Roubini destaca “incertezas conhecidas” que definirão economia global

Eleições na Europa, estímulo monetário e dívida nos EUA, além de possível confronto na Síria mexerão com os mercados no outono que se inicia no hemisfério norte ainda neste mês

Carolina Gasparini

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SÃO PAULO – O outono trará não só queda nas folhas de árvores no hemisfério norte, mas também importantes decisões que podem colocar em cheque a recuperação econômica que o mundo parece começar a apresentar, segundo o economista norte-americano Nouriel Roubini.

Em um artigo do Project Syndicate, o “doutor catástrofe”, como Roubini é conhecido por suas previsões pessimistas sobre a economia, usou das palavras de Donald Rumsfeld, secretário de Defesa dos EUA no período da 2ª Guerra do Iraque, para descrever como será o outono no hemisfério norte: o outono terá “incertezas conhecidas”. 

Nos EUA, três eventos chamaram a atenção dos investidores: o início da retirada do Quantitative Easing 3 – programa de estímulo monetário norte-americano que envolve a compra de até US$ 85 bilhões em títulos – pelo Federal Reserve, que, acredita-se, começará ainda em setembro. Especialistas dividem-se ao analisar a possível precocidade da retirada, que se feita antes do ideal, pode colocar em cheque a recuperação econômica do país. Ainda sobre o Federal Reserve, o fim do mandato de Ben Bernanke e a indefinição sobre quem o sucederá na presidência do Banco Central norte-americano também ficará em foco – o mercado trabalha com dois candidatos em potencial, Janet Yellen e Lawrence Summers.

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Além disso, também entrará em pauta até o final do ano as discussões sobre o teto da dívida norte-americana. Segundo o Tesouro do país, a dívida governamental atingirá seu limite em meados de outubro, e um empasse entre o Congresso de maioria republicana e o presidente dos EUA, Barack Obama, pode trazer graves consequências.

Síria permancerá em foco
Apesar de as tensões com a questão Síria arrefecido nos últimos dias, com o presidente Barack Obama pedindo autorização do Congresso para atacar a Síria, o possível confronto no Oriente Médio pode agitar negativamente os mercados, como visto na semana passada, quando diversos mercados entraram em “pânico” com um possível ataque. Os EUA garantem, junto com a França, que atacarão a Síria em resposta a um suposto ataque químico realizado contra rebeldes em Damasco.

Os dois países garantem que o evento foi feito pelo governo de Bashar Al-Assad e que não ficarão de braços cruzados em relação à esse crime. Já o governo sírio garante que não ficará quieto perante um ataque, e ameaça inclusive envolver outros países da região na guerra, caso os EUA ataquem. A possibilidade de um confronto já elevou fortemente os preços do ouro – considerado um investimento “seguro” em tempos turbulentos – e do petróleo – mesmo a Síria não exportando grandes quantidades da commoditie, uma crise no Oriente Médio pode elevar os preços, além da guerra em si – disparando na semana passada. 

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Emergentes com problemas
Já para os países emergentes, Roubini destaca que os mercados tem passado por período turbulento, com depreciação de suas moedas e sendo duramente afetados pela economia mundial, com o fim do “super-ciclo” de commodities metálicas e a possível menor oferta de dólares pressionando ainda mais o câmbio.

Além disso, o economista comenta que a alta inflação e o baixo crescimento também atingem fortemente países como Brasil, Turquia, África do Sul e Indonésia, além do aumento dos protestos sociais nestes países e das eleições previstas até os próximos 18 meses em todos esses lugares.

Para esses países, Roubini alerta que não há escolhas fáceis: conter a valorização do dólar com maiores taxas de juros combateria o problema no câmbio, mas acabaria com o crescimento, prejudicaria o consumo e bancos. Já medidas de política monetária pode aumentar ainda mais a taxa de câmbio, com uma disparada ainda maior da inflação e menores investimentos externos.

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Questões políticas ganham força na Europa
Já na Europa, questões políticas ganham espaço, com as eleições na Alemanha em setembro, impasses políticos na Itália e problemas na Grécia, Portugal e Espanha, os últimos três duramente afetados pela crise na zona do euro.

Pesquisas preliminares apontam que as eleições alemãs devem seguir o tom atual, com o governo de Angela Merkel ganhando popularidade, apesar de indicar manutenção nas políticas sobre a crise na zona do euro, apesar da austeridade já prolongada.

Ainda entre os riscos políticos, o governo italiano pode entrar em colapso caso Silvio Berlusconi, ex-premiê do país envolvido em diversos questões controversas cumpra com sua ameaça de derrubar o primeiro-ministro Enrico Letta. Além da Itália, a coalizão que governa a Grécia também pode entrar em colapso, com o país necessitando de mais resgate de seus credores internacionais, enquanto os governos português e espanhol também enfrentam tensões políticas.

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Já nas questões de política monetária, as incertezas sobre mais alívio por parte do BCE (Banco Central Europeu) pesam na zona do euro, com Roubini dizendo que a previsão de manter a taxa de juros local em seu menor valor histórico por um longo tempo foi dita muito tarde pelo BCE. Segundo o economista, a previsão futura, incomum na Europa, foi pequena e não preveniu uma alta nos títulos públicos, que pode ameaçar a fraca recuperação do bloco econômico. O mesmo caminho foi tomado pelo Bank of England, fora da zona do euro.

Ásia também conta com incertezas
No continente asiático, as incertezas também tomam conta do cenário para os próximos meses, com preocupações sobre quando a terceira e última ação do governo japonês – conhecidas como Abenomics – para tirar o país da deflação crônica que apresenta será tomada, com reformas estruturais e impulso para potencial crescimento.

Na China, um comitê do partido comunista será realizado em novembro, e deve mostrar os rumos da economia do país e seu comprometimento com as reformas necessárias para mudar o driver de crescimento chinês para o lado do consumo – hoje, o avanço do país provém de investimentos.

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