Publicidade
SÃO PAULO – Em maio, o Federal Reserve deu o primeiro sinal de que poderia começar a retirar os estímulos à economia norte-americana em 2013. Passados 4 meses, muitos especialistas acreditam que na próxima quarta-feira (18), quando ocorre a reunião do Fomc (Federal Open Market Committee), será o dia em que a autoridade monetária finalmente irá anunciar a redução do Quantitative Easing 3.
Nos dois últimos encontros do Comitê, a sinalização foi que até o final do ano os estímulos seriam realmente retirados, mas nenhum detalhe maior de como ocorrerá esse corte foi informado. Na reunião do dia 21 de agosto, o Fed apresentou pela primeira vez uma nova ferramenta que ajudaria na retirada dos estímulos e evitaria transtornos em outros pontos da economia, como os juros.
Para o economista Alex Agostini, da Austin Rating, ainda não será desta vez que a redução será anunciada, mas este encontro de quarta-feira trará reais mudanças no discurso da autoridade monetária. “O Fed sempre deu o máximo de detalhes sobre seus mecanismos antes de agir. Com isso, acredito que após meses de anúncios gerais, desta vez conheceremos os detalhes de como ocorrerá este corte do QE3”, explica Agostini.
Continua depois da publicidade
Diferente do economista, a equipe do Barclays acredita que desta vez será anunciado a primeira mudança no programa de estímulos, sendo que o Fed deve passar a injetar apenas US$ 70 bilhões por mês, ante os atuais US$ 85 bilhões mensais.
Reações do mercado
“Volatilidade é a palavra de ordem”, é como Agostini define os próximos dias do mercado. Para ele, a expectativa com a proximidade do fim do QE3 gera grande instabilidade entre os investidores, que a todo momento tentam antecipar o movimento do governo norte-americano. Porém, para o economista, seja com uma redução, seja com apenas detalhes dos próximos passos, a tendência é de uma reação negativa do mercado no curto prazo.
“Em um primeiro momento, o mercado geralmente reage negativamente, mas não necessariamente isso significa que o anúncio não é positivo, mas o que gera esse movimento é a cautela dos investidores”, explica Agostini. “Em um segundo momento, o mercado começa a se organizar e a ajustar seus investimentos para o novo cenário, ajudando na recuperação do mercado”, conclui ele.
Continua depois da publicidade
O economista explica que a forma como o Fed tem trabalhado, anunciando passo-a-passo o que irá fazer para reduzir os estímulos, é a melhor forma para não prejudicar ninguém. Anúncios como esse precisam ser feitos de forma gradativa para não assustar o investidor. Para ele, é preciso sempre preparar o mercado para este tipo de cenário.
E se nada mudar?
A expectativa de praticamente todos os especialistas é de que o cenário mude na quarta-feira, seja com um anúncio definitivo da redução dos estímulos, seja por maiores detalhes dos próximos passos, mas o que aconteceria se o presidente do Fed, Ben Bernanke, simplesmente repetisse o mesmo discurso feito até agora e não mostrasse nenhum avanço rumo ao fim do QE3?
“Manter o discurso seria um grande erro. Isso levaria o mercado a acreditar que o Federal Reserve não quer seguir com o plano atual. Isso poderia fazer os investidores pensarem que podem ocorrer mudanças não esperadas no programa”, responde Agostini.
Continua depois da publicidade
Para ele, manter o discurso não faz parte do que a autoridade monetária mostrou até agora. “O Fed tem se mostrado disposto a explicar todos os detalhes dos seus planos antes de realiar o primeiro movimento, ficar quieto agora não faz sentido”, explica.
O economista conta que o fato de o Fed realizar discursos e dar detalhes de forma gradativa já é uma forma de intervenção: “Quando um líder faz uma declaração, o mercado já começa a antecipar seus movimentos, isso ocorre muito em países emergentes. É uma forma de o governo já testar a reação dos investidores e depois realizar sua intervenção de forma mais moderada ou agressiva, dependendo de como o mercado reagiu aos anúncios”.
A explicação é comprovada pelo atual movimento dos mercados em todos mundo, mas principalmente o de títulos dos EUA. Desde maio, quando foram dadas as primeiras declarações, o rendimento desses títulos disparou devido à entrada de investidores fugindo de maiores riscos.