma espetacular, uma teatrocracia”, afirmou Deysi Cioccari, doutora em Ciências Políticas pela PUC-SP.
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