Política monetária dos EUA pode criar um “exército de zumbis”, diz Roubini

Economista destaca que efeitos secundários podem ser bem graves no longo prazo, ressaltando ainda apatia para resolver verdadeiros problemas da população

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A maioria dos observadores consideram políticas monetárias não-convencionais, como o programa de QE (Quantitative Easing) dos Estados Unidos, como necessárias para a promoção do desenvolvimento de economias anêmicas. Entretanto, as dúvidas sobre a eficácia destes programas se alastram cada vez mais, grupo este do qual o economista Nouriel Roubini, conhecido pelas previsões econômicas pessimistas e por ter previsto a crise econômica em 2008, faz parte.

Roubini aponta dez motivos para que os governos se afastem cada vez mais destes programas não-convencionais, destacando a falta de incentivo dos governos e da população para buscar soluções definitivas, criando um exército de “zumbis” – isso é, setores da economia que já estão mortos mas que continuam vivos mantidos por medidas artificiais -, além do aumento do risco de bolha. Além disso, ele destaca que, se por um outro lado os efeitos destas políticas não são muito claros no longo prazo, as consequências não intencionais são bem grandes por outro, levando a efeitos secundários bem graves mais a frente.

1º risco: enquanto uma resposta de austeridade pode levar a uma depressão política, as políticas de afrouxamento quantitativo por muito tempo podem adiar a desalavancagem necessária nos setores público e privados, criando um exército de zumbis, aponta Roubini. “Instituições financeiras zumbis, famílias zumbis, empresas zumbis e, no final, governos zumbis. “Então, entre algum lugar entre os extremos de austeridade versus flexibilização, os QEs precisam ser eliminados ao longo do tempo.

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2º risco: QE pode se tornar ineficaz ao longo do tempo, com os canais de transmissão para a atividade econômica real se tornando obstruídos. O canal de ligação não funciona quando os rendimentos de títulos já estão baixos. Além disso, o canal de crédito não funciona quando os bancos acumulam liquidez.

Aqueles que podem tomar empréstimos, como empresas bem avaliadas ou famílias ricas, não querem ou não precisam, enquanto as empresas altamente endividadas e o restante das famílias não conseguem pegar dinheiro emprestado. Por fim, se o crescimento não recupera, os efeitos do QE se tornam menores.

3º risco: o canal de transmissão do QE através do câmbio se torna mais fraco uma vez que outros países adotam políticas para correr atrás da desvalorização do dólar frente às outras moedas.

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Desta forma, quando isso acontece, o QE se torna um jogo de soma zero porque nem todas as moedas podem cair e nem todos os saldos comerciais podem melhorar simultaneamente. Desta forma, estes programas levam a um aprofundamento da chamada “guerra cambial”. 

4º risco: com os programas de flexibilização monetária, uma quantidade expressiva de capital vai para os mercados emergentes, que enfrentam um desafio político difícil, segundo Roubini, podendo levar a um ambiente de inflação mais alto e bolhas de crédito e de ativos.

De acordo com ele, a imposição de controle sobre os fluxos de capital é difícil e às vezes sem gerar os efeitos desejados. Os controles macroprudenciais sobre o crescimento do crédito são úteis, mas às vezes ineficazes em impedir bolha de ativos quando as taxas de juros estão baixas, levando à concessão de crédito de forma generosa.

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5º risco: a persistência do QE, segundo Roubini, pode levar a bolhas tanto no país onde é implementado quanto no exterior. As bolhas podem ocorrer no mercado de ações, de habitação, commodities, títulos e crédito. Segundo o economista, isso foi o que ocorreu entre 2000 e 2006, quando o governo dos EUA manteve as taxas em baixa, alimentando o crédito e, posteriormente, a formação de bolhas. 

6º risco: o programa de flexibilização monetária do Fed pode levar a um risco moral ao enfraquecer os incentivos do governo para perseguir as mudanças econômicas necessárias, além de diminuir os incentivos de maior disciplina do mercado. 

7º risco: apesar de criticar o QE, o economista ressalta que sair dele também é uma tarefa complicada. Se ocorrer muito lentamente, os efeitos expostos acima podem ocorrer. Por outro lado, se a saída ocorrer com a venda de ativos de longo prazo adquiridos durante o QE, um aumento acentuado nas taxas de juros poderia enfraquecer a recuperação econômica, resultando em grandes perdas financeiras para alguns setores da economia.

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Caso a saída ocorra através de um aumento na taxa de juros sobre o excesso de reservas, o prejuízo decorrente para o balanço dos bancos centrais pode ser significativo.

8º risco: um período prolongado de taxas de juros reais negativas implica em uma redistribuição de riquezas dos credores e poupadores em direção aos mutuários e devedores, aponta Roubini, o que é prejudicial para a economia.

9º risco: o QE e outras políticas monetárias não convencionais podem se traduzir em consequências inesperadas bastante sérias, aponta Roubini, com a erupção da inflação e o retardamento do mercado de crédito ao invés de acelerar. Isto pode acontecer se os bancos, que vêm enfrentando margens bastante baixas, decidir que o risco relativo para emprestar é insuficiente.

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10º risco: por último, aponta o economista, está o risco de perder o caminho para adoção de políticas convencionais. Sendo assim, alguns países estão cavando seu regime de metas de inflação e movendo para território desconhecido. Nos EUA, as políticas para sair da crise passaram do QE1 para QE2 e agora para o QE3, que é potencialmente ilimitado e ligado a fatores como desemprego. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.