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SÃO PAULO – Após 14 anos, a Era Chávez chegou ao fim na última terça-feira (5), e a oposição volta a ter uma chance de assumir o poder na Venezuela. A tarefa não será fácil, mas a possibilidade de uma nova cara no governo venezuelano pode tirar algumas amarras que emperravam as relações comerciais com o país.
A Petrobras (PETR3; PETR4), por exemplo, sofre há anos com a falta de um posicionamento do governo da Venezuela sobre a participação da estatal PDVSA na refinaria Abreu e Lima, no litoral sul de pernambuco.
O último dos prazos estourados pela venezuelana para entrada no negócio foi em novembro de 2012. Inicialmente, o projeto estava previsto para ser concluído no final de 2010, mas agora deve ficar pronto apenas em novembro de 2014.
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Para entrar na sociedade, conforme vem sendo negociado desde 2005, a PDVSA precisa assumir 40% da dívida de R$ 10 bilhões (valor original), referente a empréstimo levantado pela Petrobras no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para tocar a primeira fase das obras. Precisa também repassar à estatal brasileira 40% de tudo que ela já investiu com recursos próprios e ainda estabelecer um cronograma de desembolso para a continuidade dos trabalhos.
“O acordo entre as empresas vem sendo arrastado há anos, mas aparentemente o governo brasileiro tem a intenção de buscar essa parceria, porém ainda é muito difícil estimar se o fim da era Chávez pode acelerar esse processo”, pondera a analista Cássia Inez, da Lopes Filho.
Entretanto, “é inegável que uma alteração no governo pode dar mais agilidade à mesa de negociações, uma vez que, sob o comando de Chávez, as coisas não estavam caminhando bem. Mas a visibilidade sobre esse ‘fator novo’ ainda é baixíssima”, disse o analista Roberto Altenhofen, da casa de research Empiricus.
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A refinaria Abreu e Lima é um dos grandes projetos da Petrobras, mas a questão merece atenção especial, principalmente pelo ônus do projeto parado e a crítica situação da estatal quanto a sua capacidade de refino.
Pelo acordo, além dos termos contratuais relacionados a Abreu e Lima, a Petrobras receberia direitos de exploração na região venezuelana de Orinoco – mas até agora não recebeu nada. A Petrobras deu prazo até o final de 2013 para a PDVSA ceder essas licenças, e, segundo Altenhofen, algum fator novo no governo da Venezuela poderia acelerar esse processo, mas ainda são apenas suposições – com baixas probabilidades.
Do jeito que a situação encontra-se atualmente o projeto ainda é um peso nos ombros da estatal, uma vez que além do ônus do projeto parado (a construção foi orçada em R$ 4,75 bilhões, mas devido a atrasos, o custo da obra pode alcançar cerca de R$ 41 bilhões, quase dez vezes a estimativa incial), a empresa é deficitária na área de abastecimento, e sem o aumento na capacidade de refino, não adiantaria elevar a capacidade de produção, comenta o analista.
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“A primeira fase da Abreu e Lima é para processar 230 mil barris. É praticamente o déficit atual da empresa. O problema é que até o efetivo start up da refinaria, esse déficit já terá aumentado”, disse Altenhofen.
Por isso a importância desse projeto para a Petrobras – desde maio a empresa é deficitária na área de abastecimento, e isso só deve mudar quando todas as novas refinarias da estatal ficarem prontas – a previsão é que a de Pernambuco inicie as operações entre novembro de 2014 e maio de 2015, e a do Comperj, com 165 mil barris/dia, em abril de 2015.